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01/04/2004 - 19h47

Paulo José "vence" Parkinson e Cleo Pires estréia no cinema

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MARCELO BARTOLOMEI
Editor de entretenimento da Folha Online

Para filmar "Benjamim", baseado no livro homônimo de Chico Buarque, a cineasta Monique Gardenberg, 45, enfrentou dois desafios: a inexperiência da atriz Cleo Pires, 21, filha de Glória Pires e Fábio Jr., e a experiência de Paulo José, 67, cuja carreira tem sido afetada pelo mal de Parkinson.

O filme estréia nesta sexta-feira, dia 2, em 25 salas de cinema do país.

A barreira para fazer o filme, segundo Monique, veio do próprio ator: ele teria alegado que sua idade não seria a do personagem e que a doença, talvez, não o deixaria conseguir terminar o trabalho. "Eu disse a ele que meu set é muito tranquilo, que sou uma diretora que não gosta de estresse e que eu teria cuidado com ele, que estava disposta a correr este risco com ele e o apoiar. Ele topou", afirmou a cineasta.

No filme, ninguém percebe a doença, o que ele próprio atribui à concentração. Segundo ela, "Benjamim" prova ao próprio Paulo José que ainda não é hora de ele parar de atuar. Nesta semana, ele estréia em São Paulo a peça "O Inspetor Geral", como diretor.

Já Cleo Pires não teve medo graças à atenção dada pela diretora. Ela, que nunca tinha feito nada no cinema e, tradicionalmente, não passava em sequer um teste para comerciais de TV, conquistou a cineasta em todas as cenas em que participou durante a filmagem, que aconteceu em 2002.

Divulgação
Paulo José e Cleo Pires em cena de "Benjamim"; veja fotos do filme
Leia a seguir trechos da entrevista:

Folha Online - Como justificar o elenco do filme, que tem Paulo José para roubar a cena e Cleo Pires como estreante?

Monique -
O Paulo é o Benjamim, não daria para ter sido outro [reforçando a idéia de que o ator é o personagem]. Ele resistiu muito no início. Eu achava que o Benjamim fosse um personagem muito complexo porque ele é todo ambíguo. Ele tem a alegria e a leveza da vida, mas é corroído pela culpa. Ele tem uma certa juventude no jeito de ser, até meio perplexo em relação às coisas, meio ingênuo, mas, por outro lado, tem uma melancolia como pano de fundo o tempo todo. Todas estas matizes eram importantíssimas que ficassem muito claras. Ele é patético, mas é adorável. Ele é parado no tempo, mas, por outro lado, é um sujeito que tem consciência da dureza em que ele ficou isolado depois do que viveu nos anos 60.

Nós filmamos em março de 2002. Ele tem ainda o mal de Parkinson. Ele me deu dois motivos. Primeiro, a idade, dizendo que ele estava velho para fazer o Benjamim. Eu dizia para ele: Paulo, se você não quiser eu vou chamar o Walmor Chagas. Daí ele me disse: "Monique, você sabe que eu tenho Parkinson e eu não sei se vou conseguir". Eu disse a ele que meu set é muito tranquilo, que sou uma diretora que não gosta de estresse e que eu teria cuidado com ele, que estava disposta a correr este risco com ele e o apoiar. Ele topou.

É tão bonito hoje em dia porque ele diz que o Benjamim é um júbilo porque prova que ele pode continuar trabalhando. Um amigo me ligou depois que ele assistiu ao filme e disse que o Paulo fica lindo na tela, fica menino, fica grande... Em momento algum eu precisei parar de filmar. Ele fala que o fato de ele ter se concentrado muito para conseguir filmar fez com que tudo ficasse muito intenso.

Já a Cleo foi uma fixação. Eu via ela pelo Rio, em vários lugares, num show do Djavan, num aniversário em que na mesa estavam a Glorinha [Pires], o Orlando [Moraes] e a Cleo. Depois vi a Cleo num shopping, toda grunge. Quando eu comecei a escrever o roteiro eu vi um anúncio que tinha a família toda dela.

Eu tinha essa fixação na Cleo. Eu fiz cinema porque eu tenho uma esquizofrenia de observar o que está meio oculto, como a pessoa se mexe, como cruza as pernas, como fuma, se ela balança o corpo ou não, se olha muito para alguém... Sou que nem o Benjamim no livro, pois no filme não deu para colocar este aspecto dele. Percebo as coisas e, a partir disso, começo a imaginar. Ela é uma menina, mas que tem um mistério de mulher, uma malícia, uma sensualidade muita espontânea, sem ter noção do quanto. Tinha o fato de ela ser para todo mundo uma aparição, não só para o Benjamim, algo de um frescor enorme.

Fiz o convite para ela no banheiro da festa da Preta Gil, quando ela pediu para passar na minha frente. Fiz o convite ali mesmo e ela me disse que nunca tinha feito nada, nem passado em nada, mas que topava tudo. Quando acabou o roteiro, alguns meses depois, a Paula Lavigne, que foi quem produziu o filme, ligou para a Glorinha para falar sobre o filme... a Cleo ia fazer 18 anos, o filme tinha um monte de cenas pesadas e ela topou fazer.

Eu vi que a coisa de ela não passar em teste, nem em comercial, é porque ela ficava muito nervosa.

Folha Online - Você não achou muito arriscado colocar uma pessoa sem o mínimo de preparo...

Monique -
Foi um risco calculado. Não sou louca de botar num papel que é a protagonista total. Ela filmou 51 dias dos 52 do filme. A única cena em que ela não está é a que o Danton [Mello, que vive Benjamim jovem] imita o Elvis Presley. Eu comecei dizendo que não iria testá-la, mas, na verdade, eu já estava testando. Ela ia para a Dueto [Filme, produtora do filme] todo dia, a gente trabalhava umas três horas por dia, eu não queria assustá-la. Nessas horas eu tinha uma câmera de vídeo nas mãos e eu já a via na tela. Começou escrevendo a carta para o Jeovan [Guilherme Leme], depois falando ao telefone com o Benjamim, depois com a recepcionista. Depois eu trouxe o Ernesto Pícolo [o Zorza do filme] para fazer um pouquinho com ela. Depois de oito dias eu fiz uma das cenas mais fortes do filme. Eu estava deitada como se fosse o Guilherme [Leme], com a câmera no rosto, ela entrou no banheiro, se concentrou, veio em minha direção e, quando acabou, eu estava emocionada.

Eu estava achando uma absurdo o que ela imprimia no vídeo e o que ela tinha noção do que estava fazendo, de onde estava a câmera, de fazer pequenininho porque é cinema, com uma naturalidade absurda. Quando ela fez aquela cena eu vi que o papel era dela mesmo. Ela teve quase uma semana sem ela saber. Se ela não desse certo eu iria dizer. Mas ela fez a cena mais difícil, com a carga dramática incrível, e eu deitada, sem nenhum clima, nenhum tipo de atmosfera, dentro da minha sala.

Ela é um talento nato. Como ela é menina, está com 21 anos, ela dizia: "Não quero pagar mico". E numa dessas, ela fazia tudo o mínimo, e é isso que a gente precisa para o cinema.

Folha Online - A trilha também chama a atenção no filme...

Monique -
Ela cumpre um papel muito importante porque me ajuda a criar um clima de nostalgia não só na tela, mas para a platéia, porque isso é contagiante. A direção musical é minha e o Arnaldo Antunes e o Chico Neves fizeram o tema "Benjamim". Ele fez uma nova versão de "Alegria". Vai sair pela EMI ainda em abril. Tem desde Chat Baker, Eumir Deodato, Astor Piazzola, é bem variado. Está um CD lindo. Tem "Gotan Project", tem de tudo. Do moderno até as músicas do início dos anos 70.

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