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04/01/2004 - 08h42

2004 inicia redescoberta de Charlie Brown e Snoopy

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DIEGO ASSIS
da Folha de S.Paulo

Cinquenta anos e uma revolução nos quadrinhos se passaram entre a estréia de Charlie Brown nos jornais e sua última aparição, em fevereiro de 2000, um dia após a morte de seu criador, Charles M. Schulz, aos 77 anos.

Graças a Jean Schulz, viúva do desenhista, e à editora americana Fantagraphics, essa história volta a ser contada, tira após tira, a partir de 1º de abril de 2004.

O próximo Dia da Mentira marca o início da publicação de "The Complete Peanuts", um dos mais ousados projetos envolvendo a turma de Charlie Brown. Previsto para terminar só em 2016, irá republicar todas as tiras da série "Peanuts" ("Minduim" no Brasil) em 25 volumes semestrais de 320 páginas cada um.

Um serviço que nem o recém-fundado Charles M. Schulz Museum, na Califórnia, havia conseguido realizar até então. "Nos primeiros 20 anos, provavelmente a metade dos originais foi completamente destruída. Sparky [apelido pelo qual Schulz era também conhecido] desenhava, mandava para Nova York para os jornais e não os via de volta", conta Jean, que das 18 mil tiras de "Peanuts" publicadas acredita ter guardadas não mais de 8.000.

Diante disso e da proposta da Fantagraphis para resgatar a obra completa do desenhista, a única solução foi sujar os dedos nos arquivos dos jornais. "Achei que levaria anos, mas quando soube que o primeiro volume ficaria pronto em abril não acreditei!", comemora a viúva.

O primeiro volume trará as tiras de outubro de 1950 a novembro de 1952. Mais arredondado do que nunca, o "bom e velho" Charlie Brown contracena com Patty e Violet, personagens que perderam força ao longo dos anos, com os ainda pequeninos Schroeder e Lucy e, claro, com um certo cãozinho Snoopy, de traços toscos, caminhando sobre quatro patas e distante da complexidade que ganharia mais tarde.

"Certamente os primeiros anos da tira são significativamente diferentes daquilo por que ela viria a ser conhecida. O estilo de desenho de Schulz ficou muito mais solto com o tempo, e os personagens levaram anos até desenvolverem por completo suas personalidades", afirma Eric Reynolds, da Fantagraphics.

Além dos quadrinhos, a editora pretende incluir no volume uma entrevista histórica do desenhista para o "The Comics Journal" e um trecho da biografia que está sendo preparada pelo jornalista David Michaelis, com o consentimento da família, e que só deve ser lançada em 2005. "Quando [Michaelis] me procurou, dizendo que gostaria de escrever a biografia, fui ao estúdio de Sparky e, por coincidência, encontrei a biografia de N.C. Wyeth escrita por ele. Schulz estava adorando esse livro", afirma Jean.

Fã de Wyeth, famoso ilustrador de obras de Louis Stevenson a Júlio Verne, o conservador Schulz talvez não ficasse tão à vontade, no entanto, ao lado de seus companheiros de catálogo na Fantagraphics, a casa dos quadrinhos alternativos e do underground fora-da-lei americano.

"Tecnicamente, Sparky achava [o underground] Robert Crumb um grande artista, mas ele nunca teria feito algo tão... escatológico assim. Ele jamais criou algo que os pais não pudessem ler com os filhos. Podia ficar deprimido às vezes, mas acho que nunca viu o mundo como um lugar terrível para viver," conta Jean, 64, que conheceu o artista num rinque de patinação da família Schulz, em 1973. "Era um ótimo patinador. Continuou jogando hóquei até o ano em que morreu."

Reynolds, no entanto, diz acreditar que o pai de Charlie Brown sempre teve seu lado "underground": "Todos os autores que publicamos usam os quadrinhos para explorar a condição humana e, sob esse aspecto, Schulz está em casa com autores como Chris Ware, Daniel Clowes e Joe Sacco. Ainda que cada um deles use os quadrinhos de maneira bem diferente, Schulz tem mais em comum com eles que com o "mainstream" da Marvel ou DC".

Outro mapa da mina é "Peanuts - The Art of Charles M. Schulz", cuja versão em capa mole acaba de ser lançada. Comandada pelo quadrinista Chip Kidd, a obra reúne fotos raras do desenhista e seu estúdio, reproduções de originais e dos bonequinhos que fizeram a cabeça da garotada nos anos 60 e a fortuna do desenhista nas décadas seguintes.

"[Os licenciados] Eram extensão de sua arte. Ele próprio fazia os desenhos dos produtos", diz Jean. "Sparky dizia que uma tira é só um anúncio de jornal para conquistar leitores. Os jornais as colocam lá não porque gostam da arte, mas porque esperam atrair mais leitores. Não há arte pura. Todos têm que se comprometer em algum ponto."

THE COMPLETE PEANUTS - 1950 TO 1952
De:
Charles M. Schulz
Lançamento: Fantagraphics (www.fantagraphics.com), em 1º de abril de 2004
Preço estimado: R$ 83,95 (320 págs.)

PEANUTS - THE ART OF CHARLES M. SCHULZ
Organizador:
Chip Kidd
Lançamento: Pantheon Books
Preço: R$ 67,46 (368 págs)
Onde encomendar: www.livrariacultura.com.br e www.fnac.com.br

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