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25/06/2003 - 04h07

Comercialismo deslavado é a meta de "Bugalu"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Enviado da Folha de S.Paulo ao Rio

A convicção do poder pop tem sido a tônica da história inteira de Lulu Santos, e os encontros musicais com o produtor e DJ Memê são alguns daqueles momentos em que a química se completa do modo mais deslavado. "Bugalu" é prova incontestável disso.

Lulu vem de dois insucessos comerciais relativos no formato pop-rock ("Calendário", de 99, e "Programa", de 2002) e de um êxito total numa das fórmulas aprisionadoras do pop brasileiro atual ("Acústico MTV", 2000).

Afastando-se de novo dos cânones pop-rock (mas também da assepsia acústica), "Bugalu" cobiça o comercialismo pop descarado que fez o azeite dos dois primeiros discos com Memê.

Até os radicaliza, porque é provavelmente o trabalho mais pautado nas frequências black de funk, soul e discothèque que já fez. Lembra o Lulu Santos de "Tempos Modernos" (82) --com a diferença de que aquele moço já queria ser negão, mas se fazia de roqueiro new wave.

Não é por acaso que regrava agora "Melô do Amor", soul obscuro que apareceu primeiro na trilha da novela "Plumas & Paetés" (80). Lulu ainda era Luís Maurício, aspirante a pop star que saíra do grupo de rock progressivo Vímana e ainda não encontrara a pista para o sucesso.

"Melô do Amor" agora virou soul quebra-barraco, de homenagem aos vocais americanos da Motown e ao brasileiríssimo soul nordestino dos Diagonais de Cassiano. Lulu incorpora um falsete black como jamais fizera, coisas de cantor meio inseguro.

O CD é uma fileira de truques -quer vender, fazer sucesso, sabotar o negro marginalizado que se esconde atrás do roqueiro mais pop-popular do Brasil.

Os truques? "Já É", a da novela de 2003, é black pop tolo, inconsequente. Mas ponha tento na letra, tão tristonha e marqueteira ao mesmo tempo. Se pensar ouvir de uma só vez Skank e MC Serginho ou Claudinho & Buchecha e Kelly Key em "Leite & Mel", relaxe. Eles estão todos lá, como estão em outras faixas o virtuose Marcos Valle e o seriíssimo Pedro Mariano.

Trapaça das mais saborosas se encontra na contagiosa "Jahu", historinha de inversões sobre moças peitudas nas calçadas e fortões pendurados em andaimes --ou vice-versa. Ou nada disso.

Andarilho entre essas vias todas, Lulu nem evita o tecno de "Chega de Dogma", que parece um apêndice num disco de soul-funk-disco-new wave. Árida, se faz a faixa mais antipática do disco, pedrinha mal-humorada no sapato de um projeto que quer o sucesso a todo custo.

Se é para ser assim, a receita é a mais Lulu Santos possível: alegria, alegria, alegria. É tanta alegria que é até perigoso.

Avaliação:

Bugalu
Artista: Lulu Santos
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 28, em média
 

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