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05/04/2004 - 09h44

Depois do CD de Bossa Nova, Jair Rodrigues quer cantar Marcelo D2

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MARCELO BARTOLOMEI
Editor de entretenimento da Folha Online

Dois anos depois de lançar seu último álbum, o cantor Jair Rodrigues, 65, traz no novo CD, "A Nova Bossa de Jair Rodrigues", gravado pela Trama, uma seleção de Bossa Nova que relembra seus tempos de crooner no Rio de Janeiro. O intérprete, ícone da época do "Fino da Bossa", promete gravar outros dez CDs, cada um com um estilo musical, e diz que quer gravar uma música de Marcelo D2.

No novo CD, algumas músicas não são de Bossa Nova, mas sim clássicos da vida inteira, como ele próprio define. Entre elas, "Saudosa Maloca" (1951), num ritmo mais lento, em que o cantor relembra uma conversa que teve com Adoniran Barbosa (1910-1982). "Me lembrei de uma conversa com o adoniran num bar perto da TV Record. Ele me disse: 'gostaria que você gravasse assim como você canta, romântico'", disse. "O Adoniran Barbosa deve estar dando pulos de alegrias onde ele estiver."

Paulista de Igarapava, Rodrigues afirma que relembra também, com este CD, a época em que cantava na noite. "Quando eu gravei 'Deixa Isso Pra Lá' falaram que eu era carioca, porque a música é estilo carioca. Eu disse: 'sou paulista e vim invadir a praia de vocês".

Leia trechos da entrevista, em que fala dos 42 anos de carreira, das lembranças que tem e da importância da televisão para levantar o mercado fonográfico. Segundo ele, a diretora Marlene Mattos teria planos para um programa na Band:

Folha Online - Como surgiu o projeto do seu novo CD, "A Nova Bossa"?

Jair Rodrigues -
Ele não é um disco de carreira. É um disco de projetos, o primeiro de dez que eu vou fazer pela Trama. O João Marcelo Bôscoli me incentivou a começar isso tudo pela Bossa Nova. Quando a Bossa saiu, eu era crooner. Eu sempre gostei de cantar do meu jeito, com muito ritmo. A Bossa foi criada para exportação. Quem abraçou mais o ritmo foi o americano.

Folha Online - Mas essa nunca foi sua praia...

Rodrigues -
Nunca... mas eu sempre cantava algumas músicas, mas no meu ritmo. Agora eu fiquei com vontade de cantar músicas que viraram clássicos.

Folha Online - Quais são os outros projetos que você vai gravar na Trama e seus prazos?

Rodrigues -
Acredito que até setembro ou outubro isso vai estar tudo gravado. Esse primeiro deu um pouco mais de trabalho, pois eu nunca havia cantado Bossa Nova profissionalmente, mas sim na noite. Os outros são de ritmos que eu canto tradicionalmente, vão do forró ao rancho, aquelas marchas carnavalescas que ninguém se lembra mais. Quero cantar aqueles sambas de Carnaval, de Monsueto, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa e Ataufo Alves, além dos sambas-de-enredo. Vamos lembrar que, quando eu era crooner, cantava também boleros e tangos. O João Marcelo [Bôscoli, presidente da gravadora] me disse que como ficou muita coisa para trás, a gente pode fazer um volume 2 de Bossa Nova. Farei também um disco de carreira, para gravar só músicas inéditas.

Folha Online - De onde virão estas músicas inéditas? O senhor recebe muito material de novos compositores?

Rodrigues -
Tenho esta felicidade de guardar músicas que recebo. Quando passo um pedido a um compositor, ele me manda duas ou três. Eu tenho músicas inéditas do Martinho da Vila, da Dona Ivone Lara, do Evaldo Gouvêia, do Dominguinhos, mas quero misturar com os da nova geração. O Jairzinho vai cuidar disso para mim, pois ele tem mais acesso a este pessoal. Ele, inclusive, já escreveu algumas coisas para mim. Pedi ao Jorge Vercilo, que eu gosto muito, ao Seu Jorge, ao Otto, ao Marcelo D2...

Folha Online - O senhor tem vontade de gravar Marcelo D2?

Rodrigues -
Sim, muita... Esta música "Qual é" é muito boa. Gosto deste estilo. Pedi também ao Rappin Hood, quero coisas do Lenine, do Dudu Nobre. Tem muita gente boa.

Folha Online - Analisando sua carreira desde o início, do que o senhor sente mais falta ou saudade?

Rodrigues -
Tenho uma grande saudade, sinceramente, de momentos inesquecíveis como o "Fino da Bossa", que era um programa. Jamais vai sair da minha memória. Foi uma coisa que está na história. Outro momento muito grande foi aquele dos festivais. Já está na hora de voltarem a acontecer os festivais. A gente encontra muita matéria-prima. Isso provocaria a aparição de novos valores e daria um espaço aos novos artistas. Eu gostaria muito de apresentar um programa musical na televisão, algo do tipo "democracia geral", abordando todos os temas e segmentos da música.

Folha Online - Já há algum plano ou negociação para ter um programa na TV?

Rodrigues -
O João Marcelo e o André Szajman levaram vários projetos à Band, entre eles um para que eu apresentasse um programa musical. Eles falaram com a Marlene Mattos e ela disse que queria uma reunião para conversar sobre o assunto. Eles me deram esta feliz notícia. Se isso se concretizar, vou ficar muito contente.

Folha Online - Como o senhor encara o mercado fonográfico atual?

Rodrigues -
Tem uma parte boa e outra, ruim. Eu tive a felicidade de receber um convite para fazer parte de um corpo de jurados do Prêmio TIM de Música. Fiquei tão feliz porque pensei que só haveria artistas consagrados ou muita porcariada. Mas tem muita coisa boa. Que pena que este pessoal fica sem mostrar o trabalho porque já não aparecem mais os bons musicais na televisão. Tomara que de agora para frente isso mude. Os grupos de pagode, quando foram peneirados, ficaram só os bons, que eram poucos. Deveria ser o contrário. Agora já estão surgindo novos valores e o que eles precisavam era mostrar nos espaços da televisão e do rádio.

Folha Online - A televisão é essencial para destacar a música brasileira? Como fazer música de qualidade?

Rodrigues -
Quando é de boa qualidade, a televisão ajuda, sim. Sinto pelos meus dois filhos, o Jairzinho e a Luciana... Acho que eles devem se preocupar sempre em fazer música de qualidade, porém um pouco menos sofisticada. Se eles têm condições de fazer música de qualidade, não pode ser tão elitizada. Tem que agradar a gregos e troianos sem cair no ridículo de fazer algo brega.

Folha Online - Isso é uma crítica aos seus próprios filhos?

Rodrigues -
Com certeza, não só aos filhos, mas a todos. Quanto à televisão, é preciso não cair no ridículo. Tem quadros de coisas boas, cantando, fazendo o que eles sabem fazer.

Folha Online - Já que estamos falando de televisão, algo que foi muito importante na sua carreira, o que o senhor assiste hoje em dia?

Rodrigues -
Eu sempre digo: "Bem-aventurado o controle remoto". Se não me agrada, eu mudo logo. Eu sou noveleiro de carteirinha. Está um pouco difícil de ver novela ultimamente porque elas caíram na mesmice. Às vezes vejo uns filmes nos canais pagos, senão alugo cinco, seis ou dez filmes. Para achar um programa ruim é preciso ver. Às vezes o que é ruim para mim, é bom para o outro. Não existe este negócio de "não vi e não gostei".

Folha Online - Tanta história para contar nos 42 anos de sua carreira um dia virarão um livro?

Rodrigues -
Muita gente, muitos amigos dos meus tempos já me disseram que o dia em que eu quiser escrever um livro eles fariam, gravando tudo antes e depois transcrevendo. Eu quero esperar mais um pouco. Boto no papel tudo o que acontece de bom comigo, as pessoas que foram presentes na minha carreira e na minha vida, para não esquecer nome nenhum. É tão chato quando você fala de muitas pessoas e se esquece de outras. Às vezes, alguns críticos e escritores falam sobre coisas do passado e nem me consultam. Eu não quero cometer este erro, então vou registrando não só na mente como no papel.

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