Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
07/04/2004 - 08h41

Desenhistas brasileiros assumem títulos de HQs dos EUA

Publicidade

DIEGO ASSIS
da Folha de S.Paulo

Ao lado de Hollywood, do rock'n'roll e da fast food, poucas coisas talvez sejam tão americanas quanto os encapuzados super-heróis das revistas em quadrinhos. Na virada do século 21, entretanto, eles estão ganhando contornos verde-e-amarelos.

Impulsionados por uma primeira onda de desenhistas que foram tentar a sorte no competitivo mercado dos "comic books" americanos, na década de 90, dezenas de artistas nacionais emprestam o seu talento, hoje, para as principais editoras norte-americanas, como a Marvel e a DC.

É o caso do jovem Ivan Reis. Depois de uma rápida passagem por editoras menores, como a Crossgen e a Dark Horse, esse paulista de 27 anos conseguiu um feito heróico para muitos desenhistas de sua idade: ser o artista regular da revista "Action Comics", o mais antigo título da editora DC ainda em circulação e berço de ninguém menos que o Super-Homem.

"Logo, logo, o estilo americano de fazer quadrinhos vai ficar bem brasileiro", aponta o desenhista de São Bernardo do Campo, que começou desenhando nos estúdios Mauricio de Sousa e, aos 19, já publicava em revistas dos EUA.

Arte-finalizando o novo trabalho de Reis, na revista do Super-Homem, está Marcelo Campos, 38, um dos primeiros brasileiros a trabalhar para o mercado de super-heróis americanos. Começou em 1988, na hoje extinta Malibu Press, e já encarou a responsabilidade de ilustrar títulos como "Liga da Justiça" e "Lanterna Verde".

"Quando comecei, havia comentários do tipo 'artistas brasileiros não têm qualidade'. Então entramos no mercado norte-americano e, como sempre, com o aval gringo, começaram a prestar atenção na gente", lembra Campos. "Eu vivia sobre aquela sombra que meu agente nunca me deixava esquecer: 'Cara, você é o primeiro! Se você falhar em prazo ou em qualidade, vai fechar as portas dos que estão vindo atrás de você'. Resultado: tive um problema ferrado de saúde e fiquei de cama por uns seis meses."

Da mesma geração de Campos, Deodato Taumaturgo Borges Filho, mais conhecido como Mike Deodato Jr., 40, também está em franca ascensão. Depois de ralar em editoras independentes, o paraibano está fazendo o seu pé-de-meia na Marvel e, no ano passado, assinou um contrato de três anos com a Marvel Comics. Desenha atualmente as histórias do "Incrível Hulk" e, em junho próximo, será "promovido" para "Amazing Spider-Man", um dos mais cobiçados títulos da editora.

"Não é nada de mais, somente mais um passo para minha conquista do mundo!", diverte-se. "Sério: é a primeira vez que me entregam um título que está entre os dez mais vendidos, e considero isso como um reconhecimento à qualidade e ao profissionalismo do meu trabalho", corrige.

Agenciado pelo americano David Campitt, Deodato leva consigo o arte-finalista Joe Pimentel, também conhecido em Carpina (PE) como João Pimentel.

Os apelidos engraçados vêm da década passada, quando os gringos ainda não estavam acostumados a ver latino-americanos desenhando seus heróis preferidos. "Naquela época, o mercado americano tinha um pouco de 'fobia' do Terceiro Mundo", conta Joe (digo: João) Prado, desenhista e diretor internacional da Art & Comics, agência que faz a ponte entre os artistas brasileiros e as editoras americanas.

Por intermédio deles, dezenas de outros brazucas --com pseudônimos nem tanto-- conseguiram espaço no universo dos heróis americanos: Ed Bennes, Ron Adrian, Rob Lea e Alex Lei revezam-se na "Birds of Prey", da DC; Greg Tocchini, que também já passou pela Crossgen, hoje prepara uma minissérie de "Thor", para a Marvel; o mineiro Will Conrad, que já fez "Buffy & Angel", pela Dark Horse, e algumas edições de "Elektra", pela Marvel, atualmente ilustra a bem-cotada "Outsiders", para a rival DC; e o paulistano Renato Guedes, desenhista titular da adaptação para as HQs da série de TV "Smallville", que mostra os primeiros anos da vida do Super-Homem, prepara-se agora para assumir a adaptação do seriado da Fox "24 Horas", pela independente IDW Publishing.

"As coisas mudaram. O fato de hoje ter um cara como o Ivan fazendo o Super e o Deodato fazendo o Aranha é determinante em como o pessoal vê quadrinhos e quem faz quadrinhos: como uma coisa 'cool'. Antes era coisa para fanboy babão", conclui Campos.

Leia mais
  • Respeito a prazos é fator decisivo para desenhistas nacionais
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página