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22/08/2003
-
11h59
crítico da Folha
Uma coisa que não falta são comédias a ser relançadas, em particular dos anos 60/70. Poderia ser "A Pantera Cor-de-Rosa" (toda a série), os primeiros Woody Allen, os últimos Jerry Lewis. Seria possível fazer vir da França o raro Pierre Étaix. E na Itália há tanta coisa que convém nem começar a listagem.
De tudo, o destino optou por nos fazer rever "Primavera para Hitler", portanto um filme do início da carreira de Mel Brooks. Brooks participou durante certo tempo de uma segunda linha bem-sucedida da comédia americana, dedicada essencialmente a paródias. A eficácia de seu humor murchou em pouco tempo -o que é característico do paródico.
"Primavera para Hitler" é de um momento anterior e parte de uma trama muito inventiva (com roteiro de Brooks): Zero Mostel é um produtor teatral falido que se associa a um contador até então honesto (Gene Wilder), quando ambos descobrem que um fracasso pode render muito mais aos produtores do que um sucesso.
O segredo é vender, digamos, 1000% da produção a cotistas. Com o fracasso, não haverá dividendos a pagar. Os primeiros 100% destinam-se a pagar a produção. Os restantes 900% vão para o bolso dos produtores. Obviamente, algo acontece que emperra o engenhoso trambique.
Para ver o filme convém lembrar que ele é de 1968, portanto havia embutida aí a idéia de certa contestação, ou pelo menos de descompromisso com a visão oficial, "careta", do mundo. Trambicar não era bem um crime, mas um ato anti-social, que desafiava uma ordem tida por obsoleta, ou reacionária, ou ambas as coisas.
Daí se pode entender, também, a evolução de Mel Brooks para o humor paródico (gozação com Hollywood, com "o sistema" -mas também um recuo considerável em relação a esse primeiro e insubordinado sucesso).
Se a idéia de "Primavera para Hitler" até hoje parece original, a direção de Mel Brooks continua não entusiasmando muito. Aquilo que poderia ser, no papel, sugestão delicada (caso das velhinhas que sustentam o produtor), torna-se na tela algo um tanto escabroso -de tão pesada que é a mão de Mel Brooks.
A comédia nem sempre vem do exagero, e com frequência vem da contenção. Brooks acredita no exagero burlesco, mesmo quando ele é francamente desaconselhável. Isso enfraquece consideravelmente a comédia, que tem em Zero Mostel o ponto forte.
Avaliação:
Primavera para Hitler (The Producers)
Produção: EUA, 1968
Direção: Mel Brooks
Com: Gene Wilder, Zero Mostel
Onde: nos cines Frei Caneca Unibanco Arteplex e Cinearte
Brooks em início de carreira exagera no burlesco
INÁCIO ARAUJOcrítico da Folha
Uma coisa que não falta são comédias a ser relançadas, em particular dos anos 60/70. Poderia ser "A Pantera Cor-de-Rosa" (toda a série), os primeiros Woody Allen, os últimos Jerry Lewis. Seria possível fazer vir da França o raro Pierre Étaix. E na Itália há tanta coisa que convém nem começar a listagem.
De tudo, o destino optou por nos fazer rever "Primavera para Hitler", portanto um filme do início da carreira de Mel Brooks. Brooks participou durante certo tempo de uma segunda linha bem-sucedida da comédia americana, dedicada essencialmente a paródias. A eficácia de seu humor murchou em pouco tempo -o que é característico do paródico.
"Primavera para Hitler" é de um momento anterior e parte de uma trama muito inventiva (com roteiro de Brooks): Zero Mostel é um produtor teatral falido que se associa a um contador até então honesto (Gene Wilder), quando ambos descobrem que um fracasso pode render muito mais aos produtores do que um sucesso.
O segredo é vender, digamos, 1000% da produção a cotistas. Com o fracasso, não haverá dividendos a pagar. Os primeiros 100% destinam-se a pagar a produção. Os restantes 900% vão para o bolso dos produtores. Obviamente, algo acontece que emperra o engenhoso trambique.
Para ver o filme convém lembrar que ele é de 1968, portanto havia embutida aí a idéia de certa contestação, ou pelo menos de descompromisso com a visão oficial, "careta", do mundo. Trambicar não era bem um crime, mas um ato anti-social, que desafiava uma ordem tida por obsoleta, ou reacionária, ou ambas as coisas.
Daí se pode entender, também, a evolução de Mel Brooks para o humor paródico (gozação com Hollywood, com "o sistema" -mas também um recuo considerável em relação a esse primeiro e insubordinado sucesso).
Se a idéia de "Primavera para Hitler" até hoje parece original, a direção de Mel Brooks continua não entusiasmando muito. Aquilo que poderia ser, no papel, sugestão delicada (caso das velhinhas que sustentam o produtor), torna-se na tela algo um tanto escabroso -de tão pesada que é a mão de Mel Brooks.
A comédia nem sempre vem do exagero, e com frequência vem da contenção. Brooks acredita no exagero burlesco, mesmo quando ele é francamente desaconselhável. Isso enfraquece consideravelmente a comédia, que tem em Zero Mostel o ponto forte.
Avaliação:
Primavera para Hitler (The Producers)
Produção: EUA, 1968
Direção: Mel Brooks
Com: Gene Wilder, Zero Mostel
Onde: nos cines Frei Caneca Unibanco Arteplex e Cinearte
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