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24/05/2003
-
04h52
Enviada especial da Folha de S.Paulo a Cannes
Como um hábito nesse 56º Festival de Cannes, os valores da sociedade norte-americana foram ontem (novamente) a julgamento. Dessa vez, levados por um de seus símbolos.
Clint Eastwood exibiu na disputa pela Palma de Ouro um filme ("Mystic River"/Rio Mystic) em que a união familiar está a serviço da vilania; integrantes da igreja e da polícia cometem os piores crimes e os suspeitos são culpados, até prova em contrário.
Baseado em livro de Dennis Lehane e filmado em Boston, cidade atravessada pelo Mystic River do título, o longa começa com o sequestro e o abuso sexual de um garoto, que brincava com dois amigos em seu bairro.
Um salto temporal flagrará o trio já quarentão em sua vida cotidiana, que será novamente sacudida por um crime... e outro.
O cineasta disse que seu ponto de partida foi "a curiosidade de saber como o abuso infantil, um dos crimes mais odiosos do planeta, afeta a vida das pessoas".
No filme, o sobrevivente da experiência é interpretado por Tim Robbins. Sean Penn e Kevin Bacon vivem os amigos.
Eastwood evita o tema do antiamericanismo. "Sempre acreditei na liberdade de expressão, como deve ser a regra nos países democráticos. Não sei o que [esse tema] teria a ver com meu filme."
Em questões cinematográficas, foi irônico. "Como nosso orçamento era pequeno, pude me dedicar ao filme e não tive de me concentrar no aspecto financeiro. Afinal, não estávamos fazendo o "Mystic River Reloaded'", afirmou, numa citação ao multimilionário "Matrix Reloaded".
Disse que uma das primeiras sugestões que ouviu de produtores foi para filmar no Canadá [onde incentivos fiscais possibilitam economia nas produções].
"Mas teríamos de ir ao Canadá manipular tudo para que parecesse Boston." Sentado ao lado do diretor, Robbins disse: "Agradecemos Clint por isso [haver filmado nos Estados Unidos]".
Um jornalista quis saber se o final aberto de "Mystic River" é também privilégio do renomado Eastwood e se estúdios norte-americanos dariam a jovens diretores a chance de fazer filmes com desfechos não-conclusivos.
O cineasta disse que vários estúdios recusaram seu projeto e que um executivo lhe perguntou o que significa a cena final de "Mystic River", em que o personagem de Bacon faz um gesto na direção do de Penn. "Falei: é o que você tiver pensado. Esta é a sua participação no filme."
Eastwood já presidiu um júri em Cannes. Foi indagado se o conhecimento dos bastidores do festival muda a forma de encarar a disputa pela Palma. Deu uma resposta que vai além da pergunta: "Quando termino um filme, ele já não me pertence".
E o velho cowboy encerrou a conversa com um bordão: "É ótimo estar em Cannes".
Especial
Saiba mais sobre a 56º edição do Festival de Cannes
Clint Eastwood leva valores dos EUA a julgamento
SILVANA ARANTESEnviada especial da Folha de S.Paulo a Cannes
Como um hábito nesse 56º Festival de Cannes, os valores da sociedade norte-americana foram ontem (novamente) a julgamento. Dessa vez, levados por um de seus símbolos.
Clint Eastwood exibiu na disputa pela Palma de Ouro um filme ("Mystic River"/Rio Mystic) em que a união familiar está a serviço da vilania; integrantes da igreja e da polícia cometem os piores crimes e os suspeitos são culpados, até prova em contrário.
Baseado em livro de Dennis Lehane e filmado em Boston, cidade atravessada pelo Mystic River do título, o longa começa com o sequestro e o abuso sexual de um garoto, que brincava com dois amigos em seu bairro.
Um salto temporal flagrará o trio já quarentão em sua vida cotidiana, que será novamente sacudida por um crime... e outro.
O cineasta disse que seu ponto de partida foi "a curiosidade de saber como o abuso infantil, um dos crimes mais odiosos do planeta, afeta a vida das pessoas".
No filme, o sobrevivente da experiência é interpretado por Tim Robbins. Sean Penn e Kevin Bacon vivem os amigos.
Eastwood evita o tema do antiamericanismo. "Sempre acreditei na liberdade de expressão, como deve ser a regra nos países democráticos. Não sei o que [esse tema] teria a ver com meu filme."
Em questões cinematográficas, foi irônico. "Como nosso orçamento era pequeno, pude me dedicar ao filme e não tive de me concentrar no aspecto financeiro. Afinal, não estávamos fazendo o "Mystic River Reloaded'", afirmou, numa citação ao multimilionário "Matrix Reloaded".
Disse que uma das primeiras sugestões que ouviu de produtores foi para filmar no Canadá [onde incentivos fiscais possibilitam economia nas produções].
"Mas teríamos de ir ao Canadá manipular tudo para que parecesse Boston." Sentado ao lado do diretor, Robbins disse: "Agradecemos Clint por isso [haver filmado nos Estados Unidos]".
Um jornalista quis saber se o final aberto de "Mystic River" é também privilégio do renomado Eastwood e se estúdios norte-americanos dariam a jovens diretores a chance de fazer filmes com desfechos não-conclusivos.
O cineasta disse que vários estúdios recusaram seu projeto e que um executivo lhe perguntou o que significa a cena final de "Mystic River", em que o personagem de Bacon faz um gesto na direção do de Penn. "Falei: é o que você tiver pensado. Esta é a sua participação no filme."
Eastwood já presidiu um júri em Cannes. Foi indagado se o conhecimento dos bastidores do festival muda a forma de encarar a disputa pela Palma. Deu uma resposta que vai além da pergunta: "Quando termino um filme, ele já não me pertence".
E o velho cowboy encerrou a conversa com um bordão: "É ótimo estar em Cannes".
Especial
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