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26/05/2003 - 02h47

Crítica sutil aos EUA recebe dupla premiação em Cannes

SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo, em Cannes

"Elephant" -filme do norte-americano Gus van Sant, 50, sobre o episódio do assassinato de 13 pessoas por dois estudantes numa escola no Colorado, em 1999- recebeu ontem a Palma de Ouro e o prêmio de melhor direção no 56º Festival de Cannes.

O brasileiro "Carandiru", de Hector Babenco, e o dinamarquês "Dogville", de Lars von Trier (a grande sensação do festival), foram inteiramente ignorados pelo júri presidido pelo cineasta francês Patrice Chéreau.

Ao atribuir a dupla premiação a "Elephant", o festival quebrou uma regra de seu regulamento. Desde 91, quando "Barton Fink" acumulou a Palma de Ouro e os prêmios de direção (Joel e Ethan Coen) e ator (John Turturro), ficou estipulado que um mesmo filme poderia ganhar no máximo dois prêmios principais, sendo que um deveria ser de interpretação (melhor ator ou atriz).

"Agradeço mil vezes a Gilles Jacob [presidente do Festival de Cannes] por nos haver autorizado essa pequena violação", disse Chéreau. Ao receber a Palma de Ouro das mãos da atriz Isabelle Huppert, Van Sant agradeceu brevemente e terminou com um "Vive la France!" (Viva a França!).

"Elephant" --que tem esse nome em homenagem ao filme homônimo de Alan Clarke sobre a violência religiosa na Irlanda do Norte-- é, segundo o diretor, "um comentário sobre as relações humanas e sua interação com estruturas sociais, como a escola".

Van Sant conduz o espectador durante boa parte do filme a um passeio pelos corredores de uma escola qualquer, num dia qualquer. Em longos planos-sequências [cenas filmadas sem desligar a câmera], acompanha-se ora um ora outro estudante, em suas conversas e preocupações banais.

Quando a câmera sai da escola, é para registrar a (banal) preparação do massacre. Na volta ao território escolar, dá-se a matança.

Embora fique óbvia, Van Sant evita a referência específica ao colégio do
Colorado e assume postura mais demonstrativa que explicativa quanto à explosão da violência juvenil. Seu "comentário" é uma crítica sutil.

Ausente dos prêmios, o cineasta Hector Babenco não compareceu à cerimônia de gala de encerramento do festival. O escritor Paulo Coelho foi presença destacada na subida do tapete vermelho do teatro Lumière.

A atriz italiana Monica Bellucci conduziu a festa. Chamou ao palco, para entregar troféus, o cantor Sting e atrizes como Ornella Muti, Liz Hurley e Jeanne Moreau.

Convidado a entregar o prêmio para a melhor atriz, o ator Philippe Noiret divertiu a platéia com um discurso sobre a fugacidade do glamour dos festivais, a desimportância dos prêmios e a delícia da vida fútil dos atores.

O ator Mehmet Emim Toprak, premiado, morreu num acidente de carro dois dias após a exibição de seu filme, "Uzak", em Cannes. Toprak era primo do diretor Nuri Bilge Ceylan e participou de todos os seus filmes. A atriz de "Uzak", Ebru Ceylan, recebeu o prêmio.

Terminada a premiação, o canadense Denys Arcand alfinetou o júri, dizendo que não tinha expectativa de vencer a Palma de Ouro. "Os festivais não costumam premiar filmes que tenham elementos de comédia. Acho que, quando as pessoas são convidadas para um júri, elas levam esse trabalho muito a sério."

A iraniana Samira Makhmalbaf criticou o presidente dos EUA ao receber o Prêmio do Júri por "Panj É Asr". "Meu filme é sobre uma mulher que quer ser presidente da república. Pessoalmente, não tenho esse desejo, porque me lembro de que o homem mais famoso nesse posto é George W. Bush. Prefiro seguir cineasta."

Especial
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