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25/07/2003 - 03h30

Artistas inovam em estratégias para sobreviver no mercado

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

À procura de contornar a paralisia em que se mantém o grande mercado musical brasileiro, quem quer se lançar como artista em 2003 tem de apelar para novas diretrizes de produção.

Em meio à explosão da pirataria e à falta de novos artistas que estimulem grandes vendagens e investimentos de gravadoras, um dos modelos em expansão é o do artista-empresário independente.

Trata-se de uma figura que já desistiu de buscar um contrato em grande gravadora e apela para a emancipação de virar dono de selo -e para a necessidade de captar recursos, fazer pequenas tiragens de CD e enfrentar dificuldades de distribuição e difusão.

Exemplos não faltam. Para chegar a seu segundo CD, o baiano Lucas Santtana teve de abrir o selo Diginóis, distribuído pela Trama.
Antonio Pinto (autor de trilhas de filmes de Walter Salles) e Beto Villares (produtor de artistas pop e do projeto "Música do Brasil") abriram o Ambulante, distribuído pela também independente Tratore. Um dos primeiros lançamentos é "Excelentes Lugares Bonitos", do próprio Villares.

Mais radicais são o fotógrafo Rui Mendes e os diretores de arte Richard Kovacs e José Renato Maia, que têm larga experiência de trabalhos com gravadoras.

Eles nem procuraram distribuidora para fazer circular por seu selo Mundo Perfeito o segundo álbum da dupla alagoana radicada em São Paulo Sonic Junior.

"Se algum dia vendermos mais de 10 mil cópias a gente começa a pensar numa distribuidora. Por enquanto é distribuição de guerrilha, de loja em loja", afirma Mendes, que diz que "não tem cabimento montar uma banda hoje querendo vender 30 mil discos".

O fato é que também ficou cada vez mais distante e incomum o padrão dos milhões de cópias vendidas por artista. Lucas Santtana, filho do produtor tropicalista e ex-executivo da Philips (rebatizada Universal) Roberto Sant'Anna, é quem opina:

"As grandes não estão falindo à toa. Fizeram jabá [execução em rádio e TV mediante pagamento prévio], não deram atenção às novas tecnologias. Parecem cabides de emprego, seus diretores ganham fortunas".

Santtana lançou um primeiro CD pela gravadora independente Natasha, de Paula Lavigne, mas decidiu pedir rescisão de contrato para lançar seu próprio selo.

"O problema de muitas gravadoras de médio porte é que têm verbas de selo pequeno e mentalidade de grande gravadora. O CD é deles, o artista não tem domínio de tudo o que acontece", explica.

Hoje Santtana diz que divide o tempo de artista com visitas a empresas e formulação de projetos de patrocínio para financiar a criação do selo e as 3.000 cópias iniciais de seu "Parada de Lucas".

Beto Villares define a aventura em que está se lançando: "Amigos artistas me aconselharam, disseram que não há motivo para assinar com uma gravadora hoje. Os rappers, que não têm onde cair mortos, fazem seus selos, por que eu não poderia?".

Ele diz que tirou do próprio bolso o dinheiro para gravar e lançar 1.500 exemplares de seu disco, que reúne convidados como Zélia Duncan, Pato Fu, Rappin" Hood, Céu, Mestre Ambrósio etc..

"Antonio Pinto rala na publicidade, eu faço trilhas de documentários. Aí tiro do bolso para fazer meu disco. Não tenho a ilusão de ter lucro com venda de disco", afirma Villares. Ele diz que em seis meses os sócios se reunirão para avaliar a viabilidade do selo. "Vamos ver se o prejuízo vai existir. Se conseguirmos ao menos empatar já vale a pena continuar."

Todos sabem que seus selos podem acabar a qualquer momento. "No Brasil de hoje não dá para dizer que nada é para valer", lamenta Lucas Santtana.

"Mas nós somos românticos, achamos que pode dar certo. É para ser duradouro", contrapõe Rui Mendes, do Mundo Perfeito.
 

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