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08/10/2003 - 10h36

Biblioteca interage com momentos sociais históricos

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ROGÉRIO EDUARDO ALVES
da Folha de S.Paulo

Mais que um registro histórico, no livro "A Conturbada História das Bibliotecas", o escritor norte-americano Matthew Battles, 34, constrói uma narrativa na qual a biblioteca existe, ela mesma, como uma obra literária.

"Os milhões de livros da biblioteca Widener, em Harvard, inspiraram-me a pensar a biblioteca não como uma instituição, mas como um tipo de livro enorme, um texto literário cujos bibliotecários são os autores."

Dessa perspectiva de quem é responsável pela seção de obras raras da conceituada universidade americana, Battles coloca essas bibliotecas como personagens centrais da história das idéias e dos costumes da humanidade.

Sensíveis aos momentos sociais como toda construção literária, as bibliotecas transformam-se no caminho percorrido da argila mesopotâmica aos bits dos processadores contemporâneos. Com isso afastando-se definitivamente do ranço estático que define ainda o preconceito de muitas pessoas com os acervos.

"As funções da biblioteca variam ao longo do tempo e do espaço, sempre refletindo as necessidades das civilizações. Algumas representam a memória coletiva, outras, a possibilidade do desenvolvimento individual, outras ainda são exemplos do monopólio de informação e educação engendrado pela elite", afirma o escritor.

Assim que, por exemplo, Cosimo de Médici, em 1444, em Florença, na Itália, construiu a primeira biblioteca classificada como "pública": "O termo referia-se não à universalidade do acesso, mas ao palco sobre o qual a igreja, a nobreza e as poderosas famílias mercantis desempenhavam seus papéis e exerciam sua autoridade", escreve Battles.

Nesse sentido, muitos livros e prédios foram destruídos ao longo do bélico século 20, da mesma maneira que o fogo agiu, acidentalmente ou não, em Alexandria, na Catalunha, em Tenochtitlán, na China ou na Inglaterra, entre outros lugares.

Nessa história conturbada, Battles aborda a influência de outras formas que não as conhecidas construções que marcam épocas, como as pequenas "bibliotecas domésticas" norte-americanas dos moradores do campo no início do século 20, alimentadas pela biblioteca da cidade.

Ou ainda, a "genizah" ("receptáculo" em hebraico) das sinagogas, uma espécie de "sepultura para livros", onde os escritos estragados são deixados "até o dia em que serão convenientemente enterrados".

Se o aperfeiçoamento eletrônico na catalogação dos textos nas bibliotecas de hoje parece ameaçar essa aura, Battles mantém o personagem de sua história coerente ao identificar, nas modernas construções, um paralelo com o artesanato medieval.

"Acredito que a biblioteca moderna é similar à medieval no sentido em que os bibliotecários participam da criação dos textos --em particular, ao organizar coleções de materiais para serem distribuídos pelo computador. Estão muito mais intimamente envolvidos com os textos que coletam e mantêm do que estiveram ao longo do século 20, e isso lembra o trabalho dos escribas medievais, que copiavam os livros que mantinham."

No mundo contemporâneo, da avalanche de textos escritos, a biblioteca é um solo importante para manter arquivada a produção infinita, embora jamais completa. Por outro lado, o importante efêmero não é capturado.

"O que é raro hoje, paradoxalmente, é o texto efêmero --notas fiscais, pôsteres, panfletos que passam por nossas mãos diariamente. Não notados agora, eles carregam traços de nossas vidas cotidianas que os historiadores do futuro procurarão. Esses "textos" não passam pelas bibliotecas hoje e empobrece as futuras."

A CONTURBADA HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS. De: Matthew Battles. Editora: Planeta. Quanto: R$ 42 (240 págs.).
 

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