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29/04/2004
-
07h33
CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo
Os leitores brasileiros dos clássicos do teatro mundial vinham esperando, esperando, esperando, como os personagens que aguardam a chegada de Godot. Tal como Godot, na peça de Samuel Beckett, eles não apareciam. Há quase 30 anos as livrarias nacionais não viam a publicação sistemática de grandes textos da dramaturgia universal.
E eis que de um pequeno escritório de um prédio espremido entre duas lojas de móveis, em uma das ruas mais movimentadas de São Paulo, a Teodoro Sampaio, chegam as boas novas (o reino da Dinamarca não apodreceu).
Com menos de dois anos de vida, e só dois títulos no catálogo, a diminuta editora Peixoto Neto leva às livrarias na próxima semana, de uma tacada só, 12 volumes da coleção "Grandes Dramaturgos", que pretende publicar "o que de melhor foi escrito no gênero dramático em 25 séculos: das antigas tragédias gregas até as obras dos melhores dramaturgos contemporâneos".
A primeira dúzia de livros percorre todo o arco prometido pelo enunciado acima. Vai do "Rei Édipo", de Sófocles, com jovens 2.500 anos, até a contemporânea "É..." (1977), de Millôr Fernandes, único brasileiro do pacote.
"Classicões" como "A Mandrágora", de Maquiavel, e "Hamlet", de Shakespeare, e um grande pacote de "standards" do século 20, como "Longa Jornada Noite Adentro", de Eugene O'Neill, e "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams, dão formato à safra inicial da coleção.
Ainda que lançada por uma editora novata, "Grandes Dramaturgos" é fruto de dois anos de ensaios, dirigidos por nomes calejados do teatro brasileiro.
Coordenada pela experiente professora de teoria do teatro da USP Silvana Garcia, com consultoria das pesquisadoras Maria Thereza Vargas e Mariângela Alves de Lima, a coleção é reforçada por um time de prefaciadores e tradutores de longas coxias.
"A Mandrágora", de Maquiavel, por exemplo, é prefaciada por Gianni Ratto; "A Profissão da Sra. Warren", de Bernard Shaw, tem apresentação de Sérgio Viotti. Ilka Marinho Zanotto, Aimar Labaki, Maria Sílvia Betti, Alberto Guzik, Fátima Saadi são alguns dos demais introdutores.
Se os prefácios são quase todos inéditos, uma parte das traduções já havia chegado ao mercado, em algum lugar do passado. As versões de "Longa Jornada...", por Helena Pessoa, de "Sra. Warren", por Cláudio Mello e Souza, e de "Hamlet", por Millôr Fernandes, por exemplo, haviam saído na coleção "Teatro Vivo", da Abril Cultural, última grande coleção de teatro universal, lançada em 1976.
"Os próximos lançamentos deverão ter traduções inéditas", promete o publisher da editora, João Baptista Peixoto Neto, que já tem em "Grandes Dramaturgos" versões brasileiras assinadas por grandes tradutores de hoje, como Sérgio Flaskman (Pirandelo) e Paulo Neves (Ionesco).
Advogado da área de mercado de capitais, que se lançou no universo editorial arrastado pela "paixão pelos livros", Peixoto trabalha com a expectativa de publicar pelo menos 12 novos títulos teatrais por ano, todos no padrão atual, com capa dura, ilustrada por fotos de montagens brasileiras da peça, com prefácio e um pequeno dossiê sobre o autor.
A Peixoto Neto também deve se expandir para ciências sociais, história e literatura, áreas nas quais a editora já tem diversos títulos em preparação. Mineiro (parente de Guimarães Rosa), o editor é cauteloso em falar desses projetos futuros. "Vai que depois não consigo cumpri-los."
Dos planos que deixa anunciar, estão coleções como Teatro Hoje (com a qual estreou a editora, com o livro "W;T", de Margaret Edison) e Teatro do Mundo Inteiro. "O nicho de livros de teatro está totalmente abandonado", diz.
Silvana Garcia fala no mesmo tom. "Infelizmente as editoras não acham que teatro seja uma mercadoria vendável", diz a coordenadora da coleção, atual chefe da Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo. "É pena. Uma coleção como 'Grandes Dramaturgos' mexe com um repertório que deveria ser leitura obrigatória para todos, não só aos interessados em teatro", afirma.
Segunda-feira, os 60 mil exemplares estréiam nas livrarias com essa missão. E cai o pano.
Coleção tira clássicos teatrais das coxias
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da Folha de S.Paulo
Os leitores brasileiros dos clássicos do teatro mundial vinham esperando, esperando, esperando, como os personagens que aguardam a chegada de Godot. Tal como Godot, na peça de Samuel Beckett, eles não apareciam. Há quase 30 anos as livrarias nacionais não viam a publicação sistemática de grandes textos da dramaturgia universal.
E eis que de um pequeno escritório de um prédio espremido entre duas lojas de móveis, em uma das ruas mais movimentadas de São Paulo, a Teodoro Sampaio, chegam as boas novas (o reino da Dinamarca não apodreceu).
Com menos de dois anos de vida, e só dois títulos no catálogo, a diminuta editora Peixoto Neto leva às livrarias na próxima semana, de uma tacada só, 12 volumes da coleção "Grandes Dramaturgos", que pretende publicar "o que de melhor foi escrito no gênero dramático em 25 séculos: das antigas tragédias gregas até as obras dos melhores dramaturgos contemporâneos".
A primeira dúzia de livros percorre todo o arco prometido pelo enunciado acima. Vai do "Rei Édipo", de Sófocles, com jovens 2.500 anos, até a contemporânea "É..." (1977), de Millôr Fernandes, único brasileiro do pacote.
"Classicões" como "A Mandrágora", de Maquiavel, e "Hamlet", de Shakespeare, e um grande pacote de "standards" do século 20, como "Longa Jornada Noite Adentro", de Eugene O'Neill, e "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams, dão formato à safra inicial da coleção.
Ainda que lançada por uma editora novata, "Grandes Dramaturgos" é fruto de dois anos de ensaios, dirigidos por nomes calejados do teatro brasileiro.
Coordenada pela experiente professora de teoria do teatro da USP Silvana Garcia, com consultoria das pesquisadoras Maria Thereza Vargas e Mariângela Alves de Lima, a coleção é reforçada por um time de prefaciadores e tradutores de longas coxias.
"A Mandrágora", de Maquiavel, por exemplo, é prefaciada por Gianni Ratto; "A Profissão da Sra. Warren", de Bernard Shaw, tem apresentação de Sérgio Viotti. Ilka Marinho Zanotto, Aimar Labaki, Maria Sílvia Betti, Alberto Guzik, Fátima Saadi são alguns dos demais introdutores.
Se os prefácios são quase todos inéditos, uma parte das traduções já havia chegado ao mercado, em algum lugar do passado. As versões de "Longa Jornada...", por Helena Pessoa, de "Sra. Warren", por Cláudio Mello e Souza, e de "Hamlet", por Millôr Fernandes, por exemplo, haviam saído na coleção "Teatro Vivo", da Abril Cultural, última grande coleção de teatro universal, lançada em 1976.
"Os próximos lançamentos deverão ter traduções inéditas", promete o publisher da editora, João Baptista Peixoto Neto, que já tem em "Grandes Dramaturgos" versões brasileiras assinadas por grandes tradutores de hoje, como Sérgio Flaskman (Pirandelo) e Paulo Neves (Ionesco).
Advogado da área de mercado de capitais, que se lançou no universo editorial arrastado pela "paixão pelos livros", Peixoto trabalha com a expectativa de publicar pelo menos 12 novos títulos teatrais por ano, todos no padrão atual, com capa dura, ilustrada por fotos de montagens brasileiras da peça, com prefácio e um pequeno dossiê sobre o autor.
A Peixoto Neto também deve se expandir para ciências sociais, história e literatura, áreas nas quais a editora já tem diversos títulos em preparação. Mineiro (parente de Guimarães Rosa), o editor é cauteloso em falar desses projetos futuros. "Vai que depois não consigo cumpri-los."
Dos planos que deixa anunciar, estão coleções como Teatro Hoje (com a qual estreou a editora, com o livro "W;T", de Margaret Edison) e Teatro do Mundo Inteiro. "O nicho de livros de teatro está totalmente abandonado", diz.
Silvana Garcia fala no mesmo tom. "Infelizmente as editoras não acham que teatro seja uma mercadoria vendável", diz a coordenadora da coleção, atual chefe da Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo. "É pena. Uma coleção como 'Grandes Dramaturgos' mexe com um repertório que deveria ser leitura obrigatória para todos, não só aos interessados em teatro", afirma.
Segunda-feira, os 60 mil exemplares estréiam nas livrarias com essa missão. E cai o pano.
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