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05/08/2003
-
11h42
da Folha de S.Paulo
De Georges Méliès a David Lynch, o inconsciente sempre alimentou as imagens do cinema. Ver filmes muitas vezes se assemelha a sonhar de olhos abertos. Porém, é quando o inconsciente delira que o cinema tem a habilidade de deixar o espectador de fato perplexo.
Nessa mostra, as "Imagens do Inconsciente" registradas por Leon Hirszman e o "Van Gogh" de Alain Resnais dão conta do essencial: o que significa delirar?
Pois esses filmes deslocam a interpretação do delírio como ausência de sentido e restituem seu significado como deriva de sentido, até aquele ponto insuportável que a razão considera "loucura". A pergunta que eles colocam é: como a ausência do controle, a irracionalidade, produz beleza? Ao mergulhar nas obras de "loucos", esses filmes expulsam o elemento negativo das "desordens mentais". Assim, levam o espectador a entender que razão e desrazão são conceitos menos opostos do que se pensa.
Sob outra perspectiva, "San Clemente" (de Raymond Depardon) e "Titicut Follies" (de Frederick Wiseman) democratizam os argumentos da luta antimanicomial. Em ambos, vê-se como o hospício é um Gulag absoluto. Muito além das prisões (cujo princípio seria "reformador"), os manicômios são espaços não de reclusão, mas de exclusão social.
Diante dessas imagens, persiste um desconforto provocado pelo voyeurismo a que elas forçam o espectador. Pois se trata de ver o que não se quer ver. Já que a maioria ignora a desumanização total daqueles indivíduos, Depardon e Wiseman nem precisam enfatizar. Basta abrir o foco da câmera e devolver à visibilidade indivíduos que o hospício arrancou da vista de todos.
Uma ressalva: a presença do tagarela "As Pessoas Normais Não São Nada Excepcionais" não compensa a ausência, em São Paulo, de dois grandes títulos "invisíveis": "Paixões que Alucinam" (de Samuel Fuller) e de "Uma Mulher Sob Influência" (de John Cassavetes), vistos no Rio.
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Comentário: Delírio e ausência de controle produzem beleza
CÁSSIO STARLING CARLOSda Folha de S.Paulo
De Georges Méliès a David Lynch, o inconsciente sempre alimentou as imagens do cinema. Ver filmes muitas vezes se assemelha a sonhar de olhos abertos. Porém, é quando o inconsciente delira que o cinema tem a habilidade de deixar o espectador de fato perplexo.
Nessa mostra, as "Imagens do Inconsciente" registradas por Leon Hirszman e o "Van Gogh" de Alain Resnais dão conta do essencial: o que significa delirar?
Pois esses filmes deslocam a interpretação do delírio como ausência de sentido e restituem seu significado como deriva de sentido, até aquele ponto insuportável que a razão considera "loucura". A pergunta que eles colocam é: como a ausência do controle, a irracionalidade, produz beleza? Ao mergulhar nas obras de "loucos", esses filmes expulsam o elemento negativo das "desordens mentais". Assim, levam o espectador a entender que razão e desrazão são conceitos menos opostos do que se pensa.
Sob outra perspectiva, "San Clemente" (de Raymond Depardon) e "Titicut Follies" (de Frederick Wiseman) democratizam os argumentos da luta antimanicomial. Em ambos, vê-se como o hospício é um Gulag absoluto. Muito além das prisões (cujo princípio seria "reformador"), os manicômios são espaços não de reclusão, mas de exclusão social.
Diante dessas imagens, persiste um desconforto provocado pelo voyeurismo a que elas forçam o espectador. Pois se trata de ver o que não se quer ver. Já que a maioria ignora a desumanização total daqueles indivíduos, Depardon e Wiseman nem precisam enfatizar. Basta abrir o foco da câmera e devolver à visibilidade indivíduos que o hospício arrancou da vista de todos.
Uma ressalva: a presença do tagarela "As Pessoas Normais Não São Nada Excepcionais" não compensa a ausência, em São Paulo, de dois grandes títulos "invisíveis": "Paixões que Alucinam" (de Samuel Fuller) e de "Uma Mulher Sob Influência" (de John Cassavetes), vistos no Rio.
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