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01/06/2003
-
02h34
CRISTINA RIGITANO
da Folha de S.Paulo
A audiência de "Mulheres Apaixonadas", novela das oito da Globo que tem dado picos de 50 pontos, comprova o que o cineasta espanhol Pedro Almodóvar já sabia: dramas femininos dão ibope (cada ponto equivale a 48,5 mil domicílios na Grande São Paulo).
Se Almodóvar ganhou o Oscar com o tragicômico "Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos" (1988), Manoel Carlos -já consagrado como novelista- optou pela seriedade, afinal escreve uma novela para o horário nobre. Muda o enfoque, mas a essência é a mesma. E o público, nos dois casos, aprova o caos.
Na opinião da psicanalista carioca Eny Lacerda, o sucesso se deve à identificação dos telespectadores. "O público faz terapia através da TV", diz ela. "A partir dos problemas dos personagens, as pessoas se dão conta dos próprios problemas, e isso é válido. Tenho muitos pacientes que falam da novela nas sessões", afirma.
Segundo Manoel Carlos, que buscou inspiração em casos reais para escrever a história, os grupos de discussão montados pela Globo para identificar a opinião dos telespectadores não detectaram rejeição a nenhum dos personagens.
Interpretando Heloísa, uma ciumenta patológica, Giulia Gam atesta a aceitação e diz receber muitas cartas. "Estamos atingindo o âmago das pessoas, que se identificam. A novela é um espelho", diz.
Divorciada, a dona-de-casa Maria Alice Martins, 52, se identifica com Helena (Christiane Torloni), que deu fim a um casamento insosso. "Consigo sentir o que ela sente. A vida real é assim mesmo. A Raquel [Helena Ranaldi] é que não corresponde à realidade", diz, referindo-se à mulher independente financeiramente que apanha do marido.
"Ela se submete por medo ou é masoquista?", questiona a professora de dramaturgia da USP, Renata Pallottini.
No mesmo caminho de "O Clone", "Mulheres Apaixonadas" também comove ao chamar a atenção para a dependência química e ao apontar uma luz no fim do túnel. "As pessoas vêm me falar sobre a importância do nosso trabalho de conscientização a respeito do alcoolismo de mulheres na menopausa", diz Vera Holtz, que interpreta a alcoólatra Santana. "Os "Alcoólicos Anônimos" sempre me ligam para comentar e dar dicas."
Mas nem tudo é elogio. Pallottini aponta algumas falhas. "A Vidinha [Julia Almeida] aparece muito e não tem função. E a Lorena [Susana Vieira] virou porta-voz do autor e dá lições de moral em quase todos os capítulos. Está ficando chata", diz ela.
Diversidade
Farta em personagens -marcas do autor-, o que não falta ao enredo de "Mulheres Apaixonadas" é assunto. As idéias não são novas. Segundo Carlos, antecedem outro sucesso, "Laços de Família" (2000), que também primou pelos conflitos femininos.
"Montei um painel, reunindo mulheres às voltas com seus problemas sentimentais. O critério para a escolha dos temas baseou-se no testemunho que tenho de todos os casos", diz ele.
As atrizes adoraram. Lavínia Vlasak, por exemplo, no papel da ricaça Estela, que, além de ter a cabeça nas nuvens, quer porque quer o amor de um padre (atraente, lógico), diz que a trama tem assunto suficiente para escrever "todas as novelas do mundo". "O problema das novelas é que elas são sempre aquele lengalenga. Esta, não: tem várias coisas acontecendo", afirma.
Renata Pallottini também gostou do resultado. "Não acho que sejam muitas tramas. O que acontece é que todas giram em torno da figura feminina."
E bota trama nisso: de neta desnaturada a madame de olho no namorado da empregada, há quem balance entre o amor e a virgindade, entre a solidão e o marido violento, entre a insatisfação e o medo da liberdade. Parte da audiência pode até achar exagero, mas fica firme.
"O autor está exagerando. Mulher equilibrada, ali, tá difícil", diz o analista de sistemas Cristiano Cruz, 27, que assiste à novela diariamente. "O título deveria ser "Mulheres Problemáticas'", sugere.
Helena Ranaldi responde: "A história é totalmente voltada à ótica feminina. Não acho que elas sejam problemáticas".
Já o bancário Caio Rodrigo, 26, concorda "plenamente" com o autor. "A realidade é aquilo lá, e até pior. As mulheres são complicadas e pegajosas mesmo."
No centro da discussão, Manoel Carlos sentencia: "As mulheres são maravilhosamente complicadas". Ao que Lavínia Vlasak rebate: "Queria ver se homem tivesse TPM!".
Manoel Carlos reúne os mais variados dramas femininos e garante o ibope
FERNANDA DANNEMANNCRISTINA RIGITANO
da Folha de S.Paulo
A audiência de "Mulheres Apaixonadas", novela das oito da Globo que tem dado picos de 50 pontos, comprova o que o cineasta espanhol Pedro Almodóvar já sabia: dramas femininos dão ibope (cada ponto equivale a 48,5 mil domicílios na Grande São Paulo).
Se Almodóvar ganhou o Oscar com o tragicômico "Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos" (1988), Manoel Carlos -já consagrado como novelista- optou pela seriedade, afinal escreve uma novela para o horário nobre. Muda o enfoque, mas a essência é a mesma. E o público, nos dois casos, aprova o caos.
Na opinião da psicanalista carioca Eny Lacerda, o sucesso se deve à identificação dos telespectadores. "O público faz terapia através da TV", diz ela. "A partir dos problemas dos personagens, as pessoas se dão conta dos próprios problemas, e isso é válido. Tenho muitos pacientes que falam da novela nas sessões", afirma.
Segundo Manoel Carlos, que buscou inspiração em casos reais para escrever a história, os grupos de discussão montados pela Globo para identificar a opinião dos telespectadores não detectaram rejeição a nenhum dos personagens.
Interpretando Heloísa, uma ciumenta patológica, Giulia Gam atesta a aceitação e diz receber muitas cartas. "Estamos atingindo o âmago das pessoas, que se identificam. A novela é um espelho", diz.
Divorciada, a dona-de-casa Maria Alice Martins, 52, se identifica com Helena (Christiane Torloni), que deu fim a um casamento insosso. "Consigo sentir o que ela sente. A vida real é assim mesmo. A Raquel [Helena Ranaldi] é que não corresponde à realidade", diz, referindo-se à mulher independente financeiramente que apanha do marido.
"Ela se submete por medo ou é masoquista?", questiona a professora de dramaturgia da USP, Renata Pallottini.
No mesmo caminho de "O Clone", "Mulheres Apaixonadas" também comove ao chamar a atenção para a dependência química e ao apontar uma luz no fim do túnel. "As pessoas vêm me falar sobre a importância do nosso trabalho de conscientização a respeito do alcoolismo de mulheres na menopausa", diz Vera Holtz, que interpreta a alcoólatra Santana. "Os "Alcoólicos Anônimos" sempre me ligam para comentar e dar dicas."
Mas nem tudo é elogio. Pallottini aponta algumas falhas. "A Vidinha [Julia Almeida] aparece muito e não tem função. E a Lorena [Susana Vieira] virou porta-voz do autor e dá lições de moral em quase todos os capítulos. Está ficando chata", diz ela.
Diversidade
Farta em personagens -marcas do autor-, o que não falta ao enredo de "Mulheres Apaixonadas" é assunto. As idéias não são novas. Segundo Carlos, antecedem outro sucesso, "Laços de Família" (2000), que também primou pelos conflitos femininos.
"Montei um painel, reunindo mulheres às voltas com seus problemas sentimentais. O critério para a escolha dos temas baseou-se no testemunho que tenho de todos os casos", diz ele.
As atrizes adoraram. Lavínia Vlasak, por exemplo, no papel da ricaça Estela, que, além de ter a cabeça nas nuvens, quer porque quer o amor de um padre (atraente, lógico), diz que a trama tem assunto suficiente para escrever "todas as novelas do mundo". "O problema das novelas é que elas são sempre aquele lengalenga. Esta, não: tem várias coisas acontecendo", afirma.
Renata Pallottini também gostou do resultado. "Não acho que sejam muitas tramas. O que acontece é que todas giram em torno da figura feminina."
E bota trama nisso: de neta desnaturada a madame de olho no namorado da empregada, há quem balance entre o amor e a virgindade, entre a solidão e o marido violento, entre a insatisfação e o medo da liberdade. Parte da audiência pode até achar exagero, mas fica firme.
"O autor está exagerando. Mulher equilibrada, ali, tá difícil", diz o analista de sistemas Cristiano Cruz, 27, que assiste à novela diariamente. "O título deveria ser "Mulheres Problemáticas'", sugere.
Helena Ranaldi responde: "A história é totalmente voltada à ótica feminina. Não acho que elas sejam problemáticas".
Já o bancário Caio Rodrigo, 26, concorda "plenamente" com o autor. "A realidade é aquilo lá, e até pior. As mulheres são complicadas e pegajosas mesmo."
No centro da discussão, Manoel Carlos sentencia: "As mulheres são maravilhosamente complicadas". Ao que Lavínia Vlasak rebate: "Queria ver se homem tivesse TPM!".
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