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23/06/2003 - 05h28

Com 53 anos de carreira, Inezita Barroso extrapola o "caipira"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

"Hoje Lembrando" é um disco creditado a Inezita Barroso; mas, como define a própria cantora de 78 anos de vida e 53 de carreira profissional, é mais o resultado de um conselho de três artistas.

Estiveram com ela durante o processo de concepção e decisões o arranjador Théo de Barros, 60, histórico co-autor de "Disparada" (66), de Geraldo Vandré, e o produtor musical Fernando Faro, 66.

"Partimos de muitas canções para fazer a seleção final, e tudo foi decidido em reuniões entre nós três. Discutimos música por música, e Théo fez arranjos novos para as canções que eu já havia gravado", conta.

Defensora principal da dita música caipira de raiz, Inezita optou por recriar temas que já havia cantado em dez das 13 faixas. Diz que o fez porque praticamente toda sua volumosa obra está há muito tempo fora de catálogo.

Na seleção, o colegiado ampliou o leque do que poderia ser rotulado como "caipira". Excluiu os maiores emblemas de Inezita --"Moda da Pinga" e "Lampião de Gás"-- e elegeu temas semi-eruditos de Heitor Villa-Lobos e Waldemar Henrique e até "Ismália", poema do simbolista Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) mais tarde musicado pelo pai do frevo, Capiba.

Entre as três que Inezita grava pela primeira vez, há a surpresa do aparecimento de duas inéditas do compositor e zoólogo Paulo Vanzolini, autor do clássico "Ronda" e amigo da cantora desde a juventude de ambos.

" 'Ronda' foi reformada e alinhada na minha casa. Nessa mesma época, Paulo declamou as letras desses dois sambas. A gente gravava algumas daquelas sessões em um gravadorzinho de fio de aço", lembra. Voltou a essas fitas recentemente, quando foi participar de songbook de Vanzolini.

"Avisei ao Paulo que havia encontrado duas inéditas, mas ele não acreditou. Falou que não lembrava. Mas é o estilo dele, inconfundível", afirma, com a autoridade da pesquisadora de folclore e música popular que também é.

A vertente da pesquisa é uma das que hoje une Inezita a Fernando Faro. Nunca haviam feito um disco juntos, embora sejam colegas na TV Cultura, onde ele produz o programa de entrevistas musicais "Ensaio" e ela apresenta "Viola, Minha Viola".

Sobre a atual crise na TV Cultura, Inezita afirma que seu programa não foi afetado. "Desde o segundo dia em que pisei lá, há 23 anos, me dizem que não há dinheiro e que o programa vai acabar. Ele está mais pobre, as câmeras estão meio velhinhas. Mas não vai acabar."

O que não escapou de acabar foi o restaurante Parreirinha, onde Inezita possuía mesa cativa sempre reservada a ela e onde podia ser encontrada regularmente em jantares do centro paulistano.

"A cadeira está em casa, eles me mandaram também a plaquinha com meu nome, que ficava na mesa. Senti-me muito triste, muito abandonada [ri]... Lá eu via os colegas, encontrava Paulinho da Viola, Jamelão... Era bom, perdemos, é pena", conforma-se.

Os "novos" e os "antigos"

Apesar da presença de Théo de Barros, revelado na chamada era dos festivais, "Hoje Lembrando" se limita ao cancioneiro anterior àquele período, da "música antiga". Mas Inezita diz que Barros foi recrutado para adequar arranjos aos novos tempos, em que já não existem as grandes orquestras que costumavam acompanhá-la.

Embora "Disparada" e o próprio Barros já tenham frequentado recitais de Inezita, ela diz que, em geral, evita mesmo repertório que não seja o que ela própria capturou dos anos 50 ou de antes. "Não regravaria uma música lançada por Elis Regina ou Angela Maria. Acho que a música vira propriedade do primeiro cantor."

Não se trata, diz, de uma indireta às muitas cantoras que, gravando "Ronda", ajudaram no esquecimento de que fora Inezita sua primeira intérprete. "Não tenho nada contra, mas não gosto muito de entrar no terreiro dos outros."

Ela não lista nesse rol "Maricota, Sai da Chuva", que grava pela primeira vez e é conhecida do público mais jovem como "Borboleta", com outra letra e na voz de Marisa Monte.

Explica que optou pela versão com letra de Marcelo Tupynambá para o tema folclórico que pertence aos festejos nordestinos do bumba-meu-boi (e Monte gravou no original). "Aquilo é parte integrante do festejo. Só se eu fosse gravar o bumba-meu-boi inteiro", explica.
 

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