Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
19/06/2003 - 06h00

Cantor mostra que tem muito a dizer, muita ansiedade ao dizer

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Enviado da Folha de S.Paulo a Salvador

A questão é que ele é uma metralhadora giratória, um trator desgovernado, uma usina nuclear de música. Mais uma vez, Carlinhos Brown quer mostrar tudo ao mesmo tempo, mesmo que isso implique prejuízo de compreensão, em falta de foco.

O projeto Tribalistas demonstrou a quem quis ouvir que há um doce e equilibrado intérprete escondido atrás de Brown. Esse diz presente em "Carlito Marrón", especialmente em momentos mais tranquilos como os de "I Wanna Lu" e "Alá A A".

Como esses mesmos títulos indicam, as letras continuam caóticas, herméticas, exclusivamente sonoras. OK, é o modo de expressão de Brown, já se sabe. Mas roubam atenção do bom intérprete que por vezes soterram.

Algo análogo pode se dizer do músico. "Carlito Marrón" é riquíssimo de sonoridades, quase sempre centradas com propriedade (e sem apelação) no tal princípio de "afrolatinidade".

Às vezes Carlito até vai além, como no ponto alto que é "My Honey", zombeteira "tecnotimbalada". Mas frequentemente as referências resultam amontoadas, se não sabotadas pela necessidade ansiosa de citar "tudo".

Há muito detalhe saboroso abafado sob a poeira do estardalhaço --órgãos cafonas de iê-iê-iê, vocalise robotizado (na doce "Talavera"), Bebel Gilberto fingindo-se de cantora trovejante de axé, mil e uma interferências hispânicas.

A tese é de arromba: a ligação África-Caribe-Espanha-América Latina é um bem cultural que o Brasil domina com dinamismo, como há muito preconizavam, tateando, os tropicalistas. O dilema de Brown, o já conhecido: como comunicar isso tudo a um país grande que está longe de ser só Bahia?

Avaliação:

Carlito Marrón
Artista: Carlinhos Brown
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 28, em média
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página