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12/03/2004 - 20h35

Carlos Nascimento quer jornalismo mais analítico na Band

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CARLA NASCIMENTO
da Folha Online

Após 30 anos de trabalhos quase ininterruptos na Globo e de muitos rumores sobre seu novo contrato, o jornalista Carlos Nascimento, 49, assume na próxima segunda-feira, dia 15, a bancada do "Jornal da Band".

Ao lado dos comentaristas Joelmir Beting e Ricardo Boechat, Nascimento promete levar para o horário nobre do telejornalismo mais análise e menos sisudez.

Divulgação
O jornalista Carlos Nascimento
A explicação que Nascimento dá para ter trocado a maior emissora do país pela Band --que oscila entre terceiro e quarto lugares na audiência-- está no tempo em que ficou na Globo. "Fiz tudo o que poderia ter feito."

Desde 1974 nas Organizações Globo, Nascimento entrou na emissora pelas portas da antiga Rádio Nacional, depois foi para a reportagem de TV, onde trabalhou de 1977 a 1987. Foi correspondente em Madri, e já havia passado pelas bancadas do telejornais "SP Já", "Jornal Nacional" e "Jornal Hoje". Essa trajetória só foi interrompida pelas rápidas passagens que fez pela TV Cultura e pela Record, na década de 80.

Em entrevista à Folha Online, o jornalista disse que a TV brasileira está no "modo de espera", em um período de "transição", e que o público quer coisas novas. Nascimento disse ainda que foi para a Band com a determinação de "ousar" e que pretende fazer um telejornal mais analítico do que o que está sendo feito pelos concorrentes.

Leia a seguir trechos da entrevista:

Folha Online - O que foi determinante na sua saída da Globo após 30 anos?

Carlos Nascimento -
Uma inquietação com o excesso de tempo que eu passei lá. Este ano, se não fossem dois anos que passei na Cultura e na Record, eu completaria 30 de Organizações Globo. É muita coisa! Eu senti que era hora de sair porque as expectativas estavam atendidas. A única coisa que eu não fiz, de uma forma mais incisiva e longa, foi ser correspondente internacional. Mas isso ainda posso fazer. Então, achei que só por causa disso não era o caso de estar lá. Foi isso, nada além disso.

Folha Online - O sr. está saindo da maior rede de TV do país e indo para uma emissora que oscila entre o terceiro e o quarto lugares. Qual a sua expectativa com relação a isso? Que tipo de dificuldades acredita que vai encontrar?

Nascimento - Em primeiro lugar, tamanho não é documento. Estou indo para uma emissora que não é a líder, que não tem uma posição tão boa quanto a Globo, mas é uma empresa que, em termos de jornalismo, já fez muitos investimentos e tem uma estrutura bastante profissional, com a possibilidade de fazer um bom trabalho. Eu diria que quem não conhece, não faz idéia do que é a Bandeirantes... Eu me surpreendi. A empresa está bastante interessada em fazer isso virar, dar resultados. Essa é uma das razões, inclusive, pelas quais eu vim.

Folha Online - O sr. terá total autonomia para fazer o jornal?

Nascimento -
Eu vim pra cá com a determinação de ousar e fazer o que for necessário. Evidentemente, eu não sou o dono da TV Bandeirantes, sou apenas o âncora do jornal e respeito a linha editorial da TV. Até onde eu pude sentir, a linha editorial é bastante elástica e eu tive um encontro com Johnny Saad, que é o presidente da empresa, e não se fez nenhuma menção a algo que não se possa fazer ou falar. Evidentemente, todo jornalista sabe que se deve ter um compromisso com o equilíbrio. O bom-senso que todos nós temos de ter em todas as empresas. Mas eu sinto um terreno muito aberto, muito livre aqui.

Folha Online - Qual é o diferencial que o sr. está propondo em relação aos jornais das outras emissoras?

Nascimento -
Vamos pegar o "Jornal Nacional" e o do Bóris [Casoy, apresentador do "Jornal da Record"], que faz o anti-Jornal Nacional. Em um deles você tem um jornal clássico, tradicional, com notícias apresentadas pelos dois locutores. No outro você tem um jornalista experiente que comenta também a notícia. O que nós pretendemos fazer é um estilo diferente desses dois. Nós vamos dar as notícias, assim como o "Jornal Nacional", vamos comentar as notícias, assim como comenta o Bóris, mas buscando uma saída diferente com o elenco do "Jornal da Band".

Nós vamos ter o âncora e o editor-chefe [o próprio Nascimento], com capacidade de opinar sobre pauta, conversar com repórter, orientar na feitura do jornal e fazer comentário, quando for o caso, mas não por obrigação. Vamos ter o Joelmir Beting, que será o comentarista do jornal, o Ricardo Boechat --que é um dos jornalistas mais bem informados do Brasil em todas as áreas-- e uma editora do tempo, chamada Mariana Ferrão, que é uma loura muito bonita, que vai dar uma nova linguagem a esse quadro do tempo. Teremos também Jorge Kajuru com suas tiradas esportivas dos bastidores. Ele vai nos falar das fofocas do mundo do esporte, não apenas do futebol.

Além disso, os repórteres do jornal terão a missão de transformar as reportagens não apenas em relato de notícias, mas em análise de situações.

Folha Online - O jornal vai ser mais opinativo em relação aos outros...

Nascimento -
Mais analítico, interpretativo e crítico. Opinativo eu não vou dizer porque dá a impressão de que a gente vai ficar dando palpite sobre tudo, o que não é o caso. O que nós queremos é acrescentar valor à informação. Aumentar a expectativa do espectador em cima de cada notícia que nós dermos.

Folha Online - A descontração também será uma marca?

Nascimento -
Nós não queremos ninguém de cara feia. Ninguém bravo, sisudo, sério, no sentido daquela seriedade carrancuda. A gente pretende fazer um jornal ameno no trato, onde as pessoas sejam bem humoradas.

Folha Online - A interação também parece que vai ser a marca do jornal. Haverá troca com o público? Como será?

Nascimento -
A gente quer, evidentemente, que o público participe do jornal. Nosso repórteres vão ouvir muitas pessoas, vão falar com o público. A gente quer que os temas sejam populares, que penetrem na massa. Evidentemente, se pudermos fazer entrevistas ao vivo com o público, vamos fazer, mas essa interação se dará sobretudo entre o elenco do jornal.

Folha Online - Para fazer esse telejornal mais analítico, o sr. pretende fazer alguma mudança na equipe?

Nascimento -
Nenhuma mudança tempestuosa, daquelas que você chega e passa a vassoura. Não é o caso! A gente vai manter a estrutura atual, embora já tenhamos feito algumas mudanças, mas nenhuma demissão, assim, digamos... essas coisas vingativas, tão comuns na nossa área, isso não [risos]. Nunca trabalhei assim. Todos terão chance de demonstrar seu talento, seu interesse e sua capacidade. Aqueles que não se adaptarem e quiserem sair... Eu disse a seguinte frase para eles aqui: "Não sou eu que vou escolher quem irá trabalhar comigo e sim vocês é que irão escolher se querem trabalhar comigo".

Folha Online - Como o sr. vê a TV brasileira hoje? Especificamente os jornalísticos que exploram exclusivamente as tragédias urbanas?

Nascimento -
A televisão brasileira passa por um momento de transformação. Mais que isso, passa por um momento de espera. Nós tínhamos um modelo de televisão no Brasil que funcionou durante muitos anos, que foi esse modelo da Globo. Funcionou e ainda funciona, evidentemente, mas calcado num país que era diferente desse aqui.

Quando você bolava programas na década de 70 e até na década de 80, via um país muito fechado, pouco exigente em termos de pluralidade de informação. Então, o padrão que a Globo criou atendeu àquela necessidade durante 30 anos e serviu de modelo para as emissoras concorrentes. Hoje em dia, mudou tudo. Nesses últimos dez anos, com a abertura política e econômica, a sociedade brasileira ficou mais plural, se internacionalizou. Houve um aumento importante dos meios de informação em termos de quantidade, qualidade, diversidade e a nossa TV não acompanhou essa mudança. Ela ainda está presa àquele modelo que foi bolado nos anos 60 ou 70.

Fora isso, nós tivemos um empobrecimento geral da criatividade e da oferta de talentos também. Esses programas policiais foram a válvula de escape que se viu... Nós estamos esperando que alguém chegue aqui e diga "não é por aí".

Folha Online - O sr. vê alguma possibilidade de mudança dentro deste cenário?

Nascimento -
Vou pegar o caso da Bandeirantes, que é onde eu estou neste momento. Tudo o que eu ouço e respiro aqui é vontade de mudar. Mudar para melhor. Não que exista alguma crítica direcionada para este ou aquele programa, daqui ou de fora. Trata-se de uma insatisfação com o todo e a vontade de fazer coisas novas. A gente, como jornalista, vai tentar fazer alguma coisa nova na nossa área.

JORNAL DA BAND, com Carlos Nascimento, Joelmir Beting, Ricardo Boechat e Mariana Ferrão, a partir de segunda (15), às 20h
 

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