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06/08/2003 - 03h54

Autor de "Sandman" reúne "time dos sonhos" de desenhistas

DIEGO ASSIS
da Folha de S.Paulo

A aposentadoria de Morpheus durou pouco. Sete anos depois de anunciar o fim de "Sandman", série de HQs "adultas" mais bem-sucedida dos anos 90, o escritor, quadrinista e celebridade Neil Gaiman, 42, resolveu voltar atrás. Se é para a felicidade geral da nação, o Mestre dos Sonhos retorna. E junto com ele vem a família toda: Destino, Morte, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio.

"É como ir a uma festa com os velhos amigos depois de ter morado em uma outra cidade durante anos. Você pensa como mudou, como eles mudaram, age de maneira nervosa nos cinco primeiros minutos e, em seguida, está conversando com eles sobre coisas que aconteceram há sete anos e se pergunta: "Como é que um dia eu consegui ir embora?'", resume Gaiman em entrevista à Folha, por telefone, numa pacata e ensolarada tarde no jardim de sua casa em Minneapolis. "Mais à noite deve vir uma tempestade. Elas sempre surgem a essa hora", especula o autor inglês que, nos próximos dois meses, volta a ser o centro das atenções do mercado literário com o lançamento do épico "1602", pela Marvel, o retorno de "Sandman", com "Endless Nights", pela rival DC Comics, um livro infantil --"Wolves in the Walls"-- e um longa-metragem com o artista gráfico e parceiro de longa data Dave McKean.

"Acho ótimo. Estamos nessa posição peculiar em que três anos de trabalho estão saindo em um período de dois meses. Estarei na capa da "Publisher's Weekly", da "Entertainment Weekly". Para o pessoal dos quadrinhos é algo como "Ei, alguém dos nossos foi lá e fez bonito". Para mim é "Ei, vou poder contar mais histórias'", diz Gaiman, que, nos últimos anos, havia dado um tempo para os quadrinhos e vinha se dedicando mais à literatura.

"Deuses Americanos", seu romance de estréia lançado em 2001, levou-o ao topo da lista do "New York Times", rendeu-lhe um [prêmio] Hugo e um Nebula e mais alguns pontinhos na conta dos fãs, sempre ardorosos, que acompanham o quadrinista aonde quer que vá.

"Tem sido estranho. A minha presença passou a distorcer as coisas. Cheguei a achar que se parasse de fazer quadrinhos e passasse a escrever livros, me tornaria um daqueles velhinhos respeitáveis que, pelo menos, podem andar tranquilos em convenções", lamenta, com a educação usual, o autor que, na última San Diego ComicCon, maior convenção de quadrinhos dos EUA, se viu de frente com uma fila de 90 mil pessoas em busca de um autógrafo do pai de Morpheus e também de Shadow, protagonista do livro "Deuses Americanos".

Tratado como sex symbol, o quadrinista pode ser considerado responsável pela iniciação de muitas mulheres no universo dos quadrinhos. Ao constante cerco do público feminino, Gaiman responde: "elas não querem dormir com você, querem dormir com o personagem que você criou. Até entendo que existam garotas que passem esse tempo na fila querendo algo mais do que uma assinatura, mas isso não vai acontecer".

Pode parecer oportunismo, mas não foi esse o motivo que trouxe Gaiman de volta ao universo de "Sandman". Foi um sonho.

"Sempre quis trabalhar com esses artistas. Faltou o [quadrinista francês] Moebius, que faria a história da Morte, mas ficou doente. Mas todo o resto... uma história de 24 páginas da Desejo desenhada pelo [italiano Milo] Manara? Isso é um sonho!", comenta o autor inglês, que criou cada um dos sete roteiros de "Endless Nights", que será publicada em setembro nos EUA, com esse "dream team" na cabeça.

Outro grande projeto envolve a maior editora de quadrinhos americana, a Marvel Comics, lar de Homem-Aranha, X-Men, Demolidor e companhia. Contratado pela "major" para trabalhar inicialmente em duas histórias, Gaiman uniu-se ao desenhista Andy Kubert ("Origem") para uma tarefa nada fácil: transportar os heróis de Stan Lee para o século 17, na Europa dos templários, da Inquisição e do reinado da rainha Elizabeth na Inglaterra.

"Gosto de pensar que existe uma evolução paralela. Em 1602 [período e título da série], temos muitas coisas que justificariam o universo Marvel. Matthew Murdock [o Demolidor] é um trovador irlandês cego com poderes que conseguiu ainda menino, escalando cavernas infestadas com radioatividade no subterrâneo da Irlanda", explica.

Quer mais? Charles Xavier, o famoso líder dos X-Men, é aqui Carlos Xavier, que não pretende proteger os mutantes dos humanos, como acontecem nas histórias atuais, mas as bruxas da Inquisição, como seria mais apropriado para a época.

Anunciada com pompas de produção cinematográfica, "1602" sairá em oito capítulos a partir do próximo dia 13, nos EUA -no Brasil, deve ficar para o ano que vem, pela Panini.

E, por falar em cinema, o primeiro longa assinado por Neil Gaiman também já está com as filmagens concluídas. Rodado em Londres, com US$ 4 milhões, "Mirror Mask" tem no elenco os ilustres desconhecidos Gina McKee, Rob Brydon e Jason Barry, mas, na direção, está o inglês Dave McKean, velho amigo e capista de "Sandman".

"[Mirror Mask] É um filme de fantasia e ação grandioso, em computação gráfica, que nós estamos fazendo por US$ 4 milhões. Se fosse qualquer um além de Dave McKean, eu daria risada, mas Dave McKean sabe o que está fazendo." Alguém duvida?

1602
Lançamento:
13/8 (nos EUA; no Brasil, ainda sem previsão)
Quanto: R$ 17, em média (cada edição)

ENDLESS NIGHTS
Lançamento:
setembro (nos EUA; no Brasil, ainda sem previsão)
Quanto: R$ 120
Onde encomendar: Devir Livraria (r. Teodureto Souto, 624, Cambuci, SP, tel. 0/xx/11-3347-5700)
 

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