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19/12/2003
-
06h42
INÁCIO ARAUJO
crítico da Folha
Há pouco, num programa de TV, perguntaram a Clint Eastwood o que ele mais detesta. No seu estilo monossilábico, Clint respondeu: "Clichê". Bem, clichê é tudo o que Xuxa adora --e talvez alguém possa se dedicar à tarefa insana de, a partir daí, fazer um estudo comparativo da obra dos dois.
"Xuxa em Abracadabra", por exemplo, começa com Xuxa fazendo a moça bela, porém solitária, em busca de um príncipe encantado --ou seja, reproduzindo o papel que representa nas revistas de celebridades. Na verdade, ela está a fim de um cara insosso, viúvo com dois filhos, que não lhe dá bola, mas em compensação pede-lhe que tome conta dos filhos enquanto ele vai a uma festa.
Xuxa adora crianças, como todos sabemos, e lá vai ela. Enquanto conta histórias, caem ela e os dois pequenos num livro que contém todos os contos de fadas. Essa indevida intromissão dos humanos embaralha a vida no mundo da fábula, mas tem a vantagem de promover Xuxa ao papel de Bela Adormecida, com o que ela passa mais ou menos metade do filme dormindo, sem necessidade de manifestar seu amor pelas crianças, pela natureza e outras boas causas.
Desde então, "Xuxa em Abracadabra" pode se divertir navegando entre uma fábula e outra, misturando-as, introduzindo um vilão não desinteressante, que imita descaradamente o nosso Zé do Caixão.
Seria justo pagar-lhe royalties pela imagem? Talvez. Em todo caso, a imagem de Zé do Caixão já se tornou, também ela, um clichê. E não vamos esquecer que o diretor Moacyr Góes já mostrou que tem jeito para tratar com clichês (exemplo: em "Maria - Mãe do Filho de Deus", trata-se de recuperar velhos clichês das superproduções históricas hollywoodianas).
Aqui, estamos entregues a um mundo imaginário que a direção de arte trata de tornar fabuloso a cada fotograma, o que cria uma imagem um tanto sobrecarregada. Mas também é verdade que Góes consegue por vezes despertar a platéia com momentos de discreta, porém incisiva, invenção. Um esforço não desprezível num filme por definição limitado, pois consiste em tentar fazer a distinção entre crianças e consumidores, distinção que, aparentemente, Xuxa nunca se preocupou em estabelecer.
Avaliação:
Xuxa em Abracadabra
Direção: Moacyr Góes
Produção: Brasil, 2003
Com: Xuxa Meneghel, Maria Mariana, Márcio Garcia e Cláudia Raia
Quando: a partir de hoje, nos cines ABC Plaza Shopping, Anália Franco, Bristol, Frei Caneca Unibanco Arteplex e circuito
Limitado mundo de fábulas tenta separar crianças de consumidores
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crítico da Folha
Há pouco, num programa de TV, perguntaram a Clint Eastwood o que ele mais detesta. No seu estilo monossilábico, Clint respondeu: "Clichê". Bem, clichê é tudo o que Xuxa adora --e talvez alguém possa se dedicar à tarefa insana de, a partir daí, fazer um estudo comparativo da obra dos dois.
"Xuxa em Abracadabra", por exemplo, começa com Xuxa fazendo a moça bela, porém solitária, em busca de um príncipe encantado --ou seja, reproduzindo o papel que representa nas revistas de celebridades. Na verdade, ela está a fim de um cara insosso, viúvo com dois filhos, que não lhe dá bola, mas em compensação pede-lhe que tome conta dos filhos enquanto ele vai a uma festa.
Xuxa adora crianças, como todos sabemos, e lá vai ela. Enquanto conta histórias, caem ela e os dois pequenos num livro que contém todos os contos de fadas. Essa indevida intromissão dos humanos embaralha a vida no mundo da fábula, mas tem a vantagem de promover Xuxa ao papel de Bela Adormecida, com o que ela passa mais ou menos metade do filme dormindo, sem necessidade de manifestar seu amor pelas crianças, pela natureza e outras boas causas.
Desde então, "Xuxa em Abracadabra" pode se divertir navegando entre uma fábula e outra, misturando-as, introduzindo um vilão não desinteressante, que imita descaradamente o nosso Zé do Caixão.
Seria justo pagar-lhe royalties pela imagem? Talvez. Em todo caso, a imagem de Zé do Caixão já se tornou, também ela, um clichê. E não vamos esquecer que o diretor Moacyr Góes já mostrou que tem jeito para tratar com clichês (exemplo: em "Maria - Mãe do Filho de Deus", trata-se de recuperar velhos clichês das superproduções históricas hollywoodianas).
Aqui, estamos entregues a um mundo imaginário que a direção de arte trata de tornar fabuloso a cada fotograma, o que cria uma imagem um tanto sobrecarregada. Mas também é verdade que Góes consegue por vezes despertar a platéia com momentos de discreta, porém incisiva, invenção. Um esforço não desprezível num filme por definição limitado, pois consiste em tentar fazer a distinção entre crianças e consumidores, distinção que, aparentemente, Xuxa nunca se preocupou em estabelecer.
Avaliação:
Xuxa em Abracadabra
Direção: Moacyr Góes
Produção: Brasil, 2003
Com: Xuxa Meneghel, Maria Mariana, Márcio Garcia e Cláudia Raia
Quando: a partir de hoje, nos cines ABC Plaza Shopping, Anália Franco, Bristol, Frei Caneca Unibanco Arteplex e circuito
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