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06/09/2003 - 10h17

Evgen Bavcar inaugura novo espaço no Itaú Cultural

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EDER CHIODETTO
editor de Fotografia

O olho esquerdo perfurado por um galho de árvore aos dez anos e o direito lesionado pela explosão de uma mina um ano depois cegaram o esloveno Evgen Bavcar, 56. Aos 16, ele tirou uma fotografia e pediu para que alguém lhe contasse o que havia registrado.

Surgia assim um dublê de artista contemporâneo e filósofo do olhar que pode ter suas imagens vistas em "Contornos Sagrados", no Itaú Cultural, em exposição que marca o lançamento do livro "Memória do Brasil".

"Olho uma cidade observando como os outros a olham. Toda a minha vida é preenchida de nostalgias", diz Bavcar num de seus cinco textos que integram o livro editado pela Cosac & Naify em conjunto com o Centro Universitário Maria Antônia, da USP.

De fato, o processo criativo de Bavcar é o que primeiro chama a atenção. Partindo das palavras que lhe são ditas por quem descreve a paisagem ou o objeto a ser fotografado, ele busca no seu imaginário recordações infantis, cores e texturas correlatas.

Como antes de ficar cego ele não havia saído de sua cidade, na prática, por mais que hoje ele viaje e fotografe no exterior, é sempre de sua aldeia que suas imagens estarão falando. De alguma forma suas imagens também devem ser entendidas como o resultado formal de uma associação de palavras, e não de imagens.

Numa das boas passagens do livro, Bavcar declara ser cego como os astrônomos: "Eles apenas olham de maneira indireta. O que é que eles podem ver com seus próprios olhos?".

Ressaltando a pequena extensão do olhar humano em relação às máquinas, diz: "Todo mundo se vale do olhar do outro, só que em outros planos, sem se dar conta sempre. E como não se pode nunca ver com os próprios olhos, somos todos um pouco cegos. Nós nos olhamos sempre com o olhar do outro, mesmo que seja aquele do espelho".

Organizado por Elida Tessler e João Bandeira, "Memória do Brasil" funciona como um diário de bordo das viagens que Bavcar fez ao Brasil. O volume traz, além da coletânea de textos, algumas séries de suas fotos feitas no Brasil que pecam apenas por apresentar um número reduzido de imagens.

Preferindo sempre fotografar com luz noturna --"Prefiro a noite porque o parâmetro noite é seguro para mim. Posso controlar melhor a luz"-- com o recurso de iluminar as cenas com lanternas ou outras fontes, Bavcar costuma depois de escolhida as imagens, de acordo com o relato das pessoas, fazer interferências no momento da ampliação, reforçando uma atmosfera de sonho (ou pesadelo) nas suas obras. "Se, às vezes, somos obrigados a observar o mundo de olhos fechados, é sobretudo para conservar o caráter frágil dos sonhos que nos levam aos espelhos do invisível."

Em "Contornos Sagrados", que inaugura um novo espaço expositivo para artes visuais no Itaú Cultural, podem ser vistas 30 imagens realizadas no Brasil que mostram o encantamento do fotógrafo com as imagens sacras de Ouro Preto (MG) e, sobretudo, sua paixão pela mulher brasileira.

MEMÓRIA DO BRASIL - EVGEN BAVCAR
Organização e textos:
Elida Tessler e João Bandeira
Formato: 14 x 20 cm
Editora: Cosac & Naify
Quanto: R$ 39 (152 págs)

CONTORNOS SAGRADOS - EVGEN BAVCAR
Onde:
Mostra no Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP, tel. 0/xx/11/3268-1700)
Quando: de hoje a 12/10, de ter. a sex., das 10h às 21h; sáb., dom. e feriados, das 10h às 19h
Quanto: entrada franca
 

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