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10/06/2003 - 03h35

"A histeria do público brasileiro foi assustadora", diz Smith

LÚCIO RIBEIRO
Colunista da Folha de S.Paulo

Leia a seguir a entrevista que Robert Smith, do Cure, concedeu à Folha.

Folha - Como está seu cabelo neste momento? "Armado" para cima?
Robert Smith -
Sim, está. Ele sempre está do mesmo jeito, armado para cima. Depois de anos, ele já fica assim sozinho.

Folha - Qual é a idéia por trás deste DVD "Trilogy"? Por que esses três discos em particular?
Smith -
Há duas razões principais para esse DVD ter surgido. Já faz nove anos que o Cure vem mantendo essa atual formação e nunca gravamos nada ao vivo nem tampouco filmamos alguns de nossos shows. O outro motivo é que, pessoalmente, considero os álbuns "Pornography", "Disintegration" e "Bloodflowers" interligados de certa forma. Eles são amarrados de modo bem especial no clima das canções e na densidade das letras de uma maneira única em todos esses anos do Cure. Se fosse para fazer uma análise dos 25 anos da carreira da banda, diria que esses três discos em particular são os que estão mais fortes na minha memória. E, para que eles fiquem fortes nas memórias das pessoas, resolvi botá-los em filme.

Folha - Depois desse lançamento revisionista, o que se pode esperar do Cure no futuro?
Smith -
Acabamos de assinar contrato com uma nova gravadora e entregamos a produção do próximo disco do Cure para o Ross Robinson, um americano famoso por produzir discos para o Korn, Slipknot, Amen e At the Drive-In. Sim, eu sou fã de nu-metal [risos]. Entre as razões para trabalharmos com Ross, estão o fato de ele ser fã de longa data do Cure e porque achei que seria interessante um cara como ele mexer no som do Cure. Que as pessoas não se espantem se o próximo disco sair quase... nu-metal.

Folha - Após mais de 20 anos, o que você vê quando lembra os tempos do pós-punk no final dos 70/começo dos 80, tocando com Siouxsie & the Banshees e formando o Cure?
Smith -
Eu me sinto um sujeito bem diferente daquele Robert Smith, apesar do cabelo igual. Mas a essência, eu acho, continua a mesma.

Folha - Como as canções marcantes do passado do Cure mudaram para você com o passar dos anos?
Smith -
Hoje me sinto menos ligado às canções do começo da minha carreira. Parece que antes do "Disintegration" (89) eu vivi uma outra vida. Talvez porque até esse disco eu era muito jovem. Quando ouço as músicas dos discos anteriores, com exceção um pouco das do "Pornography" (82), quase não entendo sobre o que cantava.

Folha - Você ainda tem fascinação pela temática gótica, da melancolia, da escuridão? Acha que isso ainda faz sentido no pop?
Smith -
Não acho que o Cure alguma vez chegou a prestar atenção na cultura pop. Nós criamos nosso próprio mundo. Às vezes você cria uma música em um dia ensolarado, mas isso não quer dizer que, por dentro, você não sinta que esteja chovendo sem parar. O que o Cure fez de melhor em todos esses anos foi tocar músicas emocionais com uma forte carga atmosférica, pendendo para o melancólico, que é como eu sempre me senti mesmo nos mais ensolarados dos dias. Ainda hoje me pego gostando mais de músicas do tipo que as pessoas costumam consideram "dark". Eu não ouço Strauss.

Folha - Você gosta da música pop produzida hoje na Inglaterra?
Smith -
Gosto de algumas coisas. Tem sempre pessoas fazendo músicas interessantes. Mas o pop do Reino Unido hoje está bastante diversificado, diluído. Faz tempo que não aparece por aqui algo com cara de movimento. Há pessoas que tentam fabricar uma tendência, um movimento, como fizeram com o britpop no passado. Mas existe hoje muitos estilos diferentes dentro do que é chamado aqui de música pop. Aí fica difícil amarrar isso em um pacote para vender.

Folha - Você conhece uma banda canadense chamada Hot Hot Heat, que está fazendo certo sucesso em Londres agora? O vocalista do HHH canta muito parecido com o jeito que você cantava nos anos 80, não acha?
Smith -
Eu conheço a banda. É realmente parecido. Não sei o que acontece, mas há agora um número grande de grupos que mencionam o Cure de alguma forma, seja no jeito de cantar, seja em inspiração. Eu me sinto lisonjeado. Recentemente conversei com aquela menina do grupo americano Yeah Yeah Yeahs, a Karen O., e ela disse que o Cure inspirava muito a banda dela. Sinto-me honrado, porque a banda dela é muito boa.

Folha - O que você lembra dos dois shows que o Cure fez no Brasil, um em 1987 e outro em 1996?
Smith -
Quando tocamos aí em 1987 foi uma histeria para a qual eu não estava preparado, por mais que nossas músicas fizessem sucesso. Diria que foi assustador até. Não me lembro direito dos dois shows, mas recordo que a atenção criada em torno da presença do Cure no Brasil, nas duas vezes, foi muito intensa. Eu me senti bem esquisito por causa disso. Satisfeito por um lado. Mas me perguntando por que pessoas de um país tão alegre gostavam tanto de músicas melancólicas e de vestir preto como um cara como eu.

Estava marcado para irmos ao Brasil em 2000 com a turnê do "Bloodflowers", mas acabou não dando certo. Mas nós iremos tocar o disco novo na América do Sul no ano que vem, isso já está planejado.
 

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