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04/06/2003 - 07h03

Parada gay cresce e ganha versão politizada

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

A Parada do Orgulho Gay de São Paulo chegará à sua sétima edição no próximo dia 22 crescida -e politizada. O tema "Construindo Políticas Homossexuais" norteará as discussões, que na versão 2003 ocuparão todo o mês de junho.

Começa hoje uma intensa programação cultural, que inclui, entre outros lances, a mostra "O Homoerotismo no Cinema Brasileiro", uma agenda de shows com Chico César, Textículos de Mary e outros, ciclo de leituras de peças de jovens dramaturgos, exposições de artes plásticas e fotografia.

Tais eventos e uma programação de debates sobre políticas homossexuais se somam, neste ano, às já habituais comemorações da parada e do "Gay Day" no parque de diversões Hopi Hari.

O investimento estimado pela Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (APOGLBT) é de R$ 650 mil. Fato novo, R$ 300 mil desse orçamento virão de patrocínios da Volkswagen e da agência de publicidade Almap.

Os eventos do "mês do orgulho gay" contam ainda com apoio institucional da Prefeitura de São Paulo e dos ministérios da Saúde e da Cultura. A APOGLBT afirma que convidará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar da parada.

Para o coordenador de educação, cultura e eventos da associação, Renato Baldin, a conquista de patrocínios pode significar uma quebra de tabu, mas ainda parcial. "Ainda existe um tabu muito grande, o preconceito ainda supera iniciativas como essa", diz.

A guinada rumo à politização é menos intensa do que parece, afirma Baldin. "O tom de festa é dado mais pela mídia e pelas pessoas. O tema deste ano casa com o que a associação vem pretendendo desde a primeira parada."

Ele completa: "Todo tipo de evento é político, sempre, e a política não precisa ser necessariamente chata. Ela pode estar relacionada com o orgulho, com os direitos humanos, com o ganho de auto-estima que a parada significa para muitas pessoas".

Militante histórico ds direitos homossexuais no Brasil, o escritor João Silvério Trevisan cita o amadurecimento do movimento nos últimos anos, com ápice na reunião de 500 mil pessoas na parada paulistana de 2002. E defende a inserção de linguagem política esboçada neste ano.

"Por incrível que pareça, ainda é nova no Brasil a idéia de que precisamos de políticas homossexuais, tanto quanto existem políticas de mulheres, de negros, de adolescente, de índios etc.", diz.

Na mesma direção, Baldin critica a situação ainda vigente: "Ainda nos falta o olhar político, dos governantes, para a questão homossexual. Ainda faltam ao Brasil mecanismos legais para promover a igualdade a esses cidadãos".

Mencionando o ciclo de debates (que começa na próxima segunda, na biblioteca Mário de Andrade) e o show do grupo punk-gay pernambucano Textículos de Mary como destaques da programação, Trevisan estabelece uma ponte entre o mês do orgulho gay e a história da arte em São Paulo.

Refere-se à entrega, no domingo passado, no Teatro Municipal, do prêmio Cidadania pela Diversidade, instituído pela APOGLBT.

"No mesmo local onde ocorreu a transgressiva Semana de Arte Moderna, em 1922, foi delicioso ver, ao lado da população homossexual mais comportada, um espetáculo de bom humor e subversão, com fadinhas, drag queens vestidas à moda do século 18, travestis e dragões", descreve.

Baldin afirma que o foco político não colocará a perigo o caráter festivo da parada. "Ela é muito rápida, mas seus efeitos não se realizam num dia. É um evento de visibilidade instantânea e de auto-estima, que pode fazer com que as pessoas estendam a militância daquele dia às suas próprias vidas."
 

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