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12/04/2004 - 07h03

Lélia Abramo foi minha estrela, diz Gianfrancesco Guarnieri

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GIANFRANCESCO GUARNIERI
Especial para a Folha de S.Paulo

Pela manhã, recebi a notícia. Vanya, minha mulher, contou-me da forma mais simples, procurando abrandar o choque: Lélia Abramo morreu. Nós sempre a admiramos e respeitamos muito.

Naquele instante percebi com toda a clareza o quanto Lélia representou, representa e sempre representará para mim. O ponto de referência sólido, absolutamente confiável, apontando o rumo exato de uma vida elaborada sobre princípios inegociáveis. Considero meu encontro com Lélia Abramo um desses momentos decisivos de uma vida.

Ao retornar de uma excursão com os companheiros do Teatro de Arena, fomos assistir ao espetáculo que ficara em cartaz em São Paulo, aguardando a nossa volta. "A Mulher do Outro" era o título da peça. Embora tenha gostado do espetáculo, o que me impressionou mesmo foi a interpretação de uma atriz, em um pequeno papel, que roubava a cena.

Mais tarde, quando o diretor José Renato escolheu minha peça "Eles Não Usam Black-Tie" como a próxima encenação do Arena, fiquei contentíssimo e curioso com a sugestão dele de dar dois dos principais papéis a um grande ator --Eugênio Kusnet-- e a uma atriz ainda desconhecida do grande público --Lélia Abramo.

Qualquer dúvida que pudéssemos ter sobre o acerto na distribuição dos papéis foi reparada logo nos primeiros ensaios, tal a adequação de ambos aos personagens. Lélia foi uma Romana magistral e um dos motivos que fizeram com que a peça alcançasse o êxito que alcançou.

Sou grato a Lélia não só pela Romana que interpretou com um enorme conhecimento de vida, profundidade e amor, mas por sua postura diante da realidade, pelo seu espírito de luta, sua sede de justiça.

Juntos enfrentamos momentos críticos de nossas vidas, sem esmorecer. Lélia, batalhadora até os últimos instantes. Cheia de afeto até nos momentos de raiva e aparente ceticismo. Lélia, que sofreu perseguições por sua postura à frente do Sindicato de Atores. Lélia, que lutou junto ao movimento operário. Que presidiu assembléias da classe teatral nos momentos mais duros da repressão. Lélia, uma grande, enorme atriz que amava o teatro, a arte e as coisas mais sublimes. Às vezes carrancuda, soturna, mas esplêndida em toda sua pujança. Lélia, exemplo para as mulheres lutadoras que descobrem seu papel na sociedade. Lélia, minha estrela!

Gianfrancesco Guarnieri é ator, diretor e dramaturgo, autor, entre outras peças, de "Eles Não Usam Black Tie".

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