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31/01/2004 - 05h25

Revistas tentam "popularizar" a história

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RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Existem várias revistas brasileiras de divulgação que procuram traduzir temas mais ou menos complexos ao público em geral: falam de ciência, de medicina e saúde, de aviação, tecnologia militar, de automóveis. Fazia anos que não havia nenhuma que tratasse de história.

De repente, surgem três revistas populares de divulgação de história: "Nossa História", "Aventuras na História" e "História Viva". Concorrência faz bem, apesar dos perfis distintos.

"Tudo é História" era o nome de uma coleção de livrinhos da Editora Brasiliense. O título é perfeito, pois, de fato, tudo que existe tem sua óbvia origem em algo que aconteceu antes, seja a história mais tradicional dos governos e guerras e revoluções, seja aquela do cotidiano, da vida privada, da tecnologia.

O passado é uma espécie de supermercado no qual as pessoas --e as revistas-- buscam nas gôndolas aquilo que lhes interessa. Ao comemorar efemérides, as autoridades procuram lembrar o que pega bem. Alemães não comemoram a tomada do poder por Adolf Hitler em 1933. Pela primeira vez, neste ano, um governante da Alemanha foi convidado a participar da festa dos 60 anos do Dia D, a invasão anglo-canadense-americana do norte da França que iniciou a expulsão dos alemães dali na Segunda Guerra.

A mais pop delas, "Aventuras na História", com a grife da revista "Superinteressante", é voltada para um público mais jovem. Um número dela traz um texto sobre samurais, algo na moda no momento por conta de um filme com Tom Cruise, e um texto sobre o Drácula histórico, "o príncipe medieval que inspirou as lendas de vampiros".

Muitas ilustrações, infográficos e fotos servem para tornar a leitura mais ágil, algo que também foi copiado, mas mais discretamente, pelas outras duas revistas.

"História Viva" inclui traduções de uma clássica revista francesa, a "Historia" (sem acento). Na França há mais de uma revista de divulgação de história. No Reino Unido há outra publicação antiga e importante, a "History Today". Nos EUA, curiosamente, é mais comum ver revistas devotadas à história militar --como "Military History" e "Military History Quarterly"--, talvez um reflexo do papel dessa república imperial no mundo de hoje.

"Nossa História", editada pela Biblioteca Nacional, se concentra em história brasileira, e há mais textos de historiadores do que de jornalistas, dois profissionais que lidam essencialmente com a mesma matéria-prima, embora com "timings" bem diferentes.

Autores

Jornalistas têm escrito muitos best-sellers tratando de temas históricos. Dois nomes óbvios são Eduardo Bueno, autor de livros sobre a descoberta do país e os primórdios da colonização, e Elio Gaspari, colunista da Folha e autor de livros sobre o regime militar. Os dois comparecem com textos nessas revistas.

Bueno é chamado por muitos historiadores, invejosos de seu sucesso editorial, de "Paulo Coelho da história". É gente que associa "divulgar" com "tornar vulgar".

Pois raros são os historiadores que sabem escrever textos atraentes para um público leigo, como reconhece um dos melhores deles, José Murilo de Carvalho, em texto no primeiro número de "Nossa História". Carvalho elogia o botânico alemão Karl von Martius, que apresentou o estudo "Como se deve escrever a História do Brasil", em 1843.

"Preocupados legitimamente em distinguir seu trabalho do de outros profissionais, sobretudo de jornalistas, nossos historiadores acabaram desenvolvendo um estilo que se aproxima da linguagem empolada e tortuosa condenada por Martius", escreveu Carvalho. "O campo foi tomado por jornalistas e outros profissionais, cujo êxito editorial mostra que existe grande interesse popular pela história", continua ele.

Como mostra texto do historiador Ricardo Maranhão na revista rival, "História Viva", existe quem aprendeu a lição de Martius. Maranhão mostra que a chamada "cozinha mineira", na verdade, é oriunda de São Paulo. Sem dúvida, um texto de apelo popular, mas com rigor histórico.

HISTÓRIA VIVA
Editora: Duetto (R$ 8,90)

NOSSA HISTÓRIA
Editora: Biblioteca Nacional (R$ 6,80)

AVENTURAS NA HISTÓRIA
Editora: Abril (R$ 7,95)
 

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