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07/08/2003 - 06h32

"Made in Brasil" repassa história do vídeo

SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Com agulha e linha, a artista plástica Letícia Parente costura no próprio pé a frase "Made in Brasil" (feito no Brasil) e registra a cena no vídeo "Marca Registrada".

O videoartista Eduardo Kac faz do implante de um chip eletrônico em seu calcanhar esquerdo o mote de "Time Capsule".

Entre um gesto e outro, há um intervalo de 22 anos --é de 1975 o trabalho de Parente, e de 1997 o de Kac-- e a história de um pedaço da arte brasileira, na visão do professor Arlindo Machado, especialista em comunicação e semiótica.

No livro "Made in Brasil - Três Décadas do Vídeo Brasileiro", que tem lançamento hoje, em São Paulo, Machado procurou condensar pela primeira vez um volume de pensamento sobre o vídeo no Brasil, "essa arte que poucos acompanharam", desde seus primórdios nos anos 70 até hoje.

A obra traz textos de análise e depoimentos assinados por especialistas e/ou realizadores, como Giselle Beiguelman, Tadeu Jungle, Marcelo Tas, Solange Farkas.

Editada pelo Itaú Cultural, terá tiragem de aproximadamente 2.000 exemplares distribuída para bibliotecas e outras instituições de ensino e pesquisa. Não há venda direta ao público, mas uma mostra de trabalhos que exemplificam pontos em análise no livro percorrerá um circuito de exibição itinerante por algumas capitais brasileiras. O conjunto completo será exibido no festival Videobrasil, de 23 a 28 de setembro.

Linhas de força

No capítulo introdutório do livro que organiza, Machado traça "as linhas de força do vídeo brasileiro". "Fiz um esforço para detectar quais eram as temáticas e estilos mais comuns e onde ele se distinguiu das outras artes", diz.

São dez as subdivisões propostas: o corpo e a câmera; a verdade 30 vezes por segundo, em 525 linhas; ex-figurativo, ex-narrativo, experimental; desconstrução do Brasil; dentro e fora da TV; videoinstalações, videoperformances: making of; macro e micropolíticas; cidades (in)visíveis; afetos e desafetos; the bit generation.

A seleção de trabalhos que se enquadram em uma ou outra categoria registra cerca de 90 artistas ou grupos de realizadores.

"Diário de um Detento" (97), de Maurício Eça e Marcelo Corpanni, integra a seção desconstrução do Brasil. Hoje, o clipe do rap em que os Racionais MC's fazem uma crônica da véspera e do dia posterior ao massacre de 111 presos na Casa de Detenção, em 2 de outubro de 1992, pode ser visto com o status de precursor de uma vasta produção audiovisual que invoca o mesmo tema e cenário --caso dos longas "Carandiru" (Hector Babenco) e "O Prisioneiro da Grade de Ferro" (Paulo Sacramento).

De acordo com Machado, o caráter de inovação é inerente à produção em vídeo. "Nos anos 70, o vídeo surge como opção para a produção experimental, quando o espantoso crescimento dos custos da película cinematográfica havia tirado do alcance dos grupos experimentais a possibilidade de fazer cinema", diz.

Futuro

Atualmente seria mais difícil identificar as vanguardas do vídeo e sua incorporação aos universos da TV e do cinema, já que "o monitor de TV se generalizou e, hoje, tudo é vídeo", na opinião do autor de "Made in Brasil".

Machado exemplifica: "O que chamamos de cinema digital é vídeo. O vídeo constantemente deglute todos os outros formatos e linguagens, como a literatura, o cinema, a poesia. É como uma arte camaleônica, que se transforma a cada década".

A próxima transformação do vídeo pode estar apontada em trabalhos como o de Eduardo Kac. "Essa arte quase biológica, de interferência no próprio corpo, pode marcar o próximo período da produção eletrônica e até sua superação", diz Machado.

MADE IN BRASIL - TRÊS DÉCADAS DO VÍDEO BRASILEIRO - Lançamento de livro organizado por Arlindo Machado, editado pelo Itaú Cultural (274 págs.), e mostra de vídeos
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/3268-1700)
Quando: hoje, às 20h
Quanto: grátis
 

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