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10/12/2003
-
07h59
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
A literatura anda em alta nas altas horas da TV. Há quatro semanas foi ao ar na Globo o primeiro "Cena Aberta", programa das terças-feiras, às 23h, que adapta obras literárias e, ao mesmo tempo, faz uma espécie de making of da adaptação. O programa propõe ainda que atores profissionais contracenem com amadores.
Na última segunda, a TV Cultura estreou "Contos da Meia-Noite" (apesar do título, não há suspense), uma série de curtas de dez minutos em que um ator ou atriz interpreta sozinho um conto de algum escritor brasileiro.
Os dois programas são mais que bem-vindos e merecem vida longa. Uma comparação rápida sugere concepções autorais, com alguns pontos de contato, mas, em certa medida, opostas. Um contraste pode ajudar a abalizar cada um dos projetos.
Em ambos, a seleção de títulos obedece a uma combinação eclética de textos clássicos, modernos e contemporâneos, brasileiros, com destaque para obras que já foram adaptadas para o cinema.
"Cena Aberta" estreou com "A Hora da Estrela", com direito a depoimento de Clarice Lispector. "Contos da Meia-Noite", com "Um Apólogo", pequena obra-prima de Machado, na interpretação privilegiada de Marília Pêra.
Os dois programas fizeram jus a Simões Lopes Neto, escritor gaúcho pouco conhecido do grande público, que por conta desse florescimento das letras mereceu adaptações televisivas sucessivas.
"Cena Aberta" levou "Negro Bonifácio". "Contos da Meia-Noite" mostra na próxima sexta "Duelo de Farrapos", na interpretação de Beth Goulart.
O terceiro episódio de "Cena" atacou de auto-reflexão com o tema "Folhetim", baseado em Marcos Rey. Destaque para revelações de Sílvio de Abreu. O segundo "Contos", ontem, foi "Zap" de Moacyr Scliar, na pele de Antonio Abujamra.
Diferenças
As semelhanças param aí. Em sua louvável busca do grande público, "Cena Aberta" vem beirando o didatismo. No pólo oposto, "Contos da Meia-Noite" exala um tom hermético.
O programa de Guel Arraes, Jorge Furtado e Regina Casé --uma co-produção da emissora carioca com a Casa de Cinema, de Porto Alegre-- que dá continuidade ao trabalho do grupo, privilegia a interação, da equipe entre si, com o texto e com o público.
Já a série dirigida pelo videomaker Éder Santos estimula a relação dos atores --em performance solo-- com texto e câmera. O diretor recorta e cola eletronicamente esse material, acrescentando imagens e música instrumental a posteriori.
"Cena Aberta" desconstrói a pompa. "Contos da Meia-Noite" faz o movimento inverso. Em outro diapasão, vale lembrar feitos literário-televisivos anteriores, como "TV de Vanguarda" na Tupi, "Medéia", com Fernanda Montenegro, ou "A Dama das Camélias", com Glória Menezes, dentre muitos "Casos Especiais", que fizeram poesia --e em horário nobre. Seria bom revê-los.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
CENA ABERTA
Quando: terça, às 22h40, na Globo
CONTOS DA MEIA-NOITE
Quando: de seg. à sex., às 24h, na TV Cultura
Análise: Literatura ganha espaço na TV
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especial para a Folha
A literatura anda em alta nas altas horas da TV. Há quatro semanas foi ao ar na Globo o primeiro "Cena Aberta", programa das terças-feiras, às 23h, que adapta obras literárias e, ao mesmo tempo, faz uma espécie de making of da adaptação. O programa propõe ainda que atores profissionais contracenem com amadores.
Na última segunda, a TV Cultura estreou "Contos da Meia-Noite" (apesar do título, não há suspense), uma série de curtas de dez minutos em que um ator ou atriz interpreta sozinho um conto de algum escritor brasileiro.
Os dois programas são mais que bem-vindos e merecem vida longa. Uma comparação rápida sugere concepções autorais, com alguns pontos de contato, mas, em certa medida, opostas. Um contraste pode ajudar a abalizar cada um dos projetos.
Em ambos, a seleção de títulos obedece a uma combinação eclética de textos clássicos, modernos e contemporâneos, brasileiros, com destaque para obras que já foram adaptadas para o cinema.
"Cena Aberta" estreou com "A Hora da Estrela", com direito a depoimento de Clarice Lispector. "Contos da Meia-Noite", com "Um Apólogo", pequena obra-prima de Machado, na interpretação privilegiada de Marília Pêra.
Os dois programas fizeram jus a Simões Lopes Neto, escritor gaúcho pouco conhecido do grande público, que por conta desse florescimento das letras mereceu adaptações televisivas sucessivas.
"Cena Aberta" levou "Negro Bonifácio". "Contos da Meia-Noite" mostra na próxima sexta "Duelo de Farrapos", na interpretação de Beth Goulart.
O terceiro episódio de "Cena" atacou de auto-reflexão com o tema "Folhetim", baseado em Marcos Rey. Destaque para revelações de Sílvio de Abreu. O segundo "Contos", ontem, foi "Zap" de Moacyr Scliar, na pele de Antonio Abujamra.
Diferenças
As semelhanças param aí. Em sua louvável busca do grande público, "Cena Aberta" vem beirando o didatismo. No pólo oposto, "Contos da Meia-Noite" exala um tom hermético.
O programa de Guel Arraes, Jorge Furtado e Regina Casé --uma co-produção da emissora carioca com a Casa de Cinema, de Porto Alegre-- que dá continuidade ao trabalho do grupo, privilegia a interação, da equipe entre si, com o texto e com o público.
Já a série dirigida pelo videomaker Éder Santos estimula a relação dos atores --em performance solo-- com texto e câmera. O diretor recorta e cola eletronicamente esse material, acrescentando imagens e música instrumental a posteriori.
"Cena Aberta" desconstrói a pompa. "Contos da Meia-Noite" faz o movimento inverso. Em outro diapasão, vale lembrar feitos literário-televisivos anteriores, como "TV de Vanguarda" na Tupi, "Medéia", com Fernanda Montenegro, ou "A Dama das Camélias", com Glória Menezes, dentre muitos "Casos Especiais", que fizeram poesia --e em horário nobre. Seria bom revê-los.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
CENA ABERTA
Quando: terça, às 22h40, na Globo
CONTOS DA MEIA-NOITE
Quando: de seg. à sex., às 24h, na TV Cultura
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