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14/11/2003 - 08h18

Gal Costa lidera bloco dos "sem-contrato"

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo, no Rio

"A internet vai mudar a cara das gravadoras e o futuro da discografia. Não será mais preciso comprar um disco de Gal Costa, as pessoas comprarão suas faixas avulsas na internet."

Quem faz a profecia é a cantora Gal Costa em pessoa, no exato momento em que lança "Todas as Coisas e Eu", seu segundo álbum sob o signo "independente" (embora goze de distribuição da Som Livre, da Rede Globo).

Afirmando que não manterá mais contrato fixo com gravadora, Gal vem de negociação tumultuada com a Indie Records, que banca o CD. Tomado por sambas-canções das décadas de 20, 30, 40, 50, 60 e 70, ele seria gravado também em DVD, mas o alto orçamento foi vetado pela Indie.

Seu caso não é isolado. Desde que Maria Bethânia inaugurou a onda, mudando-se da BMG (de onde também saiu Gal) para a independente Biscoito Fino, mais e mais artistas da geração heróica da MPB têm ficado sem contrato fixo com uma multinacional.

Milton Nascimento acaba de anunciar o encerramento de sua união com a Warner. João Bosco saiu da Sony, Simone não está mais na Universal, Paulinho da Viola se separou da BMG.

Um empresário de grande artista afirma à Folha, sob condição de não se revelar, que contratos de grande vulto e cheios de mordomias persistem na grande indústria apenas como resquícios. Segundo ele, quem continua numa grande gravadora teve obrigatoriamente que rediscutir --para menos-- as bases de contrato.

A empresária de Maria Bethânia, Maria Luísa Jucá, confirma essa avaliação. "A gravadora queria rediscutir o contrato de Bethânia, por causa da crise do mercado. Mas artistas do porte dela são inegociáveis, seria um desrespeito à história de Bethânia", diz Jucá. Desfeito o vínculo, o primeiro disco independente de Bethânia, "Maricotinha ao Vivo" (2002), vendeu 100 mil cópias.

A empresária de Milton Nascimento, Marilene Gondim, diz que seu caso foi diferente. "Quando a Warner sentou para conversar sobre renovação com Milton, ele disse que não queria", afirma.

Segundo ela, Milton quer desenvolver seu próprio selo passando a gravar artistas jovens, e isso seria comercialmente inviável dentro da Warner.
Por ironia, o artista sai da Warner após haver apadrinhado a chegada de Maria Rita (350 mil cópias vendidas) à gravadora.

O presidente da companhia, Cláudio Condé, nega que os altos custos de manter Milton houvessem sido trocados pelo giro rápido de Maria Rita. "Não existe relação entre os dois fatos. A Warner contratou Maria Rita pelo seu talento e porque acreditou no que ela representaria para a MPB."

Mesmo quem continua em grande gravadora testemunha a mudança de condições em tempos recentes. É o que diz Airton Valadão Jr., empresário de Jorge Ben Jor, contratado da Universal.

"Fazer um bom contrato hoje é muito mais difícil que há quatro ou cinco anos. A Universal está respeitando tudo que negociamos, mas Jorge está facilitando, conhece a realidade."

De volta a Gal Costa, a maior voz feminina do tropicalismo hoje regrava sucessos de Araci Cortes, Dalva de Oliveira, Isaura Garcia, Dick Farney, Altemar Dutra, Elis Regina etc., sob produção do global Mariozinho Rocha.

Ela não reconhece relação entre a instabilidade atual e as constantes oscilações de sua carreira e seus discos recentes. "Não tem que entender onde estou focando, tem que ver que estou cantando lindamente, melhor que nunca", responde à pergunta sobre uma eventual falta de foco definido em sua obra recente.

Diz que canta os temas de fossa "Brigas", "Fim de Caso", "Nervos de Aço" etc. de forma leve, em pique de "alto astral", sem nexo com a dor-de-cotovelo em voga nos anos 50. E não se importa que isso pareça contraditório. "Tudo na vida é contradição, meu filho."

TODAS AS COISAS E EU - Disco de Gal Costa
Lançamento: Indie/Som Livre
Quanto: R$ 28, em média

O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da Indie Records.
 

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