Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
20/09/2003 - 03h31

Família de Vinicius disponibiliza sua obra completa na internet

Publicidade

LUIZ CAVERSAN
da Folha de S.Paulo

No último dia 11, o movimento "Livros Cruzados" ("bookcrossing') propôs que livros fossem abandonados em locais públicos para que um número maior de pessoas pudesse desfrutá-los. Uma ação isolada inspirada na iniciativa agregou poder de fogo respeitável ao ato de disponibilizar gratuitamente a leitura. Não só de um livro, mas de uma obra; não de um autor qualquer, mas de um dos maiores poetas brasileiros, Vinicius de Moraes.

Desde o dia 11, tudo o que foi escrito e publicado por Vinicius (1913-80) pode ser acessado gratuitamente na internet, pelo site (www.viniciusdemoraes.com.br). Detalhe fundamental: erros que permaneciam havia anos no trabalho do escritor publicado em papel foram eliminados na versão eletrônica.

Com exceção da correspondência de Vinicius (lançada recentemente em livro), a produção poética, a prosa, as letras de música e as críticas de cinema estão ali, somando mais de 1.500 tópicos, além de dezenas de fotos, capas de livros e discos, trechos de áudio das músicas, notas informativas, biografia e textos sobre o autor. "A idéia dos herdeiros do Vinicius foi resgatar o lado literário, que ficou obscurecido pela presença marcante do autor de música popular", diz André Vallias, 40, designer e responsável pela criação, bancada pela VM Produções, empresa dos herdeiros do poeta.

Além da novidade de permitir o acesso gratuito à obra integral de um autor ("Não existe nada parecido no Brasil", afirma Vallias), o site oferece também a oportunidade de o internauta criar sua própria antologia de textos.

Se possui uma ou outra falha passível de correção (como a precária identificação das fotos ou a ausência de algumas letras de música), o site impressiona pela riqueza do material, integrado por raridades como uma letra inédita de Vinicius feita no final dos 70 para canção de Francis Hime, ou o texto de Rubem Braga (1913-90) para a "orelha" da primeira antologia poética (1954).

A revisão do trabalho e a detecção e eliminação de erros ficou a cargo do professor de literatura brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro Eucanaã Ferraz, 42. "Ao longo da obra de Vinicius havia pequenos erros que foram sendo esquecidos com o tempo", diz ele, que aponta um desses problemas na mais do que célebre "Garota de Ipanema".

Nas sucessivas edições da letra, dois versos que deveriam ser indagações acabaram se tornando afirmações. Em vez de "Ah, por que estou tão sozinho?/ Ah, por que tudo é tão triste?", consagrou-se "Ah, porque estou tão sozinho/ Ah, porque tudo é tão triste".

Outro desses detalhes determinantes para o entendimento, agora não de um poema apenas, mas da própria trajetória do autor: na primeira reunião de sua poesia realizada em 1968 pela editora Aguilar, Vinicius concordou com o organizador da coletânea, Afrânio Coutinho, em agrupar livros e realocar poemas. "Isso fez, por exemplo, com que o livro "Poemas, Sonetos e Baladas", publicado em 1946 e considerado um divisor de águas na obra de Vinicius, deixasse de existir como tal."

No site, os versos dele estão de novo juntos, há uma reprodução da capa e nota introdutória na qual consta, entre outras, a informação segundo a qual houve uma tiragem de "20 exemplares em papel bufon creme numerados de 23 a 42, tendo cada exemplar um poema manuscrito do autor".

Na edição mais recente das obras completas, de 1998, foi encontrado um tipo diverso de problema, também corrigido: o poema "Amor nos Três Pavimentos" foi publicado sem título, emendado ao "Soneto da Intimidade". "Só quem tem conhecimento de poesia poderia perceber a mudança de um soneto para um poema", diz Ferraz. Outro erro retificado, desta vez no "Soneto da Fidelidade": o correto no terceiro verso da segunda estrofe é "E rir meu riso e derramar meu pranto", nunca "E rir meus riso...", como está na versão em papel.

Ao reformatar as poesias musicadas e letras (cuja versificação foi modificada para atender a limites de espaço nas capas dos discos), Ferraz detectou alterações que comprometiam o sentido. Como no caso de "Pelos Caminhos da Vida", cuja letra correta é "Ouvirás na voz do vento/ meu constante adeus/ e meu coração batendo/ no mesmo passo dos teus", e não "Ouvirás a voz do vento..."

Leia mais
  • Internauta pode fazer antologia própria
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página