Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
03/02/2004 - 08h51

Prêmio do cinema espanhol revela nova geração de cineastas do país

Publicidade

IVAN PADILLA
free-lance para a Folha, em Barcelona

É tempo de renovação no cinema espanhol. Depois da consagração nas últimas duas décadas de diretores como Carlos Saura, Bigas Luna, Fernando Trueba e Pedro Almodóvar, uma nova geração impulsiona a produção cinematográfica do país.

Os novos talentos estiveram presentes na cerimônia da 18ª edição do Prêmio Goya --a versão espanhola do Oscar-- na noite do último sábado, no palácio de Congressos, em Madri.

O grande vencedor da noite foi "Te Doy Mis Ojos", com sete prêmios no total: melhor filme, direção, roteiro, ator e atriz principais, roteiro original e efeitos sonoros.

A diretora Icíar Bollaín, 37, aborda no filme um problema grave na Espanha: a violência doméstica. Na vida real, 42 mil mulheres denunciaram agressões de seus parceiros em 2003. Na trama, Laia Marull interpreta uma mulher humilhada pelo marido. Dependente emocionalmente do companheiro (Luis Tosar), ela tem dificuldade em assumir a separação e recomeçar a vida.

Os outros diretores indicados também são jovens e ainda pouco conhecidos fora da Espanha.

O sobrenome de um deles, no entanto, já marcou história no cinema. David Trueba, 34, diretor de "Soldados de Salamina", é irmão de Fernando Trueba, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro com "Sedução" (1992).

"Soldados de Salamina" foi exibido na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e esteve pré-selecionado ao Oscar deste ano. Era um dos favoritos aos principais prêmios, mas levou apenas o de melhor fotografia. O filme é baseado no romance homônimo de Javier Cercas. A história se passa na Guerra Civil Espanhola (1936-39). Narra a investigação de uma escritora sobre as circunstâncias do fuzilamento de um intelectual franquista pelo exército republicano.

Isabel Coixet, 43, não carrega um nome conhecido, mas tem um padrinho de peso. Seu filme, "My Life without Me" (prêmio de melhor roteiro adaptado), leva a assinatura de El Deseo, a produtora de Pedro Almodóvar. O longa narra a história de uma jovem com uma doença terminal e pouco tempo de vida. Sem contar o drama, prepara a vida do marido e das filhas para sua ausência.

Com Sarah Polley, Scott Speedman e Leonor Watling, é o primeiro filme da produtora rodado fora da Espanha. O cenário é a cidade de Vancouver, no Canadá.

"A linguagem do cinema é universal. Tanto é assim que o país onde o filme teve mais sucesso foi o Japão, onde a sociedade é completamente distinta da nossa", disse Coixet à Folha.

Há uma renovação também entre os intérpretes. O ator revelação foi Fernando Tejero, 34, pela comédia "Días de Fútbol", de David Serrano, que conta a saga de um grupo de amigos fracassados, alguns na vida profissional, outros nas relações amorosas, que encontram motivação na formação de um time de futebol de nome sugestivo: Brasil.

O capitão da equipe é Ernesto Alterio, 33, filho do premiado ator argentino Héctor Alterio, que recebeu neste ano a menção honrosa do prêmio.

Ernesto foi indicado à categoria de melhor ator e é o galã da vez do cinema espanhol. O ator participou em 2002 da comédia musical "O Outro Lado da Cama". Contracenou com Paz Vega, 27, a atriz do premiado "Lucía e o Sexo" (2001), de Julio Medem.

Paz é a nova namoradinha da Espanha, a Penélope Cruz do momento. Como em "Lucía e o Sexo", protagoniza tórridas cenas de amor na versão cinematográfica da ópera "Carmen", de Vicente Aranda, vencedora dos prêmios de figurino e fotografia.

Devido a uma disputa judicial, neste ano os apresentadores evitaram mencionar nas nomeações o termo "prêmio Goya". Diziam apenas "o prêmio" ou "o Goya". Isso porque o nome da premiação foi registrado pela Associação de Fotógrafos de Zaragoza, cidade no nordeste da Espanha, em 1985, dois anos antes do início da premiação da Real Academia de Cinema da Espanha.

Se no ano passado a comemoração foi marcada pelos protestos contra a Guerra do Iraque, neste ano as manifestações políticas giraram em torno do repúdio ao ETA, a associação terrorista do País Basco.

O principal alvo dos manifestantes foi Julio Medem, diretor de "La Pelota Vasca. La Piel contra la Piedra". A Associação de Vítimas de Terrorismo acusa o filme de exibir uma posição simpática aos terroristas. Atores e diretores manifestaram apoio a Medem. Muitos usavam broches com frases como "Medem sim, ETA não".

Sucesso internacional

O novo cinema espanhol não é campeão de bilheterias, mas é cultuado em mostras de cinema em todo o mundo. "Te Doy Mis Ojos" foi destaque no Sundance, o festival independente americano. Em dezembro passado, a mostra Spanish Cinema Now teve lugar no Lincoln Center de Nova York.

A produção cresce a cada temporada. No ano passado foram realizados 126 filmes, contra 114 em 2002. As co-produções passaram de 45 para 49. Em reserva de mercado, 16% dos espectadores escolheram ver um filme espanhol, enquanto no ano anterior esse número ficou em 13,7%.

A nova safra de filmes e diretores não forma exatamente uma escola. "Acho que a força do cinema espanhol vem da riqueza da variedade de temas e de gêneros, de denúncias sociais à fantasia, do drama à comédia", diz David Trueba.

"Não há mais uma tendência a imitar Almodóvar, como aconteceu em anos anteriores. O mundo de Almodóvar é muito particular. Existe hoje uma pluralidade de abordagens, e os assuntos estão mais atuais", concorda Coixet.

Almodóvar liderou um movimento chamado "movida madrileña", surgido no início dos anos 80, durante a transição democrática após 40 anos de ditadura do general Francisco Franco.

Reflexo da nova sociedade que surgia, os filmes retratavam a liberdade através de novos meios de expressão, com uma sexualidade mais explícita e personagens polêmicos, como transexuais e freiras libertinas. A partir dos anos 90, com a democracia consolidada, porém com graves problemas sociais como o desemprego no país, os filmes tornaram-se mais sóbrios.

Almodóvar estreará este ano "A Má Educação", seu 15º filme. O tema central arranha os primeiros enredos. Javier Câmara, de "Fale com Ela", Fele Martinez e o mexicano Gael García Bernal são três amigos que se conhecem em um colégio religioso e se reencontram anos depois.

Além de Almodóvar, outros medalhões do cinema espanhol, como Alejando Amenábar, Alex de la Iglesia e mesmo Carlos Saura estréiam produções este ano. Renovação é essencial, mas nem só de novos talentos vive o cinema espanhol.

Leia mais
  • Longa premiado na festa do Goya mostra os dois lados da agressão
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página