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18/02/2004
-
04h38
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
Há uma misteriosa onda nacionalista no ar.
"Brasil. A gente se vê por aqui" é o mote de vinhetas da Globo que prestam homenagem a figuras tão diversas como a socialite Eleonora Mendes Caldeira, o ator Luiz Gustavo, políticos e secretários de Estado. A campanha da emissora afirma o papel de suas próprias produções na cultura nacional e se associa a personalidades.
Esse foi o espírito das reportagens especiais exibidas pelo "Jornal Nacional" na semana passada. Ecoou também na palestra de Ariano Suassuna. O escritor se posicionou contra o império do gosto médio e a massificação da cultura. O discurso ortodoxo do mestre contrastou com o contexto em que ele foi proferido: a abertura de um evento televisivo.
O autor de "O Auto da Compadecida", que adaptado para a TV conseguiu sintetizar qualidade de produção e quantidade de público, gerou polêmica entre as estrelas da TV e do cinema que participaram do seminário na PUC de São Paulo. Afinal, por que tanto nacionalismo?
A Folha de domingo trouxe pistas. A ótima reportagem de Elvira Lobato sobre o endividamento das empresas de mídia chama a atenção para negociações em curso entre associações do setor e o BNDES.
Dados comparativos indicam que a dívida da Globo é maior que a de outras emissoras. Empresários afirmam não ter conhecimento da proposta encaminhada pelo setor ao governo. Desconfiado, um dirigente da Record se declara contra soluções que privilegiem uns em detrimento de outros.
Mônica Bergamo, no mesmo dia, informa que a Globo busca a parceria de cineastas contra a taxação de produtos audiovisuais pretendida pelo Ministério da Cultura. Fala-se ainda na luta para garantir a manutenção do limite atual de 30% de participação de capital estrangeiro em empresas de comunicação.
É no que não se vê que aparecem explicações para o que se vê. O que não se vê é uma dívida em moeda estrangeira que provavelmente será alongada e nacionalizada com fundos públicos. O que se vê é a busca de apoios para legitimar a operação. Resta saber como e quanto essas articulações garantirão o desejável fortalecimento e diversificação do cinema e da TV brasileira.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
Análise: O que se vê por trás do nacionalismo na TV
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especial para a Folha
Há uma misteriosa onda nacionalista no ar.
"Brasil. A gente se vê por aqui" é o mote de vinhetas da Globo que prestam homenagem a figuras tão diversas como a socialite Eleonora Mendes Caldeira, o ator Luiz Gustavo, políticos e secretários de Estado. A campanha da emissora afirma o papel de suas próprias produções na cultura nacional e se associa a personalidades.
Esse foi o espírito das reportagens especiais exibidas pelo "Jornal Nacional" na semana passada. Ecoou também na palestra de Ariano Suassuna. O escritor se posicionou contra o império do gosto médio e a massificação da cultura. O discurso ortodoxo do mestre contrastou com o contexto em que ele foi proferido: a abertura de um evento televisivo.
O autor de "O Auto da Compadecida", que adaptado para a TV conseguiu sintetizar qualidade de produção e quantidade de público, gerou polêmica entre as estrelas da TV e do cinema que participaram do seminário na PUC de São Paulo. Afinal, por que tanto nacionalismo?
A Folha de domingo trouxe pistas. A ótima reportagem de Elvira Lobato sobre o endividamento das empresas de mídia chama a atenção para negociações em curso entre associações do setor e o BNDES.
Dados comparativos indicam que a dívida da Globo é maior que a de outras emissoras. Empresários afirmam não ter conhecimento da proposta encaminhada pelo setor ao governo. Desconfiado, um dirigente da Record se declara contra soluções que privilegiem uns em detrimento de outros.
Mônica Bergamo, no mesmo dia, informa que a Globo busca a parceria de cineastas contra a taxação de produtos audiovisuais pretendida pelo Ministério da Cultura. Fala-se ainda na luta para garantir a manutenção do limite atual de 30% de participação de capital estrangeiro em empresas de comunicação.
É no que não se vê que aparecem explicações para o que se vê. O que não se vê é uma dívida em moeda estrangeira que provavelmente será alongada e nacionalizada com fundos públicos. O que se vê é a busca de apoios para legitimar a operação. Resta saber como e quanto essas articulações garantirão o desejável fortalecimento e diversificação do cinema e da TV brasileira.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
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