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02/03/2004 - 07h46

Exposição gerada pelo Oscar coloca Brasil no mapa do dinheiro

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SÉRGIO DÁVILA
enviado especial da Folha a Los Angeles

OK, o filme não levou nada no Oscar de anteontem à noite, mas só as quatro indicações inéditas e inesperadas que recebeu "Cidade de Deus" serviram para colocar o Brasil no mapa do dinheiro de Hollywood. Produtores e investidores norte-americanos têm dito a Fernando Meirelles e Katia Lund, em situações diferentes, que o país pode vir a se igualar a paraísos cinematográficos como Canadá, Polônia, Romênia e África do Sul em "investimento cinematográfico direto" --ou seja, virar locações de produções americanas de médio e grande porte.

Para os executivos, o país têm os mesmos atrativos que os outros, quais sejam: impostos mais baixos que os cobrados nos EUA para a indústria cinematográfica, encargos trabalhistas menores e --aí estaria o diferencial-- maior possibilidade de locações do que, por exemplo, o Canadá.

Só faltava os homens do dinheiro de Hollywood saberem disso. As indicações de "Cidade de Deus" serviram para despertar o interesse. "Agora, eles começam a perceber que filmar no Brasil é, antes de tudo, barato para os padrões deles", diz Meirelles.

Um dos grupos interessados é a produtora Anonymous, de Steve Golin, Dave Morrison e Scott Bankston, que acaba de se separar da Propaganda Films (responsável por gemas como "Adaptação" e "Enfermeira Betty") e já tem em seu elenco diretores como Gore Verbinski ("Os Piratas do Caribe") e David Fincher ("Clube da Luta"). Não só. "De janeiro até agora, fomos procurados para uma produção de uma comédia romântica no Rio e um veículo para um rapper", conta Meirelles --as indicações de "Cidade" foram anunciadas em 27 de janeiro.

Experiência semelhante tem Katia Lund. Só nas últimas semanas, recebeu a visita de "diversos" investidores norte-americanos. "Além disso, li mais de 80 roteiros, todos enviados daqui", disse. Apareceram alguns sub-"Cidade de Deus", mas não só. "Veio de tudo, de ação a drama, passando por comédia e documentário", afirma a diretora, que ainda não se decidiu a qual projeto se dedicará agora --sabe que não será a nenhum dos 80 apresentados.

"Mas percebi que o interesse não era só em mim nem nos meninos do 'Cidade', mas no cinema brasileiro como um todo, em nossa indústria", disse ela.

Lund vê uma tendência geral da indústria dos EUA em olhar para além do próprio umbigo e credita o fato à crise de criatividade local, que abriria caminho para talentos de fora, e ao ataque terrorista de 11 de Setembro, que teria colocado nos norte-americanos "disposição de entender o ponto de vista do Terceiro Mundo".

A repercussão positiva da boa campanha de "Cidade de Deus" nos EUA não se restringe à área acadêmica. O escritor Paulo Lins, autor do livro homônimo que deu origem ao filme, é professor-convidado do campus de Berkeley da Universidade da Califórnia.

Ali, vem dando aulas de literatura brasileira para estudantes norte-americanos que já estão no final da graduação e falam português. De lá, deve partir para uma temporada em Stanford. "Começo do Modernismo de 1922, passo pela Geração de 1945, os concretistas", disse ele. "Mas não me restrinjo à literatura. Falo de bossa nova, tropicalismo e exibo filmes para eles." Por enquanto, já mostrou 'Cidade de Deus', claro, mas também o clipe do grupo Rappa que pode ser considerado o ponto zero do filme, além do documentário "Notícias de uma Guerra Particular", de João Moreira Salles e Lund, e quatro episódios da minissérie "Cidade dos Homens".

Não é a primeira experiência de Lins nos EUA. No ano passado, sempre por conta do sucesso do filme, já havia feito uma série de palestras em universidades de peso como Harvard, Brown, Yale e Georgetown. "Vim até Los Angeles para a entrega do Oscar, mas a minha academia sempre foi outra, não a de Hollywood", diz.

Tudo parece conspirar para que o momento do cinema brasileiro seja esse, mas há muito estereótipo a ser desfeito e muito erro a ser corrigido. Anteontem, o colunista Richard Leiby, do influente diário "The Washington Post", comentou o sucesso de Fernando Meirelles e citou a seguinte frase, como tendo sido dita pelo diretor: "Estou muito feliz por um filme falado em português ter conseguido quatro indicações. Este é o melhor momento do cinema português".

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