Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
01/07/2003 - 06h05

Miriam Mehler, 45 anos de carreira, encarna mãe que reencontra filho

PEDRO IVO DUBRA
free-lance para a Folha de S.Paulo

Em seu trabalho mais recente, em 2002, Miriam Mehler deu vida à Lu de "Nossa Vida em Família", de Oduvaldo Vianna Filho. Compassiva e acolhedora, a matriarca de então dá lugar a Ela, figura maternal firme e algo autoritária que faz um acerto de contas com o filho num quarto de hospital em "Diálogo com a Mãe", peça de José Eduardo Vendramini, dirigida por William Pereira, que inicia temporada na sexta.

"Muita gente me pergunta: você vai fazer uma mãe de novo? Mas não tem nada a ver uma mãe com a outra. Há mães, mães e mães, num universo que não tem fim", diz a atriz, 67, que vê na obra um bom lugar para o humor. No espetáculo, contracena com o ator Nelson Baskerville.

A montagem marca os 45 anos de carreira profissional da intérprete, nascida em Barcelona, emigrada em 1938 em virtude da iminência da guerra, filha de um austríaco que desaprovava a sua entrada na Escola de Arte Dramática (EAD) para tempos depois sugerir peças. "Foi uma carreira difícil, muitas vezes se pensa em largar tudo, mas tive mais prazer do que tristeza", diz a atriz.

Para Pereira, "Miriam é uma espécie de dicionário do teatro paulista". Os verbetes da trajetória de quatro décadas e meia começam por 1958, com sua estréia profissional em "Eles Não Usam Black-Tie", de Gianfrancesco Guarnieri, no Teatro de Arena. Na peça, um marco da dramaturgia nacional, ela interpretava Maria, fazendo par com o autor, que encarnava o personagem Tião.

"Ela é dedicada, e o trabalho com ela é sempre sério, sempre produtivo. Ela não desperdiça o seu tempo, utiliza uma concentração total no trabalho", afirma José Renato, 77, que a dirigiu na montagem da obra de Guarnieri e, mais recentemente, em 2000, encenou com a atriz "Visão Cega", de Brian Friel.

Depois da passagem pelo Arena, Miriam Mehler integrou o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e participou de "Pequenos Burgueses", "Andorra", "Quatro num Quarto" e "Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera", no Oficina, nos anos 60.

"Em "Quatro num Quarto" e "Andorra", fazíamos o par romântico. Ela começou um pouco antes de mim, eu era seu fã, achava-a uma profissional inatingível", diz o ator Renato Borghi, 66, que também completa 45 anos de carreira em 2003, em novembro. Após as realizações no Oficina, eles voltaram a trabalhar juntos em três ocasiões, incluída aí a excursão de "Um Grito Parado no Ar", também de Gianfrancesco Guarnieri, nos anos 70.

Em 69, a atriz fundou com Perry Salles, então seu marido, o teatro Paiol, em que foram encenados, entre outros textos, "À Flor da Pele", de Consuelo de Castro, "Abelardo e Heloísa", de Ronald Millar, ambos com direção de Flávio Rangel, "Salva", de Edward Bond, dirigido por Ademar Guerra, e "Bonitinha, mas Ordinária ou Otto Lara Resende", de Nelson Rodrigues, por Antunes Filho. Manteve o espaço até 79.

Comparada ao teatro, em que realizou cerca de 40 montagens, sua produção para a televisão e o cinema é limitada.

"Teatro é a minha paixão primeira. Por vezes, era preciso optar entre teatro e TV, a própria emissora impunha isso, aí não havia jeito: escolhia sempre o teatro", afirma Mehler. "Quando não estou trabalhando, parece que estou morrendo. Não é que não goste de viver, mas é que preciso da vida do palco. Ela tem uma mágica inexplicável."

DIÁLOGO COM A MÃE
Texto:
José Eduardo Vendramini
Direção: William Pereira
Com: Miriam Mehler e Nelson Baskerville
Onde: teatro Cultura Inglesa - Higienópolis (av. Higienópolis, 449, SP, tel. 0/xx/11/3826-4322)
Quando: estréia para convidados na sexta-feira, às 21h, e para público no sábado, às 19h; sex., às 21h, e sáb. e dom., às 19h. Até outubro. 80 min
Quanto: R$ 20
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página