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17/02/2004 - 07h22

Ademir Assunção reavalia contracultura em seu romance

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ROGÉRIO EDUARDO ALVES
da Folha de S.Paulo

A contracultura cultivada pelo escritor Ademir Assunção, 42, em seu romance "Adorável Criatura Frankenstein", parece assumir uma conotação diferente daquela explorada pelos seus autores inspiradores, entre eles José Agrippino de Paula e Paulo Leminski.

A diferença não se deve ao estilo, mas ao ambiente sociocultural em que o texto é lido. Do ponto de vista do leitor atual, o convívio intenso com as imagens que são colhidas pelo autor como que corroboram uma espécie de "naturalização" do virtual retratado.

O universo em que abandona seu protagonista, batizado Eu, é um labirinto de virtualidades onde se cruzam figuras da indústria do showbiz, como bailarinas de axé, artistas da MPB e políticos, cercados por índices da cultura pop cuidadosamente colocados.

"O que procurei foi trabalhar o limite entre a ficção e a realidade num mundo bombardeado pelo excesso de informações. O único que não sabe quem é e o que faz na história é justamente o personagem central. Cercado de 'celebridades', ele não distingue mais se Caetano Veloso é ficção e Pernalonga um personagem real, ou vice-versa. Tudo se mistura e ninguém mais sabe sua identidade".

Nesse quadro, nada mais real do que o signo apresentado como índice de virtualidade num país que se quer um "reality show". A pergunta que resta é se esse estado de coisas representaria a esterilidade definitiva da contracultura.

"É evidente que grande parte da mídia, da indústria cultural e do mundo acadêmico tem interesse em esvaziar as posturas que as colocam em xeque. E muitos ditos artistas também banalizam procedimentos que eram radicais. O que era ousadia, vira repetição. Mas o que é conhecimento, inquietação, inventividade, fica intacto; basta ir direto à fonte sem perder tempo com diluições."

O instrumento que o autor utiliza para reavaliar a indústria cultural e reapropriá-la é o deboche. "Dá para se divertir muito ridicularizando os símbolos da sociedade atual: o consumismo, o hedonismo das 'celebridades', a burrice propagada pelas mídias eletrônicas, a vigarice publicitária."

Como matéria-prima, a "fábula contemporânea" de "Criatura Frankenstein" utiliza as palavras e dobra-se sobre si mesma numa revigoração da metalinguagem tão abusada pela literatura atual. Por isso, Eu quer acertar suas contas diretamente com o narrador, o único responsável.

Nesse sentido, a criação de Assunção remete à sua produção poética, particularmente ao livro "Zona Branca" (Altana), cujo título define "uma área de deslocamento, em outra dimensão de espaço-tempo, onde os presidiários são submetidos à incomunicabilidade total, embora possam ver em detalhes tudo o que está acontecendo em torno deles, no chamado mundo real. Os que mantêm a lucidez assistem incrédulos à degradação criada por poderes nem sempre identificáveis".

Reunido entre os nomes que compuseram a polêmica antologia "Geração 90", Assunção --que é um dos editores da revista "Coyote"-- não pestaneja ao criticar a denominação.

"A desinformação e a arrogância da crítica e da imprensa acabaram contribuindo para o surgimento do rótulo. Nos últimos dez anos cansamos de ler textos afirmando que nada é significativo na cultura brasileira. Quem estava informado sabia que era mentira. Gostaria que o rótulo se dissolvesse logo. O que há são ótimos autores contemporâneos, na poesia, na prosa, no teatro, na música."

ADORÁVEL CRIATURA FRANKENSTEIN
De:
Ademir Assunção
Editora: Ateliê Editorial
Quanto: R$ 30 (228 págs.)
 

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