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07/01/2004 - 03h39

De volta a São Paulo, Bosco Brasil busca "redenção"

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PEDRO IVO DUBRA
free-lance para a Folha

O acaso quis que "O Acidente" tivesse um começo acidental.

Ariela Goldmann, 37, por volta de 2000, à época mulher de Bosco Brasil, 43, precisou digitar o texto por alguma razão que o dramaturgo não recorda. Foi então que, pela primeira vez, se encantou com a criação do marido, principiada em 94, terminada em 96. A obra lhe inspirou a primeira direção e a peça ganhou o palco com os atores Genézio de Barros e Denise Weinberg no espaço cênico Ademar Guerra, o porão do Centro Cultural São Paulo.

A semelhança datilográfica evoca, de alguma maneira, a história de "Vestido de Noiva" (43), que foi batida à máquina pela mulher de Nelson Rodrigues, Elza. A diferença é que, ao contrário de Goldmann, ela não era encenadora. E que não entendeu direito a obra que tinha pela frente.

"O Acidente", que ganha nova versão a partir de amanhã, no Teatro da Aliança Francesa, é uma das criações anteriores ao "acidente de percurso" que foi "Novas Diretrizes em Tempos de Paz". O êxito encampado por Dan Stulbach, Jairo Mattos e depois Tony Ramos, com direção de Ariela Goldmann e iluminação de Gianni Ratto, projetou o nome de Bosco Brasil dos círculos teatrais para o grande público.

"O sucesso de 'Diretrizes' foi uma mancha no meu currículo, só me criou problemas", brinca Bosco Brasil, que tira o seu sustento regular dos trabalhos que escreve para a televisão.

Pouco depois de sua peça mais famosa, o autor estreou "O Dia do Redentor", no Rio de Janeiro, onde se encontra radicado por tempo indeterminado, em "recuo tático". A montagem não teve boa carreira. "O 'Redentor' carregava uma expectativa, eu também queria mostrar outros lados meus. No caso, foi ótimo [o insucesso], porque fiquei tranquilo, não era mais uma unanimidade."

A nova montagem de "O Acidente", estreada na carioca Casa de Cultura Laura Alvim, em outubro de 2003, tem direção de Cibele Forjaz ("Toda Nudez Será Castigada"), colega de faculdade de Bosco Brasil na USP, e traz no elenco Louise Cardoso e Marcelo Escorel. O par trabalhou junto em "A Rosa Tatuada", do norte-americano Tennessee Williams.

No texto, "drama lírico, irônico e cruel", é apresentada a reunião de Mírian e Mário, duas pessoas "estranhas", "diferentes", que se encontram no apartamento dele, onde há a sua festa de aniversário fracassada, a que só ela, colega de trabalho, comparece.

"Trata-se de um texto com um caráter político, que muita gente não apreende, e de um texto bem paulistano. Tem um dado que é muito importante, que é o fato de as pessoas trabalharem numa grande corporação, a idéia da impossibilidade de você trabalhar fora da corporação, o peso da corporação em cima das pessoas."

Bosco Brasil encontra também afinidades entre "O Acidente" e "Novas Diretrizes em Tempos de Paz". "O trabalho nos limites do realismo, nas suas fissuras, é uma coisa comum aos dois. Outro aspecto é que há sempre a constatação da construção do outro através do eu, referência ao [filósofo austríaco de origem judaica] Martin Buber", diz o escritor, que, sem ter encomendas urgentes, segue criando dramaturgia.

Na Argentina

A peça é produzida por Louise Cardoso, 48, que divide o ofício de interpretar com a parte operacional dos espetáculos há 13 anos.

A atriz produziu "Um Bonde Chamado Desejo", de Forjaz, e queria representar um texto brasileiro. Marcelo Escorel participou de uma leitura de "O Acidente" na Casa da Gávea e mostrou o texto à artista. Cardoso gostou e garantiu os direitos da peça do criador de "Budro" (93).

"Depois de 'Diretrizes', as pessoas queriam ler outros textos. Ana Beatriz Nogueira quis fazer 'O Acidente'. Ela me telefonou um dia depois de a Louise me ligar. Roberto Bomtempo e Marília Pêra iam fazê-lo, mas houve problemas de agenda. Outras pessoas se interessaram", declara o dramaturgo.

Bosco Brasil esteve presente aos ensaios e à maioria das apresentações da montagem, que contou com uma equipe de encenação (Cibele Forjaz), cenografia e figurinos (Simone Mina) e iluminação (Alessandra Domingues) composta por integrantes da Cia. Livre (leia mais no texto ao lado).

"É o primeiro autor vivo que participa como se fosse da companhia. Chamávamos o Bosco de papai, ele acompanhou todo o processo, sempre muito a favor", afirma a produtora.

Depois da temporada paulistana, "O Acidente", peça publicada no livro "Teatro Brasileiro, volume 5", pela Hamdan Editora, em 2002, deve excursionar por Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília. Uma versão argentina de "Novas Diretrizes em Tempos de Paz" estréia no final do mês no país vizinho.

O ACIDENTE
Texto:
Bosco Brasil
Direção: Cibele Forjaz
Com: Louise Cardoso e Marcelo Escorel
Onde: teatro Aliança Francesa (r. General Jardim, 182, região central, SP, tel. 0/ xx/11/3123-1753)
Quando: estréia amanhã, às 21h; de qui. a sáb., às 21h, e dom., às 18h; até 29/2. 75 min. 14 anos
Quanto: R$ 25 (qui. e sex.) e R$ 30 (sáb. e dom.)
Patrocínio: Correios e Embratel

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