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02/02/2004 - 09h47

Compositor Paulo César Pinheiro canta saudade da beleza

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MÁRVIO DOS ANJOS
da Folha de S.Paulo

Um disco de composições sem parceiros. Um livro sem prefácio, com orelha do próprio autor. Não há dúvidas de que, neste momento da carreira, o poeta, cantor e compositor Paulo César Pinheiro, que faz 55 anos em abril, optou, ou teve que optar, pela solidão.

"Quem eu queria que dissesse alguma coisa no disco já morreu", diz Pinheiro, referindo-se aos antigos parceiros Tom Jobim, Rafael Rabello e João Nogueira, entre outros a quem "O Lamento do Samba" é dedicado. Célebre como letrista, Pinheiro soma oito discos gravados, mas este é o primeiro sem parcerias. "Eu sempre compus sozinho, mas na hora de gravar eu esquecia das minhas músicas. Comecei a ver que, entre as músicas guardadas, havia um disco", afirma.

O tom da solidão de "O Lamento do Samba", nostálgico e triste, percorre cada uma das 12 faixas. Amores ausentes, perdas, saudade amarga de tempos bons. Para Pinheiro, era fundamental que o disco fechasse um conceito. "Há duas coisas que eu queria mostrar: primeiro, o samba na sua essência original, como canto de lamento e de resistência desde a escravidão; e que o samba está perdendo esse lamento. Ao se misturar com outros gêneros não tão ricos, ele se empobreceu melódica e harmonicamente."

"Sinto falta de beleza. Hoje tudo é feito muito nas coxas", afirma Pinheiro, para quem qualquer refrãozinho de mesa de bar está se tornando samba. "Desses eu faço uns 15 por dia e jogo no lixo. Esse pagode de bar que se ouve por aí é ótimo, mas como brincadeira. Sinto falta do tratamento bonito que antes se dava à música."

Segundo o compositor, a modernidade no samba está ligada à intimidade com a tradição canônica do samba. Uma intimidade de que se ressentiriam alguns artistas que propõem revisitas ao gênero, na opinião de Pinheiro, como a banda Los Hermanos, elogiada pela abordagem roqueira do ritmo. "Tenho o disco deles, mas não gosto. Falta a eles conhecimento maior dessa tradição."

Se a amargura tinge a nostalgia do disco, no quarto livro de sua faceta poética, "Clave de Sal", a saudade é mais alegre. Vem da infância e adolescência no litoral sul fluminense, entre o Rio e Angra dos Reis. Seus poemas marítimos trazem lembranças da convivência com o avô, o pescador Jango, recordações do impacto da obra de Jorge Amado no compositor e ensinamentos do mestre Dorival Caymmi, que Pinheiro considera "o próprio mar".

O LAMENTO DO SAMBA. Lançamento: Quelé. Quanto: R$ 28.

CLAVE DE SAL. Editora: Gryphus. Quanto: R$ 32 (192 págs.).
 

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