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14/11/2003
-
06h07
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo
Passadas as responsabilidades e pressões que costumam acompanhar um segundo trabalho, o músico pernambucano Otto, 35, chega a seu álbum mais tranquilo, em termos musicais. Sintomaticamente, o título do terceiro CD é "Sem Gravidade".
Comparado à urgência de "Samba pra Burro" (98) e à orgia sonora de "Condom Black" (2001), "Sem Gravidade" soa manso às primeiras audições.
Para quem se acostumou a um Otto inquieto e chamuscante de referências musicais, um quase silêncio em "Sem Gravidade" chega causando estranheza, até quem sabe impressão de acomodação.
Dentro desse espírito, sobressaem logo baladas ternas (e tristonhas) como "Pra Quem Tá Quente", "Amargosa" e "Dedo de Deus". A um espírito propriamente romântico pertence a releitura desafinada de "Pra Ser Só Minha Mulher", sucesso no final dos anos 70 em gravações de Roberto Carlos e de um dos autores da balada açucarada, Ronnie Von.
Após maturado e curtido, no entanto, "Sem Gravidade" vai revelando que a calma e a mansidão talvez sejam a superfície quieta de um vulcão de desassossego, não a própria constituição do disco.
Vai-se vendo como o canto e os arranjos sóbrios ocultam temas de conflito e perplexidade. Nota-se que três palavras tomam conta do disco --"mente" é dona de duas canções, "alma" e "corpo" governam três canções cada (e não necessariamente as mesmas).
As três entidades gravitam em conflito umas com as outras, causando momentos de maior inquietude, como "Tento Entender" (cantada com Rita Lee) e a climática "Sem Gravidade".
Há quem pense que suas letras são desconexas --além de surrealistas, costumam casar esses extremos no modo chocante de confusas mensagens duplas.
Mas não são ocas, nunca, e hoje definem bem o nordestino loirão que se debate na mansidão e teme a cisão entre alma, corpo e mente --leve sem nenhuma gravidade, pesado com muita gravidade.
Avaliação:
Sem Gravidade
Artista: Otto
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 26, em média
Otto camufla inquietude em "Sem Gravidade"
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da Folha de S.Paulo
Passadas as responsabilidades e pressões que costumam acompanhar um segundo trabalho, o músico pernambucano Otto, 35, chega a seu álbum mais tranquilo, em termos musicais. Sintomaticamente, o título do terceiro CD é "Sem Gravidade".
Comparado à urgência de "Samba pra Burro" (98) e à orgia sonora de "Condom Black" (2001), "Sem Gravidade" soa manso às primeiras audições.
Para quem se acostumou a um Otto inquieto e chamuscante de referências musicais, um quase silêncio em "Sem Gravidade" chega causando estranheza, até quem sabe impressão de acomodação.
Dentro desse espírito, sobressaem logo baladas ternas (e tristonhas) como "Pra Quem Tá Quente", "Amargosa" e "Dedo de Deus". A um espírito propriamente romântico pertence a releitura desafinada de "Pra Ser Só Minha Mulher", sucesso no final dos anos 70 em gravações de Roberto Carlos e de um dos autores da balada açucarada, Ronnie Von.
Após maturado e curtido, no entanto, "Sem Gravidade" vai revelando que a calma e a mansidão talvez sejam a superfície quieta de um vulcão de desassossego, não a própria constituição do disco.
Vai-se vendo como o canto e os arranjos sóbrios ocultam temas de conflito e perplexidade. Nota-se que três palavras tomam conta do disco --"mente" é dona de duas canções, "alma" e "corpo" governam três canções cada (e não necessariamente as mesmas).
As três entidades gravitam em conflito umas com as outras, causando momentos de maior inquietude, como "Tento Entender" (cantada com Rita Lee) e a climática "Sem Gravidade".
Há quem pense que suas letras são desconexas --além de surrealistas, costumam casar esses extremos no modo chocante de confusas mensagens duplas.
Mas não são ocas, nunca, e hoje definem bem o nordestino loirão que se debate na mansidão e teme a cisão entre alma, corpo e mente --leve sem nenhuma gravidade, pesado com muita gravidade.
Avaliação:
Sem Gravidade
Artista: Otto
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 26, em média
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