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01/11/2003 - 06h19

"Lentidão" taiwanesa move repescagem da Mostra BR de Cinema

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BRUNO YUTAKA SAITO
da Folha de S.Paulo

O mal-estar tem diferentes causas. E, no cinema de Taiwan, ele se expressa através de um silêncio angustiante. Ou por uma gritaria que ninguém ouve. Nesse duelo, dois diretores apontam para as assombrações que permeiam as relações humanas, num jogo de exorcismo e tortura.

Criador e criatura, Tsai Ming-liang, 46, e Lee Kang-sheng, 34, têm seus "A Passarela se Foi" (curta) e "O Desaparecido" (longa), respectivamente, exibidos hoje e terça no Cinearte, na semana de repescagem da Mostra.

Nos dois filmes --e em toda a obra de Ming-liang--, vê-se um mundo povoado por pessoas solitárias, incômodo justamente por ser tão real. Memória, nostalgia, busca por afeto e incomunicabilidade são moedas correntes.

"Solidão não é apenas estar sozinho. É ter que se acostumar, aprender, conviver com você mesmo. Meu interesse é tentar chegar ao fundo de uma pessoa e achar a sua sensibilidade e seus medos. No isolamento, você tem mais certeza sobre o que quer da vida", diz o diretor.

Em "A Passarela", uma mulher anda a esmo entre a multidão do centro de Taiwan. Quando decide seguir outra mulher, atravessa a rua fora da faixa de pedestres. Ambas são interceptadas por um policial, que pede suas identidades, entre gritos inúteis de protesto. Em paralelo, uma história com Lee Kang-sheng, que se desnuda literalmente para um teste.

Kang-sheng faz sua estréia como diretor no longa "O Desaparecido", após atuar em todos os filmes de Tsai Ming-liang. A lição foi assimilada.

São duas histórias de perdas: uma avó que perde o neto em um parque e sai à sua busca e um adolescente que tenta encontrar seu avô. Nesse cenário, as ruas de Taiwan são tomadas por um vírus.

"Há pessoas e situações de que você sente falta apenas quando as perde. Hoje, as pessoas estão em conflito. Ou você quer ficar junto de alguém ou separado. Não há meio-termo", diz Ming-liang.

Busca pela lentidão

O "mestre" diz que encontrou Lee Kang-sheng quando procurava um típico "bad boy" para integrar o elenco de um filme para a TV, em 88. Após dezenas de testes, infrutíferos, Ming-liang saiu às ruas e encontrou o seu modelo de rebeldia em um fliperama.

Além da temática sufocante, a atmosfera e os planos dos diretores podem facilmente exasperar o espectador habituado ao cinemão comercial americano. Para Ming-liang e Kang-sheng, a pressa é algo desconhecido.

Ming-liang diz que, na verdade, Kang-sheng foi o verdadeiro professor. "Ele tem um ritmo muito esquisito. Fala e anda devagar. No começo, fiquei confuso porque no esquema do cinema um ator precisa ser rápido. Mas, dessa maneira, ele acabou me ensinando o que realmente é interpretar", diz. "Em 'O Desaparecido', Lee interpreta ele mesmo."

"Adeus, Dragon Inn", filme mais recente de Ming-liang, que passou na Mostra e estréia no ano que vem no Brasil, eleva à enésima potência a lógica da lentidão.

Fantasmas, "reais" ou metafóricos, perambulam em um cinema decadente de Taiwan, prestes a fechar. "Todos são como fantasmas. Ao mesmo tempo em que você está nesse mundo, pode não estar no momento seguinte." Assombração bem-vinda, diga-se.

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