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22/03/2004 - 06h44

"Paixão" transforma cinemas em igreja

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

As luzes haviam acabado de se acender quando um homem se levantou de sua poltrona, no alto da sala de cinema de um shopping, e gritou: "Pessoal, é impossível sair daqui indiferente. Marquem o dia de hoje e mudem suas vidas. Esse Jesus morreu por nós. Pensem nisso e vão com Deus".

Após essas palavras, funcionários do shopping Jardim Sul, em São Paulo, tiveram de pedir para que os 200 fiéis da Igreja Batista da Liberdade deixassem o cinema, reservado por eles para uma sessão de "A Paixão de Cristo".

Atordoados com o longa de Mel Gibson, muitos permaneceram sentados por alguns minutos, ainda chorando, ou formaram rodinhas para comentar as cenas e o que o pastor Eli Fernandes acabara de gritar das últimas fileiras.

A sessão, na noite de sábado, foi só uma das várias que irão acontecer enquanto a polêmica produção estiver em cartaz. A exemplo do que ocorreu nos EUA, igrejas evangélicas brasileiras estão reservando salas para que os fiéis assistam ao filme e debatam com os líderes logo após a exibição.

A de sábado foi organizada por jovens da Igreja Batista da Liberdade em uma semana. Fora o boca a boca, fiéis souberam da sessão exclusiva por telefone e uma corrente de e-mails. Os ingressos foram comprados com antecedência e revendidos na igreja.

O pastor Fernandes já havia falado sobre "A Paixão de Cristo" no culto do domingo anterior. No sábado, minutos antes do início do longa-metragem, ele fez uma breve pregação em frente à tela do cinema: "O filme é muito forte. Espero que nos ajude a entender que o sacrifício de Jesus foi enorme por mim, por você, por todos nós. Quando terminar a sessão, haverá 50 pessoas preparadas para debater e orar com vocês. Bom filme e fiquem com Deus".

A maioria dos espectadores se conhecia e o clima era de descontração quando as luzes se apagaram. Alguns jovens faziam piadas e riam. Logo na primeira cena, quando Jesus mata uma cobra enviada pelo diabo (simbolizando que resistia à tentação), alguns comemoraram dizendo "amém".

Mas a atmosfera mudou completamente em seguida, quando Jesus é capturado e se inicia sua interminável tortura. Nas primeiras chibatadas, o estudante Diego Amâncio Dias, 21, colocou as mãos sobre o rosto e começou a chorar compulsivamente. Teve de ser amparado por uma moça que estava sentada ao seu lado. Só se acalmou e voltou a olhar para a tela quando os chicotes pararam.

Ele disse que só conseguiu ver o filme até o final porque começou a "conversar com Deus". "Ele confortou meu coração para que eu pudesse continuar."

Já a pedagoga e atriz Leila Dias Santos, 28, não agüentou. Saiu da sala com pressa quando Jesus começou a apanhar. Estava passando mal, com as pernas trêmulas e falava com dificuldade.

"Eu não imaginava que ia ser assim tão forte. Infelizmente não dá para agüentar. Esse filme vai ser muito bom para as pessoas pararem para pensar", disse.

Anti-semita

Vários fiéis choraram durante todo o filme. Na crucificação, muitos taparam os olhos para não ver as mãos e os pés de Jesus sendo furados pelos pregos.

Emocionados, os evangélicos comentavam passagens da Bíblia enquanto saíam do cinema e falavam sobre a controvérsia envolvendo os judeus. "O filme não é anti-semita. Mostra Jesus se entregando ao matadouro. O judeu só se sentirá ofendido se não conhecer o Evangelho", disse o jornalista Fábio Siqueira, 23.

O estudante Dias, que permanecera parte do filme em prantos, fez silêncio quando questionado sobre essa polêmica. Mas à pergunta "Você ficou com raiva dos judeus durante o filme", ele respondeu: "Muita".

O pastor Fernandes disse que foi "muito importante" ter reunido os freqüentadores da igreja para ver "Paixão" e que pretende organizar outras sessões fechadas.

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