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07/08/2003 - 07h35

Fraternal Companhia espelha saga de retirantes em "Borandá"

VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

Depois de encenar um auto da paixão à sua moda, a Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes apresenta um auto do migrante. "Borandá", título de sonoridade indígena, mas contração do simples "embora andar", reúne três sagas familiares de migrantes que têm em comum a sobrevivência em São Paulo.

A nova peça de Luís Alberto de Abreu (o mesmo de "O Livro de Jó", encenado pelo Teatro da Vertigem) foi escrita a partir da pesquisa com moradores do entorno do teatro Paulo Eiró, na zona sul paulistana (bairros de Santo Amaro, Alto da Boa Vista, Jardim Ângela etc).

Uma das sagas, "Maria Déia", é inspirada na história de uma mulher que ziguezagueou pela vida nos Estados do Paraná, Minas Gerais, Goiás e São Paulo.

É uma trajetória marcada por casamento tumultuado, a separação e a fuga para salvaguardar os filhos. A história de resistência de Maria Déia, a personagem, lembra a Mãe Coragem de Brecht ou a Romana de Gianfrancesco Guarnieri ("Eles Não Usam Black-Tie").

"Buscamos a experiência humana desses migrantes, não fazemos análise sociológica", afirma o diretor Ednaldo Freire, 54. Apesar da densidade do tema, ele define "Borandá" como uma "espécie de drama risível", junção do melodrama com a comédia.

"Maria Déia" é precedida das sagas batizadas "Tião" e "Galatéia". A primeira parte trata de Tião Cirilo dos Santos, caboclo que trocou o Nordeste pelo "sertão da cidade" --ao qual tenta se adaptar, não de todo, às culturas e solidões do outro.

Em "Galatéia", miolo da peça, Abreu se descola propriamente dos depoimentos para retomar a trajetória mítica dos heróis cômicos populares, como seus recorrentes João Teité e Matias Cão no repertório da Fraternal, sempre em parceria com Freire.

Aqui, João de Galatéia é o rapaz que deixa o berço rural rumo ao mundo urbano; vai atrás de algo que lhe foi retirado (curiosamente, Galatéia é também o nome dado a um novo satélite do planeta Netuno, descoberto em 1989).

Teatro popular

Formada há dez anos, mas com lastros no teatro dos anos 80 na região do ABC (como o grupo Mambembe, do diretor e dramaturgo Carlos Alberto Soffredini), a Fraternal é caracterizada por investigação artística que busca referências no teatro popular.

"O popular tem mais erudição do que se imagina, mas costuma ser rebaixado, sobretudo pela mídia", diz Freire, ele também um migrante pernambucano cuja família chegou a São Paulo nos anos 50 a bordo de um pau-de-arara, o caminhão que transporta retirantes na carroceria.

Em "Borandá", os figurinos são de Luiz Augusto dos Santos; a trilha sonora, de Kalau; e a preparação corporal, de Julião.

BORANDÁ
De:
Luís Alberto de Abreu
Direção: Ednaldo Freire
Com: Fraternal Cia. de Artes e Malas-Artes (Mirtes Nogueira, Aiman Hammoud, Ali Saleh, Edgar Campos e Luti Angelelli)
Onde: teatro Paulo Eiró (av. Adolfo Pinheiro 765, Alto da Boa Vista, tel. 0/xx/11/5546-0449)
Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a dom., às 21h
Quanto: entrada franca (retirar ingressos com uma hora de antecedência). Até 26/10

Leia mais
  • Fraternal cruza o melodrama e a comédia em peça
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