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29/02/2004
-
06h40
FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo, Enviada especial ao Rio
A Cidade de Deus de chinelo de dedo e muito chão de terra batida, na zona oeste do Rio, está dividida entre ver e não ver a "Cidade de Deus" das telas do cinema pisar no tapete vermelho, vestida de gala, para a premiação do Oscar, no Kodak Theatre, em Hollywood.
Na comunidade, o contraste entre a miséria e o glamour provoca às vezes orgulho, às vezes revolta, passando pela indiferença.
"Só vou assistir a esse Oscar se não tiver forró no bairro nem nada melhor na TV", desdenha José Santana, 62, vice-presidente da União Comunitária da Cidade de Deus. "Vou morrer dizendo: esse filme foi uma porcaria para nós, prejudicou a nossa imagem."
Encostada no balcão de sua lanchonete Garota da Praça, um espaço de menos de quatro metros quadrados separado da calçada por um pequeno balcão cheio de coxinhas e empadas, Antônia Gomes, 55, diz que vai assistir ao Oscar "vibrando" pelos garotos de comunidades carentes que atuaram no filme.
Entre seus atores principais, apenas Leandro Firmino da Hora, 25, que interpreta o traficante Zé Pequeno, é morador da Cidade de Deus. Ele está em Hollywood para a cerimônia de entrega do prêmio, enquanto o restante do elenco principal vai assistir ao Oscar no Cine Odeon BR, no Rio.
Aliás, "Cidade de Deus", o filme, não foi rodado em Cidade de Deus, o bairro. A produção não obteve autorização de líderes comunitários e de traficantes para filmar no cenário original do livro homônimo de Paulo Lins.
Apesar disso, o filme tornou célebre a comunidade carioca. Mas se trata de um tipo de fama nada festejada pelos moradores. "Esculhambaram a favela", reclama Arlindo Bandeira, 61, na porta de seu boteco, em frente ao vaivém de jovens de rádio transmissor pendurado no pescoço e arma na cintura. "Depois desse filme, ficou mais difícil até abrir um crediário. Eu não vou ver Oscar nenhum", diz.
Segundo Lima, depois da estréia do filme, em 2002, vários representantes dos governos federal, estadual e municipal estiveram na comunidade e apresentaram uma série de projetos de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida locais. "Até agora, nada aconteceu. Mas, como é ano de eleição, é capaz de o pessoal reaparecer porque temos muitos eleitores e eles querem marcar presença", critica o líder comunitário.
Ovídio Bessa, 66, que atuou em "Cidade de Deus" como avô do personagem Mané Galinha, afirma que vai assistir à cerimônia do Oscar e que vai torcer pelo filme. "Mas eles exploraram a nossa história e, depois, se esqueceram de nós", diz. "Isso me deixa chateado. Mas isso é Brasil."
Especial
Fique por dentro da 76ª edição do Oscar
Moradores da Cidade de Deus se dividem sobre cerimônia do Oscar
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da Folha de S.Paulo, Enviada especial ao Rio
A Cidade de Deus de chinelo de dedo e muito chão de terra batida, na zona oeste do Rio, está dividida entre ver e não ver a "Cidade de Deus" das telas do cinema pisar no tapete vermelho, vestida de gala, para a premiação do Oscar, no Kodak Theatre, em Hollywood.
Na comunidade, o contraste entre a miséria e o glamour provoca às vezes orgulho, às vezes revolta, passando pela indiferença.
"Só vou assistir a esse Oscar se não tiver forró no bairro nem nada melhor na TV", desdenha José Santana, 62, vice-presidente da União Comunitária da Cidade de Deus. "Vou morrer dizendo: esse filme foi uma porcaria para nós, prejudicou a nossa imagem."
Encostada no balcão de sua lanchonete Garota da Praça, um espaço de menos de quatro metros quadrados separado da calçada por um pequeno balcão cheio de coxinhas e empadas, Antônia Gomes, 55, diz que vai assistir ao Oscar "vibrando" pelos garotos de comunidades carentes que atuaram no filme.
Entre seus atores principais, apenas Leandro Firmino da Hora, 25, que interpreta o traficante Zé Pequeno, é morador da Cidade de Deus. Ele está em Hollywood para a cerimônia de entrega do prêmio, enquanto o restante do elenco principal vai assistir ao Oscar no Cine Odeon BR, no Rio.
Aliás, "Cidade de Deus", o filme, não foi rodado em Cidade de Deus, o bairro. A produção não obteve autorização de líderes comunitários e de traficantes para filmar no cenário original do livro homônimo de Paulo Lins.
Apesar disso, o filme tornou célebre a comunidade carioca. Mas se trata de um tipo de fama nada festejada pelos moradores. "Esculhambaram a favela", reclama Arlindo Bandeira, 61, na porta de seu boteco, em frente ao vaivém de jovens de rádio transmissor pendurado no pescoço e arma na cintura. "Depois desse filme, ficou mais difícil até abrir um crediário. Eu não vou ver Oscar nenhum", diz.
Segundo Lima, depois da estréia do filme, em 2002, vários representantes dos governos federal, estadual e municipal estiveram na comunidade e apresentaram uma série de projetos de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida locais. "Até agora, nada aconteceu. Mas, como é ano de eleição, é capaz de o pessoal reaparecer porque temos muitos eleitores e eles querem marcar presença", critica o líder comunitário.
Ovídio Bessa, 66, que atuou em "Cidade de Deus" como avô do personagem Mané Galinha, afirma que vai assistir à cerimônia do Oscar e que vai torcer pelo filme. "Mas eles exploraram a nossa história e, depois, se esqueceram de nós", diz. "Isso me deixa chateado. Mas isso é Brasil."
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