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26/03/2004 - 07h02

Reestréia e caixa de DVDs marcam 40 anos da Pantera Cor-de-Rosa

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PEDRO BUTCHER
Crítico da Folha de S.Paulo

O Oscar especial entregue há um mês para Blake Edwards, 82, e a reestréia nos cinemas hoje, em cópia nova, de "Um Tiro no Escuro" fazem parte de uma mesma estratégia promocional, envolvendo o lançamento de uma caixa de DVDs com os filmes da Pantera Cor-de-Rosa e um disco extra, com quatro documentários e outros agrados especiais para os fãs da série (incluindo vários desenhos animados da Pantera).

É uma ação cada vez mais comum em Hollywood, fruto da lucrativa aliança entre memória e comércio, estimulada pelo crescimento do mercado dos discos digitais. A necessidade de voltar com pelo menos um desses filmes à tela grande faz todo sentido na medida em que o humor da série "A Pantera Cor-de-Rosa", sob certos aspectos, envelheceu bastante. Ela precisa ser apresentada às novas gerações com uma nova embalagem (a categoria "cult") e, para tanto, a experiência coletiva do cinema em que riso puxa riso é absolutamente fundamental.

Mas como vai reagir o público de hoje? A resposta é imprevisível. Hollywood não abandonou o humor físico, é verdade, mas este tomou contornos bem diversos com a emergência de Jim Carrey e dos irmãos Farrelly ("Quem Vai Ficar com Mary?"). A comicidade da Pantera é de outra ordem, talvez muito mais ingênua, algo que só acrescenta charme, mas a mantém como fenômeno do passado.

"Um Tiro no Escuro" (64), o filme eleito para voltar à tela grande, é o segundo entre sete, quase todos muito bem-sucedidos na bilheteria. Para alguns, é mesmo o melhor. Mas é difícil avaliar. Ele é pelo menos tão bom quanto o originário "A Pantera Cor-de-Rosa" (63), que estabeleceu os princípios cômicos do desastrado inspetor de polícia Jacques Clouseau. De qualquer maneira, é certo que a qualidade da série vai descendo a ladeira até se desfazer na lama com o oportunista "A Trilha da Pantera Cor-de-Rosa", de 1983, uma compilação de cenas de produções anteriores feita depois da morte do protagonista Peter Sellers (em 1980, aos 55 anos, de ataque do coração).

Por pouco, aliás, Clouseau não ganhou outro rosto. Sellers só entrou no filme quando o ator originalmente escalado, Peter Ustinov (tão craque quanto, mas certamente não tão adequado), desistiu.

Em "A Pantera Cor-de-Rosa", o inspetor quer prender um famoso ladrão de jóias de identidade desconhecida. Imagina que seu próximo ataque será o roubo do diamante que dá título ao filme. O ladrão (David Niven, para variar, ótimo) está o tempo todo sob o seu nariz, mas Clouseau evidentemente não percebe nada.

"Um Tiro no Escuro" vai mais fundo na combinação de "slapstick comedy" e "vaudeville". Clouseau investiga uma série de assassinatos no casarão de um milionário, mas termina se apaixonando pela principal suspeita, a empregada (Elke Sommer).

O sucesso da série da Pantera Cor-de-Rosa é fruto da combinação feliz de três talentos: o "timing" do diretor Blake Edwards, que faz comédia pelo difícil caminho dos planos longos, a música de Henry Mancini e a coragem de Peter Sellers, um ator cômico sem medo do ridículo.

Sellers, como todo talento cômico perdido na lógica perversa do prestígio hollywoodiano, só encontrou reconhecimento de fato ao fazer um drama, "Muito Além do Jardim" (Hal Ashby, 1979). Mas seu gênio aparece por completo, de verdade, na série da Pantera Cor-de-Rosa, no sensacional "Um Convidado Bem Trapalhão" (68, também em dobradinha com Edwards) e, é claro, em "Doutor Fantástico", de Stanley Kubrick, "tour de force" em que ele se divide em três papéis diferentes.

Um Tiro no Escuro A Shot in the Dark
Avaliação:
Direção: Blake Edwards
Produção: EUA, 1964
Com: Peter Sellers, Elke Sommer
Quando: a partir de hoje no Top Cine
 

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