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03/04/2004 - 08h15

Obras decifram cinema de Eduardo Coutinho

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JOSÉ GERALDO COUTO
Colunista da Folha de S.Paulo

Eduardo Coutinho, 70, é hoje sinônimo de maestria no documentário. Mas sua vocação de documentarista surgiu tarde (depois dos 40 anos de idade) e foi se depurando ao longo das duas últimas décadas até produzir obras-primas como "Santo Forte" e "Edifício Master".

Dois novos livros, que terão lançamento hoje, em São Paulo, dentro do festival É Tudo Verdade, procuram dar conta da gênese e do desenvolvimento desse cinema tão singular e influente.

"Eduardo Coutinho - O Homem que Caiu na Real", do crítico e jornalista Carlos Alberto Mattos, é mais abrangente e sistemático, incluindo a fase ficcional da obra do diretor e contextualizando cada um de seus filmes.

Esse viés "enciclopédico" tem a ver com a origem do livro, editado como uma espécie de catálogo vitaminado da mostra dedicada a Coutinho em 2003 pelo Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira (Portugal).

Completando o levantamento histórico-crítico da produção do cineasta, o volume traz uma extensa entrevista sua a Mattos, que é autor também de um excelente livro sobre Walter Lima Jr..

Já "O Documentário de Eduardo Coutinho", de Consuelo Lins, é um mergulho em profundidade no método e na linguagem do cineasta. A autora, que se doutorou em cinema em Paris, é cineasta e colaborou ativamente com Coutinho em filmes como "Babilônia 2000" e "Edifício Master". A idéia deste último, aliás, partiu dela.

A análise, embasada na convivência criativa com o diretor e num quadro de referências teóricas que vai de Bakhtin a Deleuze e Foucault, concentra-se na produção que fez de Coutinho uma referência incontornável do documentário contemporâneo.

Um capítulo prévio, porém, trata do aprendizado crucial do cineasta nos primeiros e férteis tempos do "Globo Repórter". Aliás, esse é um dos muitos paradoxos de sua carreira: aprendeu na TV a fazer os documentários mais antitelevisivos do mundo.

Os dois livros, na verdade, se complementam. Seria incorreto dizer que um traz uma visão "de dentro" (Lins), e o outro, "de fora" (Mattos), pois há em ambos uma saudável dialética entre crítica e adesão à cinematografia abordada. Ambos dão a devida atenção ao clássico "Cabra Marcado para Morrer" (84) como ponto de inflexão da obra de Coutinho, mas Lins detecta no média "Theodorico, Imperador do Sertão", feito em 78 para o "Globo Repórter", o momento crucial em que o cineasta percebeu que o documentário é a arte do encontro (ou confronto, ou negociação) entre o desejo de quem filma e o de quem é filmado.

Theodorico Bezerra, então ex-deputado federal e grande senhor de terras no Rio Grande do Norte, é quem conduz o documentário, exaltando suas próprias proezas, entrevistando seus empregados, mostrando seu patrimônio. Com sua verve e seu narcisismo, acaba revelando mais sobre o autoritário e retrógrado coronelismo brasileiro do que qualquer documentário "engajado" conseguiria.
Desde então, Coutinho sabe que o que se registra num documentário não é um real preexistente, mas um processo colocado em marcha quando a equipe de filmagem instala seu equipamento diante de uma paisagem humana qualquer: uma favela, um lixão, uma fazenda, um prédio de apartamentos.

Outra conquista de Coutinho foi a de filmar as pessoas como indivíduos, não como tipos sociais. "Trabalhar sem 'parti pris' sobre algo que eu não conheço", diz o diretor a certa altura a Carlos Alberto Mattos.

É esse cinema generoso e sem concessões, aberto ao movimento incessante do mundo, que esses dois belos livros nos ajudam a conhecer e entender.

Avaliação:

O Documentário de Eduardo Coutinho
Autora: Consuelo Lins
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 36 (205 págs.)

Avaliação:

Eduardo Coutinho - O Homem que Caiu na Real
Autor: Carlos Alberto Mattos
Editora: Festival de Cinema de Santa Maria da Feira
Quanto: R$ 40 (120 págs.)
Quando: lançamento dos dois livros hoje, às 19h, no Espaço É Tudo Verdade (r. Augusta, 2.690, 3º andar, SP)
 

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