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24/10/2003 - 08h08

Em "Sexo Frágil", o lendário homem sensível ataca outra vez

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XICO SÁ
Crítico da Folha de S.Paulo

OHS, essa praga inventada pela publicidade para vender cremes e ervas finas, ataca novamente. HS vem a ser homem sensível, um produto tão bom quanto cerveja sem álcool, ouvir musica new age, comer picanha sem gordura, ser um macho sem testosterona etc. A coisa é tão séria que apelo para a filosofia eslovena do amigo platônico Slavoj Zizek: isso é que é hedonismo envergonhado.

Ora, essa moral norte-americana do rapaz atordoado --pulverizada sobre a lavoura transgênica das sitcons do mundo inteiro-- é de terceira categoria. Sejamos homens, reconheçamos o triunfo das mulheres. Lindo. Sejamos homens também ao reconhecer o triunfo estético dos gays, que fazem a boa festa, ditam moda e conseguem hoje maior grau de hedonismo sem culpa.

Para não assumir uma coisa nem outra, o discurso machista, covarde como sempre, adotou a tal fábula do homem atordoado. Conta outra, velho Esopo. Pergunta se meu primo lá do parque São Rafael (zona leste) anda perdido diante da mina gostosa que ele conduz até o terminal São Matheus. Nem ela. Questão de classe.

Viva o nariz-de-cera. É que estreou "Sexo Frágil", sobre o assunto, na Globo. O segundo episódio vai ao ar hoje. João Falcão, dono da história, é grande diretor de teatro. Escreveu e dirigiu "Muito Pelo Contrário", sua melhor peça (1981). A sua praia. Na TV, tenta fazer o que se denomina, preconceituosamente, "produto de qualidade". Mas o rapaz tem sustança sim.

O programa peca por cair nessa onda de homens perdidos, como se as mulheres também soubessem o que querem a essa altura da vida. Sintoma de tempos quadrados que ignoram a tragédia que somos juntos. Na boa, tudo é tragédia mesmo, e a tragédia é a grande e bela descoberta. É o gozo deveras. A felicidade é uma arma quente, mas publicitária.

"Sexo Frágil" tem atores que arrebentaram no tal do cinema, aquele que sai da "Grande Família" e vira homem na sexta, uma confusão danada. Só não tem mulher. Os mesmos meninos fazem a vez delas, digo, representam-nas, sem nenhum distanciamento, diga-se. "Noooossa!," diria o finado Costinha. Recurso ousado, diria o também finado Elia Kazan. O que não falta a Falcão e à talentosíssima Flávia Lacerda, que co-dirige o programa, é aventura e coragem, resguardadas as possibilidades de uma emissora cada vez mais conservadora, que acha que a vida se resume a falsa sacanagem e folclore.

Avaliação:

Sexo Frágil
Quando: hoje, às 23h05, na Globo
 

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