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08/10/2003 - 10h28

Em biografia, cineasta Billy Wilder narra sua vocação

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

"Depois de "Pacto de Sangue" [1944], as duas palavras mais importantes no cinema são Billy Wilder."

A frase de Alfred Hitchcock (1899-1980) está em "Ninguém É Perfeito", livro que Charlotte Chandler dedica a contar vida e obra de Wilder (1906-2002), por meio de um mosaico de entrevistas com o cineasta de origem austríaca e com personalidades que conviveram com ele durante a carreira desenvolvida nos EUA.

Editado originalmente no ano passado, o volume é agora lançado no Brasil pelo selo Landscape, com tradução de Cássia Zanon.

"Ninguém É Perfeito" é a biografia de um artista numa visão amiga, e Chandler não esconde isso. Ao contrário, vale-se da aproximação com o cineasta, iniciada na década de 70, para entrevistá-lo ao longo de anos e registrar em seu livro opiniões emitidas com a informalidade dos diálogos entre camaradas.

É o olhar de Wilder para si mesmo e para os que o cercam o mais saboroso de "Ninguém É Perfeito". Os relatos de atores dirigidos por ele, como Ginger Rogers, Jack Lemmon, Willian Holden e Gloria Swanson, significam pouco mais do que um adendo.

Chandler estrutura o livro como a história de uma vocação. Remonta à infância em Viena e à juventude em Berlim, para mostrar como o aluno indócil originou o jornalista de variedades e como este último caminhou em direção ao cinema amador.

Nas palavras de Wilder: "Nos filmes americanos, sempre via aqueles jovens com um brilho no olhar vestindo capas de chuva Burberry com credenciais de imprensa presas nas faixas dos chapéus. Eu definitivamente havia me decidido. Queria uma capa de chuva daquelas".

Pertencem a essa fase da vida do diretor os episódios de encontros com Freud, Hitler e o príncipe Yussupov. O surgimento do nazismo e o assassinato de sua mãe no campo de concentração de Auschwitz são relatados sem ênfase trágica, como a reproduzir a recusa de Wilder em glorificar sua própria história de superação.

Um dos raros testemunhos que o livro oferece nesse sentido é o de seu empenho para dominar o inglês. "É muito difícil ser escritor, sentir que é a única coisa que você quer ser na vida e, de repente, ser destituído da língua na qual pensa, fala e escreve. Você fica mais ou menos morto. Então, ou eu aprendia a língua, ou podia ser enterrado.

"Uma pessoa é formada por sua língua. Eu queria me reformar e ser americano. Queria compensar pelo beisebol que jamais joguei. Assisti a tantos jogos de beisebol que, às vezes, lembro de jogar quando criança."

Com capítulos individuais para títulos roteirizados (em parceria com Charles Brackett) e dirigidos por Wilder, o livro tem um ponto alto nas histórias de bastidores das filmagens de "Quanto Mais Quente Melhor", com destaque para a crispada relação do diretor com Marilyn Monroe.

Nas observações do diretor sobre "Farrapo Humano" (1945), a descrição do sucesso: "Um dia, você é uma assinatura; no seguinte, virou um autógrafo". Dito nas palavras de Gloria Swanson: "O Oscar é uma companhia onde quer que se vá".

No capítulo da relação com as atrizes, "Ninguém É Perfeito" revela, além da dificuldade de trabalhar com Monroe, a paixão platônica por Audrey Hepburn e a admiração pela favorita Marlene Dietrich.

"O mais maravilhoso era sua inteligência. Ela [Dietrich] tinha a coragem de suas convicções. Ela reconheceu logo os nazistas. Não aceitou seus prêmios ou convites e foi embora, mesmo não sendo judia." Há ainda o fetiche por Cary Grant, ator que quis escalar em quase todos os seus filmes, sem sucesso.

Um apêndice traz a filmografia do diretor, e o capítulo sobre "Ninotchka", uma revelação. Para Wilder, o cinema se resumia não em duas, mas numa única palavra: Lubitsch.

NINGUÉM É PERFEITO. Autora: Charlotte Chandler. Tradução: Cássia Zanon. Editora: Landscape (tel. 0/xx/ 11/3746-9711). Quanto: R$ 45 (366 págs.).
 

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