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21/03/2004 - 04h38

Record liga campanha da Globo a interesse por empréstimo

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Dennis Munhoz, presidente da Record, vincula a campanha da Globo à intenção da emissora de obter empréstimo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

A Record, comandada pela Igreja Universal do Reino de Deus, abandonou em 20 de fevereiro a Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), da qual a Globo faz parte. E declarou "guerra" contra a concorrente. Leia trechos da entrevista de Munhoz à Folha.

Folha - O site Arca Universal, ligado à Igreja Universal, publicou reportagens, com tom opinativo, contrárias à Globo e à possibilidade de a emissora receber dinheiro do BNDES para pagar dívidas. A saída da Record da Abert, também por essa razão, teve conseqüência?
Dennis Munhoz -
Procuramos o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e dissemos que não concordávamos com o dinheiro do BNDES para pagamento de dívida, e sim para investimento. Ele, quando tomou ciência dessa falta de unanimidade entre as redes, mostrou espanto, porque pensou que a coisa estivesse decidida. Sugeriu-nos que procurássemos o presidente do BNDES (Carlos Lessa). Estivemos com Lessa no Rio e entregamos documento manifestando a nossa discordância. Ele admitiu que o tema tomou uma proporção maior, que deveria se tornar discussão pública, quem sabe no Congresso, porque essa falta de unanimidade era preocupante.

Folha - O sr. já viu a campanha institucional da Globo?
Munhoz -
Gostaria de deixar claro que não temos nada contra a Globo, mas filosoficamente somos contra o empréstimo de dinheiro público para pagar dívida de empresa privada. É que hoje, claro, todo mundo sabe que grande parte desse dinheiro é para pagar dívida da Globo. Como foi criada essa dívida da Globo? Qual é o motivo de essa dívida crescer de uma forma astronômica? Foram com atitudes monopolistas. A Globo comprava todos os eventos, pagava duas, dez vezes o valor do mercado, muitas vezes até para não exibir. Mas só para impedir que os outros exibissem. Não é justo que a sociedade pague por uma atitude monopolística.

O exemplo mais gritante é a Copa do Mundo. Até 1998, todas as redes pagavam reunidas US$ 10 milhões pela Copa. Isso, dividido por cinco, dava em média US$ 2 milhões para cada uma. O público tinha opção de assistir pela emissora que quisesse, a emissora negociava comercialmente o evento e tinha até lucro. Mas a Globo procurou a empresa detentora dos direitos de 2002 e 2006 e ofereceu US$ 240 milhões. É lógico que é impossível isso dar lucro.

Quem assume esse risco tem que pagar a conta. Você assume o risco de contratar um profissional por dez vezes o que ele vale no mercado, comprar o evento para deixar na prateleira e o outro não usar. É uma competição desleal com as outras emissoras.

Folha - Então o sr. vê relação dessa campanha institucional com o empréstimo do BNDES?
Munhoz -
Estão tentando confundir a opinião pública, e isso é perigoso. A coisa tem que ser clara. Se forem emprestar o dinheiro para a Globo, OK, a opinião pública tem que estar informada sobre isso. Não pode é tentar jogar areia nos olhos de todo mundo.

Folha - A campanha para se posicionar como defensora de conteúdo nacional e empresa cidadã funciona como argumento para angariar empréstimo do BNDES?
Munhoz -
Então, em nome de produção de conteúdo nacional, você vai ter uma benesse? Eles estão tentando jogar para a opinião pública que a Globo é essencial, que não pode quebrar, que não pode acontecer nada com ela. Por que a Tupi acabou, a Excelsior, a Manchete? Por que o BNDES nunca emprestou dinheiro para a mídia, e, coincidentemente, agora que a Globo está nessa situação difícil, surge essa linha de crédito? São perguntas que o BNDES não responde, que a Globo não responde.

A Tupi, quando quebrou, era mais forte do que a Globo. Tem gente que trabalhou na Manchete e até hoje não recebeu a rescisão do contrato. Como é que foi a preocupação do governo com esses trabalhadores? E agora, com a Globo, o tratamento tem que ser diferente? O assunto está sendo tratado de forma velada.

Folha - O sr., então, não acha que seja uma coincidência que essa campanha institucional esteja ocorrendo nesse momento?
Munhoz -
Não, lógico que não. É lógico que ela está tentando fazer com que a opinião pública se sensibilize. Está lutando com as armas que tem, fazendo o que é certo para ela. Está tentando marcar a questão da geração de conteúdo. Mas isso não é exclusividade dela. Há várias emissoras produzindo, que até gostariam de produzir mais. Mas quando a gente tenta fazer uma novela própria, vamos procurar os autores, eles estão na Globo, sem trabalhar, mas não podem trabalhar com você. A Globo pega cem artistas, utiliza dez. Os outros 90 não está utilizando. Claro, paga os salários, mas está impedindo que essas pessoas trabalhem em outras emissoras. E a gente só não tem mais conteúdo nacional porque falta autor, roteirista, artista.

Folha - E para o poder público? Essa campanha da Globo é eficiente?
Munhoz -
Não acredito. A Globo tem um passado. Acho preocupante que o congressista participe dessas campanhas, porque vai contra a opinião pública. Eles foram eleitos pelo Brasil inteiro. Devem dar satisfação a todo o povo brasileiro, e não a uma empresa.
 

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