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29/10/2003 - 08h13

Peter Mullan retrata totalitarismo católico em panfleto estreito

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JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha

Nos anos 60, na Irlanda, por motivos diversos, três moças vão parar num reformatório feminino comandado por freiras católicas (as "Magdalene sisters" do título original).

Rose (Dorothy Duffy) é mãe solteira. Margaret (Anne-Marie Duff) foi estuprada pelo primo. Já Bernadette (Nora-Jane Noone) não fez nada, mas é bonita e sensual demais, além de órfã.

A partir do prólogo enxuto e contundente que narra o destino de cada uma das três garotas antes de serem trancafiadas no reformatório, "Em Nome de Deus", o segundo longa-metragem dirigido pelo ator Peter Mullan (de "Meu Nome É Joe"), passa a descrever o trabalho forçado das jovens na lavanderia mantida pelas freiras.

É nessa passagem do individual ao coletivo que o filme deixa de aproveitar aquela que parecia ser sua melhor perspectiva, a de um estudo do lugar problemático da mulher numa sociedade profundamente católica.

Em vez de explorar isso --as difíceis relações entre o catolicismo e o feminino--, "Em Nome de Deus" trilha o caminho mais fácil do panfleto, retratando o reformatório como um campo de concentração nazista nos filmes sobre o Holocausto.

Fatos reais

O argumento é o de que "as coisas se passavam realmente assim", reforçado pela frase que ultimamente tem servido de álibi a muito filme medíocre: "Baseado em fatos reais".

Diz um letreiro que cerca de 30 mil garotas foram encarceradas nas lavanderias das irmãs Magdalene até que estas foram fechadas em 1996. Tudo bem. Vale a denúncia. Mas do cinema se espera um pouco mais.

O que salva "Em Nome de Deus" de ser um mero melodrama maniqueísta, de matriz di ckensiana, é o excepcional trabalho das atrizes, além de um ou outro momento brilhante de "mise-en-scène", como o prólogo citado e a seqüência em que se exibe no reformatório "Os Sinos de Santa Maria" (1945), de Leo McCarey. Nessa última passagem o filme consegue até superar seus próprios limites.

A tirânica madre Bridget (Geraldine McEwan) verte uma lágrima e se humaniza por um instante, naquilo que parece ser uma identificação platônica com a freira desempenhada por Ingrid Bergman no clássico de McCarey. A grande ditadora, enfim, também é uma mulher.

Ator de vigor extraordinário, Peter Mullan (que faz uma ponta como o pai violento de uma das internas) extrai de suas atrizes, de um modo geral, uma intensidade e uma sutileza que vão além do figurino estreito imposto às personagens.

Parece que elas querem se libertar não só dos muros do reformatório católico, mas também da estreiteza do roteiro (escrito, aliás, pelo próprio Mullan).

Em todo caso, o longa-metragem conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2002, despertou a previsível ira do clero irlandês e tem um futuro de sucesso pela frente.

Avaliação:

Em Nome de Deus (The Magdalene Sisters)

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