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01/01/2004 - 06h32

Público do filme nacional cresce 200% em 2003

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Depois do salto virá a queda ou a estabilidade? O cinema nacional inicia 2004 com uma interrogação sobre seu futuro, assinalada pelos resultados excepcionais de 2003.

No ano passado, o público do filme nacional cresceu em torno de 200% em relação a 2002 (22 milhões de espectadores contra 7,2 milhões). Entre os dez longas mais vistos no país, três são brasileiros.

Todos eles trazem o selo Globo Filmes, braço cinematográfico da TV Globo, que deu às estréias a visibilidade dos intervalos comerciais e da grade de programação da emissora, consolidando um formato de lançamento (em associação com distribuidoras nacionais e estrangeiras) antes inalcançável para a produção nacional.

Mas diante desses números, Valmir Fernandes, diretor da Cinemark, rede
de exibição com o maior número de salas no país, afirma: "Não temos a perspectiva de repetir 2003". Fernandes diz que "não é questão de ser negativo, mas realista". Ele cita a expectativa de lançamentos internacionais "aparentemente mais fortes" do que os de 2003 como fator que fará o filme nacional voltar a perder espaço para o estrangeiro.

Que 2004 não se igualará a 2003 em resultados para o cinema nacional é também a opinião de Paulo Sérgio Almeida, proprietário da empresa Filme B, especializada em estatísticas do mercado cinematográfico.

Além de corroborar a avaliação de que as estréias internacionais terão mais peso em 2004, com bilheterias como as do terceiro episódio de "O Senhor dos Anéis" e de "Homem-Aranha 2", Almeida diz que os sucessos nacionais "não estão tão facilmente identificáveis". Estão indefinidas, por exemplo, as estréias dos anunciados "Os Normais 2", "O Coronel e o Lobisomem", novo projeto de Guel Arraes, e "A Grande Família", outro derivado da TV Globo, candidatos certos ao êxito.

Estréias indefinidas

Almeida afirma que, embora haja "fortes candidatos ao sucesso" na cartela de lançamentos de 2004 --casos de "Olga", de Jayme Monjardim, "Cazuza", de Sandra Werneck e Walter Carvalho, "A Dona da História", de Daniel Filho, "O Casamento de Romeu e Julieta", de Bruno Barreto, e dos filmes de Renato Aragão e Xuxa--, seu número "é insuficiente para [repetir] os 22 milhões".

Responsável pelo lançamento de dez dos 20 filmes mais vistos em 2003 no Brasil, o diretor da distribuidora Columbia, Rodrigo Saturnino, afirma que "2004 não tem obrigação de ser melhor ou igual a 2003 e, mesmo que seus resultados finais sejam inferiores, certamente será um ano melhor do que 2001 e 2002, configurando uma série histórica ascendente".

Saturnino calcula que em 2004 haverá mais estréias nacionais (entre 35 e 40 filmes, contra os 31 lançados em 2002) e que elas serão feitas com um número maior de cópias, ou seja, chegando simultaneamente a mais cinemas, o que favorece o aumento da média de público.

"Devemos ter aproximadamente nove grandes lançamentos [estréias com cerca de 300 cópias] e pelo menos outros nove filmes com lançamento entre 30 e cem cópias. Teremos também mais estréias entre dez e 30 cópias e vamos diminuir o número de lançamentos abaixo de dez cópias", afirma o distribuidor.

O cineasta Cacá Diegues, que lançou em 2003 "Deus É Brasileiro" (1,6 milhão de espectadores), afirma que "o que pouca gente se dá conta é de que os bons resultados de público não estão somente nos estouros de bilheteria, mas também nos filmes com menos pretensão comercial".

Diegues avalia que "o sucesso de um filme brasileiro ajuda o sucesso do próximo filme brasileiro, seja ele de que natureza for".

Autor do recordista de bilheteria "Carandiru", Hector Babenco afirma que "este ano e os próximos serão sempre melhores" para o cinema brasileiro, porque agora "temos 22 milhões de espectadores que venceram algum tipo de resistência ao cinema nacional e em 2004 quererão ver outros filmes brasileiros", diz.

Apontando para o nó do parque exibidor brasileiro, que tem salas de cinema em apenas 9% dos municípios do país, Babenco diz que, para melhorar a performance do filme nacional, é preciso também "construir mais salas e melhorar a renda dos brasileiros, o que compete ao governo".

O secretário para o Desenvolvimento das Artes Audiovisuais do Ministério da Cultura, Orlando Senna, diz que, em 2004, o governo tentará promover "correções de rumo em aspectos mercadológicos", incentivando sobretudo a construção de novas salas, através da abertura de uma linha de crédito do BNDES, e "buscando caminhos para que o filme médio [que ambiciona em torno de 500 mil espectadores] tenha uma visibilidade adequada".

Senna afirma que "nenhuma cinematografia vive de blockbusters" e que, em 2003, "o blockbuster e o filme de arrojo, experimental, foram os que marcaram presença no Brasil".

"Ficou faltando o miolo do pão. Temos que cuidar disso, para ter uma cinematografia estável, e não feita de arrancos e quedas", diz.
O cineasta Sylvio Back, que concluiu em 2003 um projeto de longa-metragem iniciado em 1995 ("Lost Zweig"), afirma que "o cinema brasileiro vive antes de sustos do que de surtos". Ele classifica 2003 como "um ano atípico", com "sucessos de público, com alguns títulos nacionais sepultando inclusive blockbusters hollywoodianos", mas também em que "os ventos sopraram enviesados para a maioria dos realizadores, que ficou sem filmes e sem tela".

Na perspectiva de Back, "2004 será, mais uma vez, um ano de dificuldades anunciadas, da captação às filmagens, da finalização à distribuição e exibição", ainda que "todas as faixas etárias [de diretores] e inúmeros projetos tenham sido recentemente oxigenados por recursos estatais".
 

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