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15/06/2003 - 09h35

Band premia e deixa garoto à espera de doações

FERNANDA DANNEMANN
da Folha de S. Paulo

Passados 42 dias desde a sua participação no "Hora da Verdade", da Band, Alan Ferreira, 10, que ajuda a sustentar a família catando papéis em Sumaré, a 120 km de São Paulo, ainda espera pela maior parte das doações prometidas por Márcia Goldschmidt, apresentadora do programa.

"Escutei na rádio que a Márcia procurava uma criança que catasse papelão na rua e fui lá sem falar com a minha mãe", diz ele.

Depois de duas tardes na emissora, o garoto --que sonha ser médico-- teve sua história contada na TV, no dia 1º de maio, e se emocionou quando viu a arara de roupas e as caixas com o logotipo de supermercado que foram mostradas como doação. "A Merejak está oferecendo algumas roupas para você e seus irmãos, e os supermercados Futurama oferecem cestas básicas para a família por um ano", disse Goldschmidt.

"Trouxeram a gente para casa e disseram que iam trazer as coisas", afirma Adriana Ferreira, 27, mãe do menino. "Mas só no dia 6 de junho trouxeram três caixinhas com três quilos de arroz, um de açúcar, um de feijão, duas latas de óleo, um pacotinho de leite em pó, uma lata de achocolatado e dois pacotes de bolachas. Falaram que as roupas vêm pelo correio."

Regiane Rodrigues, 21, tia de Alan, se queixa das imagens exibidas na reportagem. "Deviam ter mostrado a realidade. Tinha um prato para lavar, na pia, e eles falaram que aquilo era nossa comida. Apareceu abelha numa caneca e disseram que era mosca. Usaram a imagem do menino e ganharam ibope. E agora?", pergunta.

Outra queixa de Regiane é quanto ao emprego que Goldschmidt disse que tentaria arranjar, para Adriana, com o prefeito de Sumaré. "Ela falou isso no ar, mas ninguém da prefeitura ou do programa procurou a gente".

Afirmando ter ficado mais de um mês sem satisfações da emissora, a família diz acreditar que as três caixas só foram recebidas em 6 de junho -36 dias depois da participação no programa- devido aos insistentes telefonemas do telespectador Márcio Nogueira, 24, que procurou o garoto 11 dias após a reportagem.

Surpreso ao saber que as doações não haviam sido entregues, Nogueira, em seus insistentes telefonemas à emissora, foi informado de que os fornecedores é que fazem as entregas. "Acho que aquelas coisas apareceram no palco só para serem mostradas", diz Adriana, referindo-se às roupas e às caixas de alimentos.

Descrente, a família de Alan diz não acreditar em nada. "O Fome Zero fez cadastro no mês passado, mas não tenho esperança de ser incluída. Em política não dá pra confiar", diz Regiane.

"Na TV também não acredito. Na hora do programa [o "Hora da Verdade"], a gente estava sempre lá. Como eles podem fazer aquilo? Prometem ali na frente e, depois, como ficam as pessoas para quem eles prometeram? Continua a mesma coisa", diz ela.

Adriana, mãe de Alan, diz que valeu a pena porque o menino realizou o sonho de conhecer um estúdio de TV. Ao que ele desmente: "O que eu mais gostei foi da comida, porque já não tinha mais arroz aqui em casa".

Outro lado

Procurada pela Folha, a Band afirmou que, nas cestas enviadas a Alan Ferreira, havia também extrato de tomate, macarrão, sal, café e fubá. Ainda assim, elas são bem menores que as elaboradas pelo Procon e pelo Dieese, que estabelecem 31 itens, inclusive de higiene.
Roberto Dias, gerente do Futurama, esclarece que as doações ficam à disposição. "Não sei o motivo do atraso", diz.

A emissora também afirma ter mandado à Merejak as medidas para as roupas de Alan. E diz que "somente faz a intermediação entre doador e beneficiado, dependendo do cronograma dos fornecedores". De acordo com a Merejak, sua localização, no Sul do país, dificulta a doação, e a mercadoria foi extraviada; mas a entrega de dez a 15 peças será em dez dias.

A emissora também diz que procurou a Prefeitura de Sumaré e foi informada sobre uma frente de trabalho com vagas oferecidas por empresas regionais, e que orientou a família a procurá-la.

"Eu acho que não ligaram. E, se ligaram, não procuraram saber com quem falavam; uma coisa é falar com a recepcionista; outra, é com o secretário de ação social", afirma o prefeito, Antônio Dirceu Dalben, dizendo que a frente de trabalho é mantida pela prefeitura.
 

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