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07/12/2003
-
04h13
BIA ABRAMO
Colunista da Folha de S.Paulo
A série "Friends", como já se sabe, vai acabar ao se encerrar sua décima temporada, em maio de 2004. Nesta semana, numa antecipação do clima que deve tomar fãs no mundo inteiro, Jennifer Aniston derramou lágrimas ao falar de seus colegas de seriado no programa de Oprah Winfrey. Não havia melhor lugar para iniciar a maratona de despedida da série.
O último episódio de "Friends", provavelmente, baterá uma meia dúzia de recordes de audiência, de preço do minuto de publicidade etc., a exemplo do que aconteceu com o final de "Seinfeld", em 1998. Não é a série mais longeva na TV norte-americana --este recorde pertence a "Frasier", 11 anos no ar-- nem a mais popular, mas é aquela que, entre as que estão em exibição, combinou bons índices de audiência e prestígio crítico.
De muitas maneiras, "Friends" é um marco na história das comédias de situação. Ao lado de "Seinfeld", fixou um certo humor jovem adulto urbano. Ainda que o famoso "seriado sobre o nada" estivesse léguas à frente em termos de ironia e que seus personagens fossem mais desajustados , partilha com "Friends" o mesmo universo de preocupações da vida urbana moderna.
De lá, da ilha de Manhathan, cenário dos dois seriados e balão-de-ensaio dessa cultura, é que irradia tal modo de vida, constituído de relacionamentos amorosos mais ou menos fadados ao fracasso, muita ansiedade sexual, um feroz consumismo, individualismo beirando à anomia --e, ao mesmo tempo, senso de humor de intensidade quase maníaca.
É notável o trabalho de roteiro e diálogos de "Friends", que, apesar de estar no ar há quase uma década, volta e meia ainda consegue fazer rir de verdade. O seriado também teve a sorte (ou a competência, provavelmente uma mistura dos dois) de achar e revelar ótimos talentos cômicos, sobretudo os femininos. Jennifer Aniston, apesar da cara e nariz de patricinha, é atriz de variados recursos para a comédia. Lisa Kudrow, ajudada também pelo personagem mais amalucado livre de ligações românticas "sérias" para o andamento da história, impõe-se como um dos maiores de sua geração.
Mas "Friends", ao contrário de "Seinfeld", também acende muitas velas para o conformismo. Parte do enorme apelo da série --dez anos no ar, sempre entre os primeiros lugares de audiência no concorridíssimo horário nobre dos EUA-- reside nesse balanço entre a comédia competente e os cânones do bom-mocismo televisivo, que, de resto, é a marca das nove entre dez sitcoms bem-sucedidas. Depois de uma década de idas e vindas, de acertos e desacertos, os amigos do Central Park, ao final, vão deixar de brincar de adultos e tornarem-se, de fato, adultos como se espera, com casamentos, filhos, ganhadores e perdedores e, claro, mais choradeira.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
Crítica: "Friends" fixa o humor da vida urbana
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Colunista da Folha de S.Paulo
A série "Friends", como já se sabe, vai acabar ao se encerrar sua décima temporada, em maio de 2004. Nesta semana, numa antecipação do clima que deve tomar fãs no mundo inteiro, Jennifer Aniston derramou lágrimas ao falar de seus colegas de seriado no programa de Oprah Winfrey. Não havia melhor lugar para iniciar a maratona de despedida da série.
O último episódio de "Friends", provavelmente, baterá uma meia dúzia de recordes de audiência, de preço do minuto de publicidade etc., a exemplo do que aconteceu com o final de "Seinfeld", em 1998. Não é a série mais longeva na TV norte-americana --este recorde pertence a "Frasier", 11 anos no ar-- nem a mais popular, mas é aquela que, entre as que estão em exibição, combinou bons índices de audiência e prestígio crítico.
De muitas maneiras, "Friends" é um marco na história das comédias de situação. Ao lado de "Seinfeld", fixou um certo humor jovem adulto urbano. Ainda que o famoso "seriado sobre o nada" estivesse léguas à frente em termos de ironia e que seus personagens fossem mais desajustados , partilha com "Friends" o mesmo universo de preocupações da vida urbana moderna.
De lá, da ilha de Manhathan, cenário dos dois seriados e balão-de-ensaio dessa cultura, é que irradia tal modo de vida, constituído de relacionamentos amorosos mais ou menos fadados ao fracasso, muita ansiedade sexual, um feroz consumismo, individualismo beirando à anomia --e, ao mesmo tempo, senso de humor de intensidade quase maníaca.
É notável o trabalho de roteiro e diálogos de "Friends", que, apesar de estar no ar há quase uma década, volta e meia ainda consegue fazer rir de verdade. O seriado também teve a sorte (ou a competência, provavelmente uma mistura dos dois) de achar e revelar ótimos talentos cômicos, sobretudo os femininos. Jennifer Aniston, apesar da cara e nariz de patricinha, é atriz de variados recursos para a comédia. Lisa Kudrow, ajudada também pelo personagem mais amalucado livre de ligações românticas "sérias" para o andamento da história, impõe-se como um dos maiores de sua geração.
Mas "Friends", ao contrário de "Seinfeld", também acende muitas velas para o conformismo. Parte do enorme apelo da série --dez anos no ar, sempre entre os primeiros lugares de audiência no concorridíssimo horário nobre dos EUA-- reside nesse balanço entre a comédia competente e os cânones do bom-mocismo televisivo, que, de resto, é a marca das nove entre dez sitcoms bem-sucedidas. Depois de uma década de idas e vindas, de acertos e desacertos, os amigos do Central Park, ao final, vão deixar de brincar de adultos e tornarem-se, de fato, adultos como se espera, com casamentos, filhos, ganhadores e perdedores e, claro, mais choradeira.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
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