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13/11/2003 - 08h52

Patrícia Melo põe "trator interior" no palco

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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

Três paredes disformes envolvem Renata Melo num espaço inóspito, representação da própria cabeça de uma escritora que se funde e se debate, física e verbalmente, com sua personagem.

Esse é o "trator interior", como sugere o texto, que deve atravessar a quarta parede em direção ao público. Com "A Caixa", que tem estréia nacional no próximo sábado, em São Paulo, no teatro Aliança Francesa, a bailarina, coreógrafa, atriz e diretora Renata Melo pisa a dramaturgia essencialmente da palavra.

Em espetáculos anteriores, como "Domésticas", "Slices" ou "Passatempo", o verbo ocupava um segundo plano. Agora, a ação física é casada com a palavra o tempo todo. A atriz monologa ora na condição de escritora mergulhada em crise de criação, ora como personagem da própria que a encosta literalmente na parede. "São almas gêmeas", diz Melo, 47.

O texto foi escrito há dois anos por sua irmã, Patrícia Melo, romancista que já havia enveredado pelo teatro em "Duas Mulheres e Um Cadáver" (2001).

"É o meu texto mais autobiográfico. Esse personagem sou eu", crava Patrícia Melo, 41.

Ela concorda que a crise de criação literária, eixo da peça, pode ser lida como demanda do processo artístico em geral, visão compartilhada pela diretora do espetáculo, Bete Coelho.

"Não partimos da relação criador-criatura, mas da alma artística solitária. O que está em cena é a cabeça de uma mulher falando consigo mesma, reinventando seu texto, sua voz, seu espaço, que pode ser um quarto de hotel, sua casa, um beco", afirma Coelho, 38. "É uma peça sobre liberdade, prisão e redenção."

Atriz de natureza teatral, Coelho propõe que Renata Melo, cuja matriz de trabalho é a dança (fundadora do grupo Marzipan, 1982-90), faça teatro com ela mesma, que "brinque" com as possibilidades de metalinguagem da chamada caixa-preta do palco. "Aqui, não separamos a dança do trabalho físico. As emoções são coladas ao que é dito em cena. A palavra também está no gesto", diz.

Renata Melo jamais exercitou tanto a fala em cena. "A Bete está me introduzindo a uma prática que eu não tinha", afirma. "Está tudo absolutamente assimilado", devolve Coelho. Trata-se do primeiro projeto comum das duas.

Sobre o texto, Melo diz que Patrícia Melo anotou muitas rubricas no texto. "Interessante que, em dois meses de ensaios, fomos nos desprovendo de tudo, inclusive optando pelo espaço cênico mais vazio", diz. A interpretação é ponto de partida e chegada.

Coelho elogia a "secura emocional" das palavras de Patrícia Melo. A autora diz que escrever "A Caixa" não significou um ato de exorcismo, ao contrário. "Arte não é catarse. Escrevi sobre o processo de criação artística e usei as minhas próprias angústias."

Na peça, a personagem-escritora gaba-se de nunca ter sido "possuída" por um personagem, mas, ao longo da narrativa, os "horrores da realidade" vão lhe indicar o contrário. Há a cena, por exemplo, em que a personagem escapa da caixa em que foi presa, deixa o prédio onde sua "dona" mora e ganha as ruas em disparada.
E dá-lhe a caça à criatura, em meio a solavancos e puxões de cabelo.

A CAIXA
De:
Patrícia Melo
Direção: Bete Coelho
Com: Renata Melo
Música original: Marcelo Pellegrini
Criação de luz: Wagner Freire
Cenografia: Daniela Thomas
Onde: teatro Aliança Francesa (r. General Jardim, 182, SP, tel. 0/xx/11/ 3123-1753)
Quando: estréia sábado, dia 15; sex., às 21h30; sáb., às 21h; dom., às 19h; até 7/12
Quanto: de R$ 20 a R$ 25
Patrocinador: BrasilTelecom
 

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