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29/02/2004 - 07h09

Oscar deve finalmente dar prêmios principais a "O Senhor dos Anéis"

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

"Não sabe atuar. Não sabe cantar. Dança um pouco." Ficaram célebres as palavras do anônimo executivo dos Estúdios Paramount que, no começo do século passado, avaliou um aspirante a aspirante chamado Fred Astaire (1899-1987). Fazer previsões no mundo imprevisível de Hollywood conduz a vexames. Mesmo assim, é possível elencar alguns indícios que mostrem a direção que foi seguida pelos mais de 5.000 votantes da Academia.

A produção brasileira "Cidade de Deus" ter sido indicada a quatro categorias do Oscar 2004, nenhuma delas reduto tradicional de filmes estrangeiros, já é um feito histórico --não custa repetir que, em 75 anos da premiação, nunca um produto 100% nacional venceu uma categoria.

Assim, das quatro categorias que o thriller de morro disputa agora, é mais provável que leve uma das três técnicas, possivelmente a de melhor edição (ou montagem), de autoria de Daniel Rezende ("Narradores de Javé", "Diários de Motocicleta").

É nessa estatueta que a própria equipe de "Cidade" aposta --embora, segundo disse à Folha de S.Paulo, o próprio Rezende ache pouco provável a premiação, apostando as fichas no veterano Walter Murch ("Cold Mountain").

Tem certa razão em seus argumentos. O principal concorrente, apesar de ter montado o insosso "Mountain" de maneira tradicional, é prata da casa: já oito vezes indicado, seja por edição de imagem, seja por edição de som, Murch ganhou em 80 por "Apocalipse Now" (som), de Francis Ford Coppola, e em 97 por "O Paciente Inglês" (em ambas as categorias), do mesmo Anthony Minghella que dirige "Mountain".

Já na principal delas, direção, apenas por uma zebra muito grande os telespectadores brasileiros ouvirão o nome de Fernando Meirelles falado com sotaque gringo. Se der o previsto, um outro barbado, o neozelandês Peter Jackson, subirá ao palco do Kodak Theatre para pegar uma das várias estatuetas que a parte final da trilogia "O Senhor dos Anéis" deve faturar hoje à noite, melhor filme inclusive. Será o reconhecimento tardio da indústria à franquia que lhe rendeu US$ 2,8 bilhões mundialmente e conquistou duas das cinco maiores bilheterias de todos os tempos.

Tardio porque a trilogia foi virtualmente ignorada nas outras duas cerimônias. É certo que bateu recorde de indicações em 2002 (13, com quatro vitórias), mas eram todas técnicas, o mesmo ocorrendo no ano seguinte (seis indicações, duas vitórias). Agora, entre as 11 a que "O Retorno do Rei" concorre está parte grande do filé mignon: filme, direção e roteiro adaptado.

Mesmo que não dê Jackson, o próximo da lista seria Clint Eastwood, por seu "Sobre Meninos e Lobos", diretor ignorado pelos votantes até 1993, quando seu "Os Imperdoáveis" levou filme e direção. Não foi a noite do velho caubói? Pois ainda assim é mais provável que a novata Sofia Coppola ("Encontros e Desencontros") seja reconhecida por seu segundo longa do que Meirelles. A briga do brasileiro é pelo bronze, se ele existisse, junto de Peter Weir ("Mestre dos Mares").

Nas duas categorias restantes, os problemas de "Cidade de Deus" são distintos. Na de roteiro adaptado, o livro de Paulo Lins tem de encarar pesos-pesados: ninguém menos que J.R.R. Tolkien (1892-1973), o autor da trilogia "O Senhor dos Anéis", que mesmo antes da adaptação para o cinema movia uma legião de fãs; e o best-seller "Sobre Meninos e Lobos", de Dennis Lehane.

Na de fotografia, o uruguaio-brasileiro César Charlone precisa bater o forte português Eduardo Serra ("Girl with a Pearl Earring"), que já ganhou os prêmios deste ano da Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles e da de San Diego e foi indicado por "Asas do Amor" (1998), e o australiano John Seale ("Cold Mountain"), quatro vezes indicado, uma vez premiado por seu trabalho em "O Paciente Inglês".

E há um outro brasileiro no páreo, Carlos Saldanha, autor do amável "Gone Nutty", um spin-off de um personagem secundário de "A Era do Gelo", o serzinho pré-histórico Scrat, um trocadilho com as palavras "esquilo", "rato" e "rabisco", em inglês, que agora ganhou seu próprio filme, que concorre na categoria de melhor curta de animação. Não vi os outros concorrentes (assim como 99% dos votantes), mas aposto todas as fichas no brazuca.

De resto, a noite deve ser mesmo de Sean Penn, pela excelente performance em "Sobre Meninos e Lobos" (mas que valeria do mesmo jeito se fosse pelo transplantado de "21 Gramas"), e Charlize Theron em "Monster", por seguir a fórmula consagrada do ator que se transforma fisicamente para viver papel difícil.

Até que a noite de hoje prove o contrário.

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